Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“EU
PREFERIA SER COMO VOCÊ SONHOU PAI”
Quem
poderia imaginar que eu estava ouvindo tudo? Numa mesa de operação, minha
consciência me fazia temer. Foi um acidente tão violento. Moto, sem capacete.
Eu me arrebentei toda. Estava tão nervosa que saí desembestada. Eu queria que
eles, também sofressem, mas não pensei que fosse atrair, com minha imprudência,
tanta dor.
Eu
soube que não era para ter sido do jeito que foi. Eu antecipei meu retorno em
quinze anos. Imagina o que eu poderia ter feito em quinze anos... Se em um ano,
a gente vive tanto né?
A
verdade é que eu precisava ser operada, eles imaginaram que eu não podia ouvir,
eu não podia juntar as palavras que ouvia e racionar, mas eu podia. Eu estava
viva e estava aflita pelo desfecho. Na real, ninguém quer morrer, nunca. Faz
parte do instinto de preservação. É da Lei! Ninguém quer e eu não queria
morrer.
Eles
tiveram que me operar e eu ouvia tudo, eu ouvi quando falaram da doação de
sangue. Eu entrei em desespero em cada situação adversa, ali imóvel, de olhos
fechados, eu pedia para viver. Eu sofri com a falta de sangue, eu sofri com a
mamãe segurando minha mão, chorando. Eu sofri quando me pediram perdão, eles se
sentiram culpados, mas eu fiz tudo errado. Eu sofri e queria me mexer e falar para
ela que eu precisava de sangue e precisava operar logo. Eu sentia a dor do meu
corpo, meu corpo desfalecendo. É estranho falar isso agora porque eles não
acreditam em nada. Eu também não acreditava em nada e me espantei com tantas
sensações quando eu me agarrava à vida. Quando eu me agarrava ao corpo que
estava entrando em falência. Eu, em desespero, lutando para viver e era à toa,
era bobagem porque eu queria viver, mas não merecia viver porque eu provoquei a
ruína do meu corpo físico e deveria sofrer com as consequências do que
ocasionei.
Eles
doaram e eu fiquei feliz porque me senti amada. NO FIM, EU PERCEBI QUE AS PESSOAS PODEM SER MUITO GENEROSAS E
DEMONSTRAM SEUS NOBRES SENTIMENTOS ATRAVÉS DA DOR. Tem quem se faz de forte
e chora escondido. Eu vi meu pai sofrendo tanto. Desculpe! Eu me arrependo.
Deus
não castiga ninguém pai.
Deus
é tão bom que dá outra oportunidade. Eu queria tanto que você acreditasse. Que
soubesse que eu só não estou melhor porque você sofre. Eu amo você pai e não te
afrontei falando da minha opção sexual, eu sou assim. Queria te agradar, mas
não deu. Por favor, pai se conscientiza que a vida é maravilhosa e eu te amo
muito. Se conscientiza pai, você precisa tomar seus remédios direito porque
isso, também é suicídio. Eu sinto muito. Eu que peço perdão para vocês, para
todos. Se eu soubesse que passaria por tudo isso, nunca teria falado. Eu
preferia ser como você sonhou pai. A ver você desse jeito, eu vejo, eu sinto
pai. Para que eu melhore, você precisa se esforçar pai. Por favor.
SILVINHA
03/06/18
----------------------Paula
Alves--------------------
“EU
NEM ERA OBSESSOR, SÓ FUI COMPANHEIRO DE COPO MESMO”
Eu
já estava jogado há tanto tempo. Nem pensei que tinha um lugar apropriado pra
gente. Morri, vi meu velório e fui embora dali. Fui vagar porque não achei que
tivesse outra alternativa.
Senti
fome, frio, sede, dor. Eu tive vontade de gritar e gritei. Eu quis morrer de
verdade para não sentir mais nada, nem angústia, nem dor. O vício gritava em
mim. Uma vontade insuportável de beber até cair. Pensei na cachaça e quando dei
por mim estava no bar do Mané. Quanta saudade! Estavam ali meus companheiros,
tudo gente boa, bebendo. Até lembraram de mim. Achei um pouco estranho porque
eles se lembravam de tudo o que eu me lembrava. Parecia até que eu estava
induzindo o pensamento deles.
Cheguei
perto, respirei fundo e sem querer, foi como se tomasse um trago. Que bom! Eu
fiquei abismado e quis mais. Naquela noite, eu bebi muito, muito e fui para casa
com o Mané. Eu encostei nele porque mal conseguia me erguer. O Mané era o dono
do bar e não bebia, coitado. Começou a sentir vontade de beber e bebeu mesmo.
Eu sei lá por que foi que eu fiz aquilo doutor. Eu só queria sentir o álcool de
novo. Não fiz por mal. O pior é que o Mané ficou viciado. O sujeito bebeu tanto
que começou a fazer bobagem no bar. O dono do bar não pode beber e ele bebia
com os caras e não cobrava mais.
A
mulher dele ficou irada, eu vi tudo porque fui morar com o Mané. Até fiquei
nervoso de ver o jeito que ela tratava o marido. Onde já se viu mulher
enfrentando o marido? Eu não sei se fiquei muito indignado naquele dia porque ele
ofendeu a mulher e levou um sopapo. Foi um quebra pau danado. Agora, depois que
o Mané perdeu tudo, perdeu a mulher e o bar, ficou viciado, demorou, mas eu vim
pra cá. E agora, fiquei sabendo que eu sou responsável, mas como assim doutor?
Eu, responsável pela queda do Mané? Não pode não. Eu sou responsável só pela
minha queda. Cada um com a sua canalhagem. Eu não posso ser responsável pelo
vício do Mané. Já fiquei sabendo que eu vou ter que ajudar porque, desta vez,
ele está arruinado. Vão trazer o Mané de volta doutor. Pode?
