Cartas de Abril (16)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

       “NENHUM DE NÓS ESTÁ TOTALMENTE CIENTE DAS COISAS”

Acho que a minha vida poderia ter dado um livro ou mesmo um filme. Aconteceu tanta coisa. Eu me iludi, me envolvi e me enganei. Nos encontros e desencontros da vida, eu achei que estava tão certo e quando me desprendi, percebi que sempre estive errado.
Tanto estudo, pra quê?
Uma vida toda correndo atrás de um ideal, de uma identidade. Eu acreditava que deveria me sustentar nas bases intelectuais. Eu sempre achei que tivesse que argumentar e deixei tanta coisa de lado. Eu fui aquele que sempre teve palavras prontas. Sempre soube argumentar e estava tão bem resolvido quanto às filosofias da vida. Eu tinha partido político, berço social, convicção sexual e base religiosa, mas nada disso, me respondeu todos os questionamentos quando o corpo morreu.
      
Quando eu acordei, após ter perecido, minhas questões eram inúmeras. Isso me trouxe uma certeza incontestável: nenhum de nós está totalmente ciente das coisas. Tudo pode acontecer para nos ensinar o que devemos aprender. Nenhum de nós sabe tudo e não somos superiores a nada, nem a ninguém. Todos nós somos iguais mesmo porque a Lei serve para todos sem exclusão ou privilégios.

       Foi um grande golpe perceber que estive errado em tantos aspectos de minhas teorias. Eu sempre argumentei com tanta seriedade e parecia saber tanto, mas eu me envergonho porque eu não sei nada. Queria compreender com mais facilidade. Acho que estava impregnado de dogmas e cheio de preconceitos que minha mente se nega a enxergar a realidade deste lado. Eu levei um tempo para perceber que todo aquele cenário não era surreal. Demorei para notar que não eram criações da minha mente. Demorei para entender que as pessoas que me chamavam queriam me ajudar, eu os temi.
Eu achei que estava enlouquecendo e sofri muitas décadas por causa disso. A verdade é que o humilde entra no Reino porque ele aceita.  Humilde entra porque ele enxerga e se curva submisso porque ele compreende que tudo o que existe já estava lá antes dele. O humilde sabe que ele desconhece tanto e que tudo pode acontecer, ele entra. Eu entrei pela graça divina. Estou sendo bem tratado, mas sei que aqueles que já conseguem pensar na realidade entrarão mais fácil.

Estes conseguirão o socorro imediato porque antes da sua partida já estão refletindo sobre a conduta de toda uma vida. Estes, já estão se preparando para reformular seus pensamentos e deixar tudo limpo dentro e fora deles. Estão tentando o perdão e o amor, já é um começo. Na próxima, preciso de menos estudo e mais ação. Quem sabe assim eu aprendo mais rápido.
JOÃO GILBERTO
07/04/18

--------------Paula Alves------------
“VOCÊ FICA ENQUANTO TEM COISAS IMPORTANTES PARA FAZER”

Não existem palavras para definir minha gratidão por esta vida. As provas nem mesmo senti, tamanha grandeza dos presentes que obtive. Logo de cara pais maravilhosos que me ensinaram a ser disciplinada e conseguiram nos primeiros anos de vida eliminar minha dependência pelo álcool. Pais amantíssimos que souberam me ensinar o quanto é importante ter bons hábitos de vida e ter uma conduta moral reta. Acho que tudo partiu daí.

Quando o Paulo chegou em minha vida eu estava tão feliz por causa da formatura. Nós começamos a nos encontrar e vi que ele era mais um presente de Deus. Homem inigualável. Me tratava com amor, ternura, conversávamos por horas e no maior respeito. Nunca cogitou qualquer aproximação que pudesse me ferir física ou moralmente. Eu me casei com ele e ainda consigo me lembrar da sensação de bem estar quando ele me abraçava. Depois disso, tive o prazer de receber três seres calorosamente afinizados comigo. Meus filhos queridos a quem devotei os mais ternos sentimentos. Recebi também mais um filho, Felipe.

Este era um desafeto do passado que me fez desafiar os instintos e pode me beneficiar com virtudes que eu não sabia possuir. Como foi bom amá-lo! Eu aprendi o que é amar um inimigo quando Felipe precisou realmente de mim. Toda a paciência por um dependente químico. Toda a preocupação por um filho dependente, ladrão, violento.