Ele
vai voltar mais cedo por causa de tudo isso. Já ficaram sabendo do que vai
acontecer porque, se ele não mudar, não tem jeito não. E aí é que vai complicar
pro meu lado porque eu vou ter que receber o Mané de filho. Pra ver se eu tiro
o vício dele, mas e o meu? É muita carga doutor. Eu não sei se consigo me
livrar do meu fardo e vou ter que tirar o fardo dele? Não tô vendo justiça
nisso não. Eu nem era obsessor, só fui companheiro de copo mesmo.
RICARDO
03/06/18
------------------Paula
Alves--------------------
“DEMOROU MUITO PRA ENTENDER QUE O QUE
IMPORTA NÃO É O QUE SE TEM, MAS O QUE A GENTE FAZ COM O QUE TEM”
Eu
não tenho como te dizer que não aprovo o que fiz porque seria mentira. Ainda
hoje acredito que nós temos que aproveitar as oportunidades. Seria muito tola
se deixasse passar a chance. Eu sempre fui linda. Naquela existência podia ser
pobre, mas fui bela demais. Queria ser rainha. Mais do que qualquer coisa. É
feio querer sair da pobreza, parar de esmolar?
A
ambição agora é maldade? Eu só joguei com a sedução, mais nada. Casei e virei
rainha sim. Com muito orgulho, deixei tudo para trás. Honrei o rei, honrei a
realeza e desencarnei num sofrimento terrível. Por quê? Cheguei deste lado, me
informaram que eu trapaceei. Me informaram que não era meu plano e eu tirei o
lugar de outra pessoa.
Como
assim? E o livre arbítrio?
Tudo
bem. Não teve diálogo.
Eu
tive que reencarnar e sabia que teria de enfrentar a pobreza. Mesmo não sendo
tão bela, era astuta. Vi o homem com quem deveria contrair matrimônio, mas eu
não o desejava porque era pobre. Eu me vi envolvida com um rapaz rico e muito
charmoso. Novamente consegui me casar e fui rica, feliz, enquanto encarnada.
Tive tudo o que quis e não me arrependi. Pensava no rapaz pobre, mas foram,
apenas pequenas lembranças.
Desencarnei
e novamente sofri a terrível cobrança da consciência. Era como se o rapaz pobre
me cobrasse e junto com ele, muitos Espíritos dizendo que deveríamos estar
ligados. Eu não entendia. Cheguei você lembra? Tão agoniada, revoltada e sem
direito de escolha, renasci. Agora eu tinha necessidades especiais, para ver se,
desta vez, eu persistiria no plano.
Eu
atrasei em setecentos anos um plano onde muitos estavam envolvidos. Novamente
reencarnados, eu me vi na pobreza. Em uma pequena cidade, conheci um rapaz de
nome Jeremias. Eu me senti atraída por ele. Jeremias me tratava com a maior
delicadeza e me desposou, mesmo sabendo de minha dificuldade para andar. Ele
foi tão bom e paciente que conseguiu me fazer andar com bengala. Nos mudamos e,
na cidade grande, arrumamos emprego numa casa de gente muita rica. Eu me vi envolvida
pelo patrão e pensei que pudesse ter um relacionamento com ele e mudar de vida.
Ser rica, ter facilidades, mas me lembrei
do Mestre. Me lembrei de tantos ensinamentos e, desta vez, tive vergonha
dos meus pensamentos.
Eu
me agitava, pedi para ir embora e Jeremias disse que o trabalho era muito bom.
Nós ficamos e eu me controlei, nunca me envolvi com o patrão. Orando, vigiando
os pensamentos, consegui esquecer. Ainda mais quando começamos a ter nossos
filhos. Minha irmã Odete morreu e eu precisei criar os três dela. No fim estava
com sete crianças. Percebemos uma necessidade de fazer alguma coisa pelas
crianças do local onde vivíamos, abrimos uma creche e fomos vivendo. Foi tudo
com muito trabalho, mas foi ótimo viver assim, com trabalho, sem luxo, dentro
do plano de Deus.
Hoje
estou aqui com a cabeça no lugar, agradecida e em paz porque deu tudo certo.
Demorou muito pra entender que o que importa não é o que se tem, mas o que a
gente faz com o que tem. Muito obrigada por sua ajuda.
AGUINELA
03/06/18
--------------------Paula
Alves---------------
“DE TEMPOS EM TEMPOS A GENTE SE ENCONTRA
DIZENDO QUE VAI REPARAR E REVIDA”
Eu fiz
tudo por aquela mulher. Eu a amei. Trabalhei tanto para fazer todos os gostos
da danada. Casei, de papel passado e na igreja. Eu não tinha receio de entregar
todo o dinheiro na mão da desalmada. Comprei casa e coloquei no nome dela
porque pensei que, se eu morresse, ela estaria na casinha dela. Ela só me enrolando,
nunca quis ter filho. Pra não estragar o corpo, a ruim.
Eu doido
para ver a cara do bacurizinho. Nem pensar que ela ia estragar a barriga. Nunca
entendi por que tinha que visitar a mãe todo dia. Passava na rua e o povo
debochando, dizendo palavra doutor que eu não vou nem repetir porque não pode.
Eu ainda sofro com isso. Não é questão de orgulho não. É questão de brio. Homem
tem que ter dignidade doutor. Aí cheguei mais cedo em casa. Eu ouvi uns
barulhos que fiquei desconfiado, mas era o meu primo doutor. O malacabado do
meu primo que tava em casa com ela. Passaram uma conversa e eu caí. Fui ver no
outro dia a mulher com marca, toda estranha. Falei para ela tomar cuidado comigo,
eu avisei. Fiquei na espreita e segui a marginal. Claro que ela tava me
traindo. Peguei no ato. Quis morrer. Ninguém quer ser traído. Ouvi aqui que
isso não é nada. De tempos em tempos a gente se encontra dizendo que vai
reparar e revida.
Eu
nunca que ia fazer mal pra ela. Nunca. Eles devem estar enganados. Eu queria
família doutor, só isso. Falei que matava. Eu precisava limpar meu nome. Pensei
em pegar o cabra, mas quem me devia respeito era ela. Vou falar mal de quem
apedreja?
O
senhor fala assim porque não esteve na minha pele, perdão... Eu tentei afogar a
mardita, mas não consegui. Eu olhei pra ela e senti amor. O senhor acredita
nisso? Era para eu ser um homem. Que vergonha. Olhei para ela e senti amor. Me
falaram aqui que isso já é o perdão em mim. Eu não quis saber de perdão, nem de
amor. Eu tinha é que ter amor próprio, isso sim. Arrumei minhas coisas e fui
embora. Nunca fiquei sabendo dela e nem quis mais outra nenhuma. Quando morri,
de uma verminose desgraçada, saí do corpo e voltei direto pra junto dela. Como
sofri. Eu não quero mais saber dessa mulher. Eu não quero. Parece que ela só me
faz mal.
Eu
se pudesse tirava essa mulher da minha cabeça. Já estava tão satisfeito de ter
vindo pra cá. Para não ver mais o que ela faz da vida. Agora nem depois de
velha a mulher tem vergonha na cara. Já fui informado que as coisas vão mudar.
Vamos nos encontrar na próxima como irmãos. Irmãos para ver se temos cumplicidade.
Eu não sei de nada. Eu nem entendo estas coisas direito. Voltar, virar homem e
ser meu irmão. Cada coisa. Eu não tenho escolha mesmo.
VITÓRIO
03/06/18
---------------------------------Paula Alves----------------------------------
---------------------------------Paula Alves----------------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“NÃO
IMPORTA O TEMPO QUE AS PESSOAS TÊM AO NOSSO LADO, MAS A IMPORTÂNCIA QUE DAMOS A
ESTA OPORTUNIDADE”
Tudo
o que um pai quer para a sua filha é a felicidade. Eu sonhei em ter uma família
e encontrei uma bela esposa. Uma esposa honrada e afetuosa. Quando eu soube que
ela estava grávida foi o meu maior contentamento. Pensei que Deus me amava
muito e esperei os meses passarem para abraçar o meu bebê. Nasceu Emanuely e
tive a desagradável surpresa de saber que minha esposa tinha morrido no parto.
Foi como se Deus tivesse trocado uma vida por outra. Eu mesmo não poderia
escolher. Não poderia dizer quem era mais importante para mim porque eu já
amava aquela criança.
Tive
a maior dor e a maior alegria no mesmo momento. Senti que tinha que me doar por
completo àquela criança que não tinha mãe. Sabia que Deus iria nos amparar e eu
estreitei os laços com ela. Éramos só nós dois e eu a amava, tentava fazer jus
a mãe dela que foi uma grande mulher em minha vida. Não importa o tempo que as
pessoas têm ao nosso lado, mas a importância que damos a esta oportunidade. O
tempo não diz nada. Nós vivemos um grande amor e isso é o que importa. Criei
minha filha com princípios e tentei ensinar a ser uma mulher digna como a mãe
dela, mas parece que tudo se perdeu. Conheceu um rapaz e jogou tudo fora por
ele. Desprezou tudo o que ensinei. Rapaz que não trabalha, só quer saber de
coisas ilícitas. Mesmo assim, ela não ouviu, entrou naquele carro e saiu por
aí. Carro com música gritante, cheiro de cigarro, com muitos homens. O que ele
poderia proporcionar para ela? Como ela poderia se envolver com um sujeito
destes? A menina que eu tanto amei...
As coisas
ainda pioraram porque ele fez a cabeça dela e ela foi embora. Preferiu ficar
com ele, saiu de nossa casa e se juntou com aquele marginal.
Eu morri foi de desgosto.
Não consegui encaminhar bem minha menina. Demorei para chegar aqui. Vaguei,
sofri e fui socorrido por Lindalva. Minha esposa querida que tenta me
conscientizar de que as pessoas boas devem ser espelho para aquelas que ainda
não são tão boas assim. É o joio e o trigo.
Eu tive a permissão de ver
Emanuely e me atormentei doutor. Não sei como posso continuar sabendo da situação
da menina. Ainda estava com aquele sujeito. Nem de longe se parece com minha
filha. Está tão envelhecida, desajeitada. Com quatro crianças que nem tem o que
comer dentro de casa. O malandro perdido nas drogas ainda quer agredir a filha
que tanto amei. Isso é vida? Me explica, por que é que ela se entrega a uma
vida miserável dessas?
Eu
não consigo entender. Tô sem saber como ela pode sair dessa vida de humilhação.
AGUINALDO
SILVA
10/06/18
----------------------Paula
Alves----------------
“ORAÇÃO
É O QUE TODO MUNDO PRECISA”
Eu
fui marido, pai e avô. Trabalhei a vida toda para deixar a minha família em
paz. Serviço de gente pobre, mas honesta. Estranho como as pessoas se esquecem
da gente. Eu não me esqueço de nenhum deles. Ainda consigo me lembrar de fatos
importantes da nossa história. Eu sei que aqui os fatos ganham vida. É como se
as lembranças todas tivessem alma. Eu lembro de tudo e sinto saudades. Eu estou
sumindo da memória deles e eu não queria desaparecer.
Eu
queria que eles soubessem o quanto eu me esforcei, eu queria que eles soubessem
que alguns dias foram ruins. Eu não quero que eles fiquem me endeusando, não é
isso não, mas um nada?
Não
fazem nenhuma oração, nem um pensamento chega até mim. Houve um tempo que eu
conseguia segurá-los nas palmas das mãos, tão frágeis, tão meus. Eles se
alegravam quando eu chegava do trabalho e ninguém se importava com o cansaço
porque queriam brincar e eu brincava com eles. Eu ouvia, eu sempre ouvi, mas
quando a velhice chegou, eu fiquei sozinho. Vim para cá precisando de apoio.