Eu o amei com o ímpeto das minhas forças e ele se sentiu amado por mim. E foi um amor tão sublime que o curou. Eu sei que eu o curei do vício como meus pais me curaram. Não foi fácil senhor, não foi. Foi uma prova e tanto para mim, mas a vontade de estar com este novo amor foi maior que qualquer tormento. Eu preferia tê-lo comigo de qualquer jeito que fosse, mas Deus foi tão bom e clemente, me permitiu ver meu filho curado em nome de Jesus.

E foi uma alegria tão grande que eu afirmo que não tem presente maior do que a família. Você passa por uma prova que envolve seres tão amados, é uma benção. Ele superou, eu superei e nós fortalecemos um laço que nem existia. Quando eu parti estavam todos bem. Foi como se um livro com final feliz estivesse se encerrando. Eu soube que estava terminando, que não tinha mais nada importante para fazer. Acho que é assim que funciona. Você fica enquanto tem coisas importantes para fazer. Enquanto você mostra serviço, você fica. Quando você conclui seu serviço ou, então, quando você cruza os braços e não faz nada, você tem que voltar para se mexer.

Eu fiz o meu serviço com grande prazer e quando estava tudo bem, tudo calmo, eu voltei. Foi bom chegar aqui com esta sensação de dever cumprido. Eu sinto saudades deles, mas não aquele tormento porque eu fiz o que deveria fazer. Eu não deixei nada inacabado e, por isso, estou em paz. MINHA MENSAGEM PARA QUEM ESTÁ LÁ É QUE ELES DEVEM SE ESFORÇAR PARA CUMPRIR O PLANO. DEVEM SE ESFORÇAR PARA FAZER O SERVIÇO VALER A PENA. ELES NÃO DEVEM PERDER TEMPO PORQUE O TEMPO VOA E QUANDO PERCEBE NÃO DÁ MAIS TEMPO DE FAZER NADA. O QUE É IMPORTANTE DEVE SER PRIORIZADO E NORMALMENTE ENVOLVE PESSOAS QUE PRECISAM DA GENTE.
ESTELA
07/04/18

----------------Paula Alves--------------

“TODO ACÚMULO É RIDÍCULO E O DESPERDÍCIO AFRONTA A SOCIEDADE”

       Foi difícil ver. Eu passei tanto tempo jogando comida no lixo que nunca pensei que poderia passar fome. A gente nunca acha que pode acontecer com a gente. Eu tinha tanto dinheiro que não daria para gastar tudo numa vida só, então, eu não me preocupava muito com nada. Sempre trabalhei e minha fonte de renda sempre foi honesta, uma herança honesta que só fez multiplicar com meus esforços, mas quando a gente se acostuma com a boa vida, não percebe quem não tem nada. Eu até doei roupas, sapatos, dinheiro para asilos e orfanatos, eu dei móveis e tudo quase sem uso. Eu doei, mas nunca compreendi a privação das pessoas.

Não queria parar para pensar na pobreza, até me irritava. Sempre acreditei que era uma questão de preguiça e acomodação, falta de estudo e de dignidade. Os pobres me irritavam, mas eu não fui ruim, entende?

Eu nunca prejudiquei ninguém, só vivi minha vida, por isso, nos primeiros anos fiquei revoltado. Eu não conseguia perceber porque eu tinha morrido tão jovem durante um assalto a banco. Eu não pude acreditar que eu fiquei vagando na inconsciência por tanto tempo. Eu nunca perdi tempo com questões religiosas e me vi numa alienação sem futuro até que encontrei uma moça que sofria tanto quanto eu, mas já estava mais esclarecida e foi me elucidando sobre alguns pontos de vista. Eu gostei dela, apesar do seu cheiro fétido. Um dia, não sei como, ela desapareceu, hoje sei que foi socorrida. Eu chorei quando me vi sozinho e passei a perambular pela cidade. Eu já estava mais atento e pude ver um misto dos dois mundos. É tão estranho porque encarnados e desencarnados estão tão próximos.

Eles comem juntos e se debatem nos mesmos erros. Estão tão próximos em suas acusações e na dor. Como numa dupla realidade. Vivenciando o mesmo lugar no espaço sem muita percepção. Eu vi o que é fome, frio e dor. Eu detestava o meu cheiro e as roupas rasgadas. Eu vi tanta comida sendo jogada no lixo e tantos miseráveis com fome, por que tanto desperdício? Eu sempre fiz isso, mas passou a me indignar. Todo acúmulo é ridículo e o desperdício afronta a sociedade. Eu chorei vendo um mundo que eu tentei não fazer parte. Eu tinha que ver a realidade e fazer parte dela de um jeito ou de outro. Acho que quem se nega a fazer parte da sociedade, colhe o que eu colhi. Passei a ajudar todos. Com os alimentos, água, curativos, nem sei como. Eles apareciam quando eu tinha muita vontade e comecei a vê-los, os iluminados, mas eu nem pensei em mim. Acho que a minha vocação é ser socorrista e, por isso, estou me preparando mentalmente para a atuação de socorrista, eu adoro. Precisei sofrer para me sentir feliz em ser útil. GIORGIO
07/04/18