Ninguém quer morrer. Ninguém quer sair da casa que construiu e deixar os
parentes. Eu quis atenção, mas eles precisavam estudar e tinham que comprar as
coisas. Eu sei que o tempo é curto, mas dá pra fazer tantas coisas, passear e
ficar jogando conversa fora. Sei lá. Eu não fui importante pra eles, deve ser
isso.
Fiquei
velho e cheguei aqui me lastimando. Se eu tenho esta oportunidade para falar,
vou dizer que eles devem orar mais. Orar por eles, orar por nós. Orar por todos
que é só com oração mesmo que a gente se liga ao Alto, que a gente coloca a
cabeça no lugar e consegue ter um momento de clareza mental. Oração é o que
todo mundo precisa. SEBASTIÃO
10/06/18
-------------------Paula
Alves--------------
“EU
RECEBI MUITO AMOR E ENTENDI QUE CADA UM TEM UM CAMINHO E DEVE SE ENTREGAR A ELE”
Vou
falar o quê? Que eu morria de inveja? Não sei se foi isso. Eu lembro que éramos
tão amigas. Desde pequenas. Escola, brincadeiras. Nós descobrimos o mundo
juntas e quando ficamos mocinhas, meus pais morreram e eu percebi que a vida
dela era muito mais fácil do que a minha.
Ela
tinha sonhos que não eram para mim. Ela tinha possibilidades e eu não. Não
achei justo tanta coisa, mas ia reclamar pra quem? A gente vive a vida sabendo
que nem tudo é para todos e isso revolta. Era minha amiga e eu a amava, mas
começou a me irritar. Quando ela conheceu o Gustavo me deu vontade de matar.
Aquele sorrisinho, aquela ingenuidade, a alegria. Patético. Tanta gente
sofrendo e ela querendo amar. Pensando em casamento, vestido, damas de honra, para
mim indignação. Eu queria servir a causas nobres, fazer pelo mundo e não podia
comprar nem um saco de batatas. Ela podia muito mais do que eu e se entregava
ao amor para neutralizar todos os impulsos idealistas, quanto desperdício!
Eu
não queria mais ficar perto dela, eu queria me afastar da bobagem do amor que
cega e entorpece.
Me
aliei a um grupo de pessoas que pretendiam fazer o bem e me deparei com vários
jovens bobos que preferiam jogar as noites na bebedeira, não era isso que eu
queria para mim. Minha vida não podia estar entregue a isso. Foi quando conheci
o Mauro e percebi que tinha um propósito para nós. Começamos a trabalhar com
moradores de rua. Nisso, muitas outras pessoas que desejavam fazer o bem se
aliaram a nós e eu me senti bem, confortável como numa grande família onde
todos têm as mesmas intenções. Nunca mais vi a Angélica, ela deve ter casado e
sido feliz com o Gustavo. Eu sei que, quando as pessoas estão dispostas a fazer
pelo coletivo, Deus fornece os meios e permite que outras tantas pessoas nos
encontrem e deem mais força para que tudo se encaminhe. Eu fui muito feliz. Não
casei, não tive filhos, mas ajudei tanto e fui ajudada por isso. Eu recebi
muito amor e entendi que cada um tem um caminho e deve se entregar a ele.
LUCRÉCIA
“ESPERO
QUE TODOS POSSAM SER TOCADOS PELO AMOR”
O
que seria de nós sem os corações apaixonados?
O
que seria de nós sem os envolvimentos amorosos?
Pensei
que o amor fosse besteira e pensei que nunca fosse sentir amor por ninguém. Não
pensei que houvesse um sentimento capaz de nos mover. Um sentimento que fizesse
mudar os pensamentos, mudar os objetivos, eu não pensei. Fui uma mulher
estudada e tive bons empregos. Não pensava em casar porque tinha tudo o que
desejava, meu trabalho e meus amigos. Minha vida estabilizada.
Eu
cresci vendo meus pais brigando e era tudo tão agitado e angustiante que não
queria isso pra mim. Até o dia em que fui para um congresso e conheci Leonardo.
No início, simpatizei com ele que foi gentil comigo. Conversamos e fizemos
amizade, só. Dois dias depois, eu me lembrava dele com saudades. Achei estranho
e liguei. Aquela ligação mexeu comigo porque queria vê-lo. Queria conversar com
ele. Estranhei. Era como se o mundo estivesse conspirando para isso. Fiquei
pasma quando ele, discretamente, me falou que estava noivo e eu senti doer no
peito. Dor acredita?
Eu
nem conhecia aquele homem e senti que poderia perdê-lo. Era confuso para mim,
eu que tinha tudo no lugar. Eu tinha tudo planejado e me deparei com uma
confusa mental e pior, uma confusão nos meus sentimentos. Eu chorei. Não quis
ser sozinha. Eu olhei minha casa, não tinha nada fora do lugar, não tinha
barulho, era só eu.
Estava
tudo errado porque a vida não pode ser só isso. Eu liguei de novo e fui sincera
com ele, falei o que eu estava sentindo e eu desejei que ele sentisse a mesma
coisa. Eu não queria ser leviana, mas entenda, eu o amava. Como poderia amá-lo?
Eu o
amava de verdade. Ele não largou a noiva e eu fiquei sofrendo por três anos.
Depois disso, num outro congresso, encontrei o Maurício e iniciamos um relacionamento
que durou a vida toda. Toda minha vida com um homem que me amou e ensinou
coisas pelas quais sou grata. Percebi que Deus coloca pessoas no nosso caminho
para nos desbloquear. É tão importante estarmos em contato uns com os outros
porque nós afetamos as pessoas e elas nos afetam. Ás vezes, afetamos no bem,
outras no mal, mas de qualquer jeito é sempre para mexer com os sentidos. Eu
estava inerte, eu não sentia nada e o Leonardo me desbloqueou.
Eu
senti amor, perda, dor, frustração, tristeza e abandono. Eu senti a necessidade
de ter alguém e ser amada. Eu percebi tanta coisa por causa dele e me deixei
amar pelo Maurício. Quando ele apareceu, eu não quis perder a chance de me
envolver. De viver um grande amor. E eu vivi. Foi tão bom para mim. Espero que
todos possam ser tocados pelo amor. O amor que eleva e vivifica.
SORAIA
LINS
12/06/18
--------------------------------Paula Alves--------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“TODOS NÓS PRECISAMOS NOS SENTIR PARTE
INTEGRANTE DO TODO”
Foi
um alívio quando percebi que éramos iguais. Todos ali com tantas limitações,
todos com dificuldades. A ausência de palavras que nos separava do mundo,
permitia nossa aproximação.
No
início, achei tudo bem estranho. Em minha mente infantil, achei que fosse único
(risos). Eu adorei vê-los. Todos tão especiais, todos tão diferentes, mas
naquele momento nós fazíamos parte de um todo. Minha mãe hesitou, me teve por anos numa redoma. Ela
tentou me proteger de tudo e de todos. Depois de tantos acontecimentos que
evidenciaram o quanto as pessoas são preconceituosas e agressivas, ela achou
melhor que fossemos apenas nós em nosso lar, mas o que ela não sabia era que
mesmo em nossa casa, as pessoas me rejeitavam. Não era culpa deles, eu era feio
e sem educação. Eu não soube me comportar e causava constrangimento aos irmãos
mais velhos. Eu não queria, amava meus irmãos. Eu achava o Evandro lindo,
lindo. Sempre quis ser como ele. Meus irmãos gostavam de mim, mas se sentiam
envergonhados e, muitas vezes, não me queriam por perto, eu achava graça e isso
me fazia ficar perto sempre, para o desespero deles. Até mesmo em casa, durante
as refeições, eles se incomodavam e saiam de perto. Minha mãe não queria
aceitar, mas foi o que aconteceu. Eu não culpo ninguém, só aos erros que cometi
no pretérito.
Hoje
sou agradecido porque isso tudo fez com que eu pudesse desenvolver virtudes que
estavam adormecidas. Eu aprendi tanto. As pessoas podem imaginar que eu não
compreendia, que eu não conjecturava, eu não sentia. Em parte estão certas
porque no corpo físico eu tinha todas as limitações que a patologia neurológica
me permitia ter, mas desprendendo da matéria, durante o sono, eu readquiria
minhas funções de Espírito perfeito. Eu tinha conversas maravilhosas com meu
instrutor que me explicava tudo o que ocorrera durante o dia, ele me
incentivava e mostrava os prós e os contras da evolução adquirida com
limitações físicas e mentais. Foi uma descoberta magnífica todos os anos em que
estive encarnado.
Depois
de anos sendo aconselhada pela amiga professora, minha mãe me levou para escola
de especiais e eu encontrei meus afins. Como foi reconfortante. Todos nós
precisamos nos sentir parte integrante do todo. Todos nós merecemos nos sentir
desejados e queridos. Eu sou muito grato pelos professores que me ajudaram a
aprender tantas coisas, com toda a paciência, com muito amor, sem ficar se
prendendo na harmonia do rosto ou no jeito de expressar, eles doaram muito e eu
os amei por isso. Aos meus amigos o meu mais profundo reconhecimento. Todos
como eu, na obstinação de expiar um erro, de depurar ou de avançar mais
rapidamente para cumprir um objetivo. Todos com juízo. Pena que poucos
percebem. Com gratidão.
VITOR
17/06/18
-----------------------------Paula
Alves-----------------------
“TODO
MOMENTO, SOMOS BENEFICIADOS. MESMO QUANDO SOMOS TÃO INGRATOS”
Eita
forró danado! Foi tanta festa, foi tanta cantoria que a vida foi só bem querer.
Eu aproveitei demais o sertão. Não existe queixa, existe a lembrança boa demais
de um tempo que se foi. Eu não me
arrependo porque eu aprendi com tudo. Eu acho que a gente tem que olhar para a
vida com respeito, deve valorizar todos os momentos que a gente teve e
agradecer a Deus é tão importante, muito mais do que ficar pedindo. A verdade é
que o grupo de sanfona foi perdendo espaço, mas o amor pelo baião continua no
meu peito. Eu aprendi demais no Brasil, tanto que hoje eu amo esta terra que
também é minha. Vivi me lamentando depois que precisei sair do meu país e vir
para cá. Não foi fácil deixar o piano da Europa e ficar exilado no Brasil. Como
Espírito que arruinou a existência por escolhas erradas, eu me decepcionei com
meus instrutores porque afirmaram que eu não poderia mais ficar naquele país
que, para mim era o melhor do mundo, mas por que me deixei levar pela ganância?
Eu sempre fui músico. Eu sempre desejei impactar as pessoas com minhas canções,
mas naquela existência a vida era paupérrima.
Eu
precisa deixar a música e trabalhar de outra forma, para isso, eu iria estimular
outras virtudes. Era o que tinha que ser, mas o que foi que eu fiz?
Eu
usei o piano para carregar armas. Eu infringi a lei, eu coloquei a vida de
dezenas de pessoas em risco por causa da minha ganância. Desencarnei naquele
dia, vaguei, sofri horrores e quando fui resgatado recebi a notícia que sairia
de lá. Eu deveria reencarnar no Brasil. Claro que não vim com alegria, claro que
me recusei. Claro que eu nem percebi quando já estava aqui. Vim contrariado,
mas Deus é tão bom que me colocou numa família de violeiros. A música novamente
na minha vida. Tinha a enxada na mão, calos durante toda a mocidade, mas também
a sanfona. Que beleza foi conhecer a sanfona. Ave que felicidade saber que, a
todo momento, somos beneficiados. Mesmo quando somos tão ingratos, ainda assim,
o Pai nos beneficia. Graças a Deus.