-----------------------------Paula Alves------------------------

“EU VIVI MUITO E NUNCA FUI DESCOBERTO”

Eu sei que é doença, mas existem muitos como eu. Esta aparência era tudo o que eu queria que desaparecesse neste momento. Eu não gosto nenhum pouco. Sei que a impressão é de que não me importo, mas não é verdade. Eu sempre soube que não estava certo, mas era incontrolável. Tudo começa na mente ou começa com a sensação?

Será que eu fui sempre assim?
Ultimamente ando me perguntando se vale a pena insistir porque, se eu reencarnar, eu posso prejudicar novamente as crianças que chegarem perto de mim. Muitos diziam que era possessão.

Chegaram a afirmar que era uma força demoníaca que se apropriava do meu corpo naqueles momentos, mas não. Se os Espíritos me influenciavam, eu sempre fui conivente. Não se pode culpar os outros a vida toda. Sempre chega o momento do reajuste mental. O momento em que você vai se deparar com você mesmo a lhe cobrar por tudo o que fez de errado. Quando eu estava velho e sem forças para prejudicar os menores, quando eu estava enfraquecido pela doença, eu pensei em tudo o que fiz. Muitos podem dizer que a justiça falhou comigo porque nunca fui pego.

Eu vivi muito e nunca fui descoberto.

Cheguei a viver como bom membro de um bairro de classe média. Eu era um senhor que todos gostavam, mas não fui sempre velho e as pessoas não deviam deixar seus filhos perto de quem eles não conhecem. Eu ainda queria praticar o mal, mas meu corpo não conseguia fazer maldade. Naquela fase, sozinho e doente, eu comecei a pensar, certamente influenciado por meu guardião que era obrigado a cuidar de mim. Triste trabalho o dele. Foi obrigado a me ver fraquejar tantas vezes, nunca o escutei. Fiz tanto mal e o pobre coitado a observar inerte. Mas, quando me questionei sobre tudo o que fiz, sei que era ele influenciando. A voz da consciência a cobrar todos os males. As lembranças passaram a me afligir, me maltratar. Ninguém estará isento da corrigenda e do golpe da lei. Eu vi diante de mim todos os momentos em que fui terrível. Fica tranquilo que a consciência vai cobrar e cobra tudo tão bem que você deseja morrer para parar de reviver o erro. Não tinha mais nada a fazer e, de repente, ele parou. O velho coração me atirou para um mundo que ninguém desejaria conhecer. Foi lá que eu aprendi que o corpo é sagrado. O corpo de um inocente, então... Nem de brincadeira se deve mexer com criança.

Você pode pensar que o que acontece na cadeia é o pior, há-há, nem de longe meu companheiro. Eu sofri uma desgraça atrás da outra pra chegar aqui com esta cabeça de que não sirvo para nada e saber que se houvesse um fim, eu tinha que receber este fim. Se tem alguém que devia ser exterminado, era eu. Ainda assim, cheguei aqui com esta aparência que mostra para todos o pedófilo que fui em vida e as pessoas deste local ainda têm compaixão. Eu me sinto humilhado, derrotado e arrependido, mas não sei se estou curado. Eu ainda não sei.
ZILDO
07/04/18 

----------------------------Paula alves-----------------------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“DEVEMOS TER CORAGEM PARA ENFRENTAR A INJÚRIA, SEM SE SENTIR VÍTIMA”

Eu achei que não fosse capaz de perdoar aquela traição. Por um momento acreditei que fosse melhor virar a página para que pudesse prosseguir. A dor que eu senti foi grande demais para ficar vasculhando em alguma parte os motivos que a fizeram me abandonar com uma criança pequena. Eu precisava continuar em nome do meu filho. Eu simplesmente segui e não pude perceber que a falta de perdão, pouco a pouco, me feria.
Eu não podia nem mesmo ouvir o nome dela e aquela ausência, com toda a indignação que senti por ter sido enganado, eu não raciocinei que tinha um ferimento dentro de mim.