ODORICO
17/06/18
---------------Paula
Alves------------
“AQUELE
ALGUÉM QUE PODERIA ME AJUDAR NÃO APARECEU E EU FUI EMBORA”
Era
muita roupa para lavar. Comecei novinha. Treze anos assumi as roupas que a mãe
lavava porque a pobre tava doente. Preferi trocar com ela, a mãe ficava em casa
com os menores e eu lavava a roupa. Naquele dia, eu achei estranho meu primo lá
em casa. Era um rapaz, tinha a namorada, ia casar. Ele nunca ia lá em casa e nesse dia apareceu. Eu fui pro rio com aquele
monte de roupa e ele saiu escondido atrás de mim, não tive muito tempo pra
perceber o que ele queria. De repente, a saia levantou e foi um grito só.
Desgraça! Eu não aguento nem lembrar. Preferia ter morrido naquele dia. Era
melhor morrer do que ver o jeito que ele se ajeitou e ainda me falou pra não
dizer pra ninguém.
Ainda
hoje eu acho que não devia contar. Eu sei que tive permissão e, ainda assim,
acho que é imoral e pecaminoso. Eu não queria ter que viver isso, mas não fui a
única, não sou. Chorei, lavei a roupa. Não sabia se contava. Cheguei em casa e
ele tava lá falando com a mãe. Eu fiquei com medo. Ele falou que ia levar o
convite de casamento e foi todo bonzinho quando o pai chegou. O problema é que
depois de quatro meses eu comecei a sentir mal. Eu estava péssima e a mãe
percebeu. Ela já foi gritando e dizendo que eu tinha me deitado com alguém.
Falou que eu tinha emprenhado. Eu fiquei sem saber o que fazer. Precisava falar
e a mãe ouviu se segurando, doida pra me bater. Quando eu terminei, ela me
chamou de mentirosa. Ela não acreditou em mim e me cobrava de dizer o nome do
homem que tinha me desonrado. O que eu ia dizer?
Meu
pai chegou, brigou, gritou, chorou e me pôs pra fora. Eu levei muito tempo pra
entender que eles também não sabiam o que fazer. Fui pra casa da minha avó, mas
ninguém me queria por perto porque numa cidade pequena onde todos se conhecem,
eu era uma vergonha. Eu fui embora, passei fome e decidi mudar de vida pra
criar meu filho. Eu tive que crescer. A vida nuca foi fácil pra mim. Pegar um
ônibus, partir e crer que se é sozinha na vida. Compreender que, numa situação
de desespero, muitas vezes a gente se agarra no invisível porque tudo o que
você conhece não serve pra te salvar.
Nunca
teve ninguém por mim. Aquele alguém que poderia me ajudar não apareceu e eu fui
embora. Mudei de cidade com o dinheiro que a minha avó me deu. Trabalhei num
restaurante porque a dona também teve uma vida difícil e se compadeceu da minha
sina. Meu filho nasceu e eu tive que encarar tudo. Me fortaleci no amor daquele
menino e, aos poucos, as coisas foram se ajeitando. Você me pergunta se eu já
posso reencontrá-los e eu te respondo que não tem necessidade nenhuma de ter
uma aproximação. Eu prefiro com o esquecimento. Sei dos planos. Sei que
estaremos juntos de novo. Sei que, em outras vidas, eu errei, não é uma questão
de perdoar, simplesmente não quero vê-los. Se eu tenho que me envolver, tudo
bem, mas que seja na carne.
DORA
17/06/18
-------------------Paula
Alves--------------
“MUITOS
QUANDO OLHAM PARA O MÉDICO, PENSAM QUE FAZEMOS SEM NOS ENVOLVERMOS”
Era
muita gente. Tantos feridos. Chegavam de todo jeito. Eu nem pensei que
estudaria para passar por tudo aquilo. Amava a medicina, mas era um delírio
aquele hospital. Não falo pelo dinheiro não, falo pela necessidade daquelas
pessoas. Muitos quando olham para o médico, pensam que fazemos sem nos
envolvermos. Muitos podem achar que é um ato mecânico, onde nós não olhamos nos
olhos e não sentimos, mas não são todos assim.
Eu
sonhei me tornar médico e tudo o que eu queria era promover a saúde, era curar,
reestabelecer. Eu queria que tivessem conforto. Eu me dediquei todos os dias da
minha vida. Eu também senti fome, frio, eu renunciei ao meu bem estar, às
minhas necessidades ou lazeres para me doar completamente ao meu ofício.
Quando
um paciente vai a óbito é como se você tivesse fracassado. Muitos diziam: “Você
não é Deus.” Verdade! Mas, eu achava que Deus me colocava naquele lugar para
realizar a Sua vontade e eu havia fracassado. Eu sempre achava que podia fazer
melhor. Eu sempre quis que as crianças se curassem ou que as grávidas tivessem
seus filhos normais.
Eu
questionei tanto, eu sofri. Eu não fui apresentado a esta explicação que nos
permite ter fé e prosseguir seguros de que tudo está no lugar certo. Eu achava
que o erro era meu.
O
tempo passa e o corpo mostra o cansaço. A juventude impulsiona e faz buscar
ultrapassar as barreiras, mas a idade faz o esmorecimento chegar.
Chegou
num momento que eu não queria mais trabalhar. Eu não queria mais ver
sofrimento. Não queria ver os familiares chorando. Não quis mais ver sangue. Eu
não quis. Eu olhava para eles e deixava esperando porque eu não sabia o que
fazer. Parecia que nenhum remédio ia fazer melhorar. Eu não tinha nada para
fazer.
Talvez,
se tivessem me ensinado a pensar além da matéria, eu ia entender que o meu
trabalho era só um dos recursos. EU
TRATAVA O FÍSICO, MAS TEM MUITO MAIS DO QUE ISSO. NÓS NÃO SOMOS FEITOS SÓ DE
CARNE. Eu não percebi.
Só
entendi quando cheguei aqui. Fui tão bem recebido. Fui claramente esclarecido e
hoje tenho certeza de que posso ser útil. Farei o que for preciso para que
possa auxiliar. TENHO MUITO AMOR EM
TRATAR DAS PESSOAS E SEI QUE, COM ESTE GRUPO AO QUAL ESTÃO ME INSERINDO, POSSO
RETOMAR MEU PRAZER DE CURAR. Aqui tem muito trabalho que deve ser bem
executado. Eu agradeço ao Senhor.