Eu não me curei porque fechei um buraco, apenas para não vê-lo e continuei com minha vida como se nada tivesse acontecido. Infelizmente, o ferimento estava lá e isso me impediu de ter relacionamentos saudáveis com outras mulheres. Em todas elas, o olhar de Laura, em todas a dissimulação e a covardia de abandonar um bebê com um pai apaixonado. Eu sofria calado e segui como um homem forte, um bom pai.

Leonardo cresceu e se transformou num homem honesto e responsável, eu não pude perceber o quanto aquele ferimento cresceu. Me tornei um pouco rude, até grosseiro, mas não com meu filho que teve o melhor de mim. Eu achei que o pequeno Leonardo não merecia crescer sem mãe e decidi fazer tudo por ele.

Nunca podia imaginar que Laura ainda tinha impregnado em seu ser uma revolta longínqua por tê-la abandonada grávida em outra existência. Ela precisava revidar e eu sofri tanto. Hoje compreendo que só dá quem tem. O fato é que tudo aquilo fez um buraco enorme dentro de mim e uma úlcera se produziu lentamente fazendo virar um câncer que me corroeu por anos. Foi o que me fez voltar para cá, mas não antes de me arremessar para as regiões sombrias.

Ao meu lado a imagem de um tumor, de uma massa negra que me perseguia para atormentar lembrando do que poderia ter sido minha vida com ela. Foram momentos de contemplação de uma vida de sonhos e uma realidade de dor.

Demorou para chegar aqui e hoje eu vivo me questionando o que deveria ter feito para não padecer? Meu instrutor disse o quanto o perdão é importante para que possamos prosseguir com saúde física e mental porque eu morri disso e cheguei neste plano em delírio, em loucura.

Confesso que ainda não entendo porque eu achei que a tivesse perdoado. No fundo, eu nunca desejei mal, eu não poderia fazer mal a ela porque ainda a amo. Mas, o perdão não é só isso. Eu achei que fosse, mas não é. Eu deixei para trás, não quis pensar no assunto e tudo me ferindo. Quando o mal se aproxima de nós e nos faz sofrer devemos ter coragem para enfrentar a injúria, sem se sentir vítima. Aceitar que todos nós somos falíveis e, por isso, ninguém merece a punição, mas eu desejava que ela sofresse tanto quanto eu. Eu nunca a perdoei, eu só não quis enxergar.  O processo é tão doloroso e longo que nem mesmo sei quando poderei me livrar desta dor.
NELSON
15/04/18
--------------Paula Alves-----------------

“PROVAS QUE MUDAM TUDO QUANDO PASSAMOS E TAMBÉM QUANDO REPROVAMOS”

Eu tive tudo o que quis. Eu viajei e vi coisas tão lindas, lugares tão maravilhosos e foi bom perceber que, apesar de todas estas facilidades, existem coisas que o dinheiro não pode nos dar. Questões tão importantes da alma que estão relacionadas aos sentimentos e com a maneira como utilizamos estes sentimentos. Eu admirei o mundo e me perguntava por que estava ali com uma vida tão tranquila, enquanto outros sofriam e passavam privações.

Eu queria ajudar, mas me perguntava até que ponto isso poderia ser enriquecedor para mim. Eram tantos questionamentos, até que ponto estamos propensos a fazer o bem?
Se minhas ações não são suficientes para mudar o rumo das coisas, por que devo ajudar?
Até que ponto o que eu fizer pode ajudar ou vai atrapalhar mais ainda?
Eu pensei, pensei tanto e um dia, caminhando por Londres, vi uma menina com um aspecto emagrecido, suja, tremendo de frio. Eu pensei que poderia ajudar. Poderia matar a fome, o frio, mas pensei que deveria ter alguém com ela e eu não queria problemas. Eu pensei que, se eu estendesse a mão, poderia ter muitos problemas futuros.

Talvez, fosse melhor seguir a vida e deixar que o destino dela transcorresse como deveria ser. Continuei caminhando e ouvi dentro de mim uma voz que gritava me afirmando que eu devia ajudar, então, eu parei de temer e agi. Falei com a menina que estava só. Eu a levei para casa e cuidei dela. É verdade que nunca mais tive sossego porque eram muitos os afazeres.

Eu fui à justiça e procurei os meios legais para tê-la comigo. Eu consegui e adotei a menina depois de muito insistir. Nada foi fácil, mas dentro de mim se abria uma porta de inúmeras possibilidades quando eu olhava para ela. Eu sorria diferente e sentia que o mundo de uma forma inexplicável tinha sentido.

Ficamos juntas em todos os momentos importantes da minha vida. Eu casei, tive filhos, mas Isadora