DANIEL
17/06/18
-------------------------------------Paula Alves--------------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“FICO
IMPRESSIONADO COMO TEM GENTE QUE SE QUEIXA DA VIDA QUE TEM”
Era
um sonho e eu entendi que não poderia ser real. Sempre fui pobre, nem bola eu
tinha. A gente colocava no pé tudo o que rolava e tentava fazer futebol. Para
criança pobre tudo é motivo para inventar, almejar e usar a criatividade para
se divertir. Meu pai não podia nem ver, ralhava com a gente e logo colocava
para trabalhar no tijolo. Ô vida difícil, era melhor sonhar.
Como
era bom pensar que um dia a gente ia virar craque de futebol e rodar o mundo se
divertindo com a bola no pé, mas que jeito? Tão pobre! Só dava para assistir
aos jogos do bar do seu Tião, mas o pai não podia nem sonhar. Meu pai sempre
foi contra sonhar acordado. Meu pai dizia que pobre tinha que se esforçar muito
para colocar comida na mesa e se a gente quisesse virar homem e ter família era
bom aprender a ter coragem para pegar no batente.
Hoje
eu sei que o pai estava totalmente certo. Afinal, o que seria da nossa gente se
não fosse a olaria? Eu chorei quando quis ver o jogo e meu pai sentiu minha
falta, ele foi ao bar do seu Tião e me tirou de lá na surra. Que vergonha! Eu
só queria assistir, mais nada. Depois daquilo, eu perdi o gosto pelo futebol,
trabalhei duro, cresci e nunca mais quis saber de bobagem de bola.
A
vida sempre foi muito difícil mesmo. Uma loucura poder comprar um pedaço de
charque. Muito complicado depois na fase adulta, mas eu tinha aprendido com meu
pai, trabalhar com suor no rosto. Consegui uma mulher guerreira, bons filhos e
tivemos nossa casinha, nossas coisas com muito esforço, nenhuma regalia. Fico
impressionado como tem gente que se queixa da vida que tem. Faz festa, come
bem, dorme no quentinho e as crianças brincam felizes, brinquedo e água do mar.
Ainda
reclama?
Tem
que agradecer todo dia porque não é fácil ver filho com a mão calejada não. Eu,
quando pude comprar televisão, lembrei do pai. Veio a Copa e eu já estava
velho, lembrei do pai. Eu entendi o pai, tinha que educar a gente. O compromisso
de um pai é muito grande. Pai também sente medo de faltar as coisas, pai sofre
de angústia da incerteza, mas tem que honrar, tem que ensinar e mostrar que vai
ficar tudo bem.
PAI QUE É FORTE COLOCA FILHO NOS EIXOS. Eu
senti orgulho do meu pai. Ele foi um bom homem, cuidou bem da gente. Naquele
dia eu me permiti assistir o jogo com meus filhos e senti felicidade de estar
com minha família. Eu só agradeço a Deus por tudo o que vivi e por tudo o que
aprendi. O trabalho só ajusta a gente. O trabalho transforma em homem de bem.
VICENTE
24/06/18
-----------------------Paula
Alves-------------------
“ELA
TRANSFORMOU UMA VIDA, NUM MOMENTO MUITO ESPECIAL”
Eu
via os meninos na pracinha e sempre tive vontade de correr e colocar aquela
bola no gol. Sei lá, eu sempre achei que fosse possível. Do jeito que eles
faziam parecia tão fácil. Eu observava e poderia passar horas na mesma posição
admirando os movimentos deles. Eu ficava hipnotizado com os dribles e com a
alegria que sentiam quando ganhavam o jogo. Eu sentia a euforia e o mais
importante é que depois eu sonhava. COMO
ERA BOM SONHAR COM O JOGO.
Eu
era perfeito, eu tinha vitalidade, eu corria e marcava gol. Era maravilhoso
sentir como se tudo fosse real. SÓ BEM
MAIS TARDE, QUANDO CHEGUEI AQUI, FUI SABER QUE ERA REAL MESMO. Incrível
como tem grupo de afins de todas as qualidades. Tem o grupo dos esportistas e
daqueles que amam os esportes. Acho que isso me manteve vivo por tantos anos.
Eu não teria suportado se minha realidade fosse só de sequelas. Eu adorava
dormir e quando minha mãe deixava tudo pronto para o sono eu ficava feliz
porque naquele momento eu viveria minha felicidade. Eu era o camisa 10.
Eu
era especial e todos gostavam de ser meus amigos. Eu era normal entre eles. Então,
aquele dia na pracinha, quando choveu, não teve jogo e eu fiquei decepcionado.
Mamãe me entendia. Ela sempre percebeu no meu olhar a necessidade que eu tinha
de estar no meio deles. Ela ficava chateada de ver como me olhavam. Eu era
esquisito, ali meio morto na cadeira de rodas. UMA MENTE PERFEITA, MAL SABIAM ELES. Passavam cochichando e rindo,
coisa de moleques. Eu não ligava porque já estava acostumado, eu só conhecia
aquilo da vida, mas minha mãe ficava irritada. O pai falava que ela não devia
me levar lá. Os vizinhos comentavam e a mãe dizia que eu ia porque gostava. Ela
não ia me privar de minha única alegria.
Bom
seria se eu pudesse jogar com eles. Minha mãe sempre pode me ouvir os meus
pensamentos.
Como
as mães são sábias!
Deus
é tão poderoso e supremo que coloca a mãe para cuidar dos filhos. Coloca a mãe
para ouvir os pensamentos dos filhos. As pessoas deviam respeitar mais as mães
e, se elas tivessem a certeza do quanto são especiais, conseguiriam muito mais
do que isso. Lembra dos prodígios que se referiu Jesus? AS MÃES CERTAMENTE ATINGIRIAM ESTES PRODÍGIOS.
Um
dia, todos terão esta certeza. Eu agradeço minha mãe por tudo o que ela fez por
mim. Sem ela minha expiação teria sido terrível, mas ela transformou uma vida,
num momento muito especial. Com todo o meu amor.
ONOFRE
24/06/18
----------------------Paula
Alves---------------------
Como
tudo na vida sempre existiram as situações onde as pessoas afirmaram que as
mulheres estavam proibidas de realizarem alguma coisa. Eu queria jogar futebol.
Eu queria participar dos torneios. Eu queria estar entre eles e ser uma
jogadora. Ouvi tantas coisas ridículas. Sempre foi puro preconceito. Como tudo.
A mulher
não pode trabalhar fora porque ela deve ser a escrava do lar. Ridículo!
Trabalhar horas e horas de forma incansável, fazer por todos e ouvir que não
faz mais do que a obrigação.
A
mulher poderia fazer trabalho de homem no lar, mas não fora dele. Já viu homem
que chega cansadinho em casa e não serve nem para trocar o gás, trocar a
lâmpada? Pois é! Mas, na rua, ela é donzela. Não pode sair coitada, tem que
ficar presa, enclausurada.
Ouvi
meu pai falar tantas vezes que eu tinha que me preparar para casar, ter filhos.
Por
que eu queria estudar? Como é?
Ele
falava que a gente não precisava saber ler.
Acredita
nisso?
Era
luxo saber ler?
Votar?
Pra quê?
As
mulheres eram consideradas inferiores mentalmente. Tudo isso aconteceu bem
perto de nós, num passado não tão distante. Muitas situações embaraçosas,
discriminatórias, horríveis infringiram a lei que deveria proteger as mulheres
como a qualquer outro ser vivo. De fato somos todos iguais e eu sou muito grata
a Deus que permite que sejamos homens e mulheres em determinadas encarnações
dependendo da nossa necessidade evolutiva. Isso porque acredito que, apenas
sentindo na pele, algumas pessoas valorizem o respeito e a dignidade alheia. Eu
não pude chegar perto do futebol enquanto fui mulher. Infelizmente, precisei me
contentar a tudo aquilo que era permitido para nós. Eu tive que aceitar e senti
no fundo do meu ser que era assim que tinha que ser. Confesso que não foi
fácil. Sei que, ainda hoje, lembrando desta encarnação, eu sinto doer e me
revolto. Acho que, um dia, teremos realmente a lei da igualdade imperando em
todos os aspectos de nossa sociedade, assim como é em outros mundos, mas ainda
existe muito diferença, muita covardia e muita impunidade.
Que
Deus tenha piedade de nós.
LURDES
24/06/18
-----------------------Paula
Alves----------------------
Eu
ouvi tantas vezes: “Frangueiro!”, “Frango!”. Faziam co-có quando eu passava
(risos). Mas, o interessante é que isso me motivou. Eu tinha raiva, isso me
incentivou a superar minhas limitações motoras. Não foi fácil porque eu era
baixo e lento, mas eu pratiquei, eu me esforcei. Todos os dias eu treinava e
treinava mais, mesmo quando o cansaço chegava, eu tentava mais uma vez. Meu pai
me viu chorar muitas vezes e falava: “Vamos para a horta, vamos colher, vamos
plantar e esperar o tempo da natureza porque tudo tem seu tempo, assim como a
plantinha precisa de um tempo, seu corpo também precisa de tempo. Um dia você
será um rapaz e conseguirá atingir a rapidez e a força necessárias para ser um
bom goleiro filho.”
Meu
pai foi meu exemplo de homem persistente, paciente e amoroso. Nunca me deixou
vacilar na fé. A fé em si mesmo é muito importante. Existem pessoas que são
descrentes em si, são aqueles que se esforçam, são bons trabalhadores, mas são
frágeis. Frente a algumas adversidades, eles esmorecem e tombam. A fé em si
mesmo, impulsiona e permite que a gente passe por provas rudes, porém
necessárias e isso te fortalece, te faz seguir em frente melhor do que antes.
Eu tinha tanta fé em mim que me esforcei e aguardei o dia que tudo aquilo valeria
a pena e deu certo. Foi só um jogo. Um jogo importante para mim. Era um jogo na
escola, não tinha ninguém famoso, não tinha ninguém especial. Era eu, o meu
time e o time adversário. Uma oportunidade quando o goleiro se machucou e eu
que era o reserva poderia mostrar o que sempre quis. Eu consegui, naquele dia,
eu segurei todas as bolas, eu fui um gigante na rede, eu fui ovacionado. Eu não
me tornei um campeão, eu não fui um jogador de futebol famoso. Depois daquilo,
eu comemorei e me senti tão feliz. UM
ADOLESCENTE QUE SE REALIZA ERA ISSO O QUE EU ERA. Um contentamento por ter
alcançado um mero objetivo. Eu trabalhei para aquela realização. O fato é que
depois de adulto, depois de pai de família com um trabalho simples, sem nada
demais, eu sempre me lembrei daquele dia. Tive a certeza de que tudo o que nós
fazemos por alguém, incentivando esta pessoa, pode mudar a vida dela.
Deixando
bem claro que o esforço é imprescindível. A pessoa tem que ser leal a ela
mesma. A pessoa tem que ser sincera aos seus princípios, mas incentivar alguém
como meu pai fez comigo. Incentivar para ter fé em si mesmo pode transformar
alguém e isso é papel de todos aqueles que se sentem capacitados. Sabe quem são
os capacitados? SÃO OS QUE ACREDITAM
PENSAR COM A CABEÇA NO LUGAR. As pessoas que se sentem privilegiadas, não
as ricas materialmente falando. As privilegiadas de saúde, bem estar físico e mental,
as felizes, que estão conhecendo o Evangelho e sabem que podem doar muito mais
do que pão. PENSEM EM LEVAR A LUZ PORQUE
ISSO MUDA UMA SOCIEDADE.
MOURA
24/06/18
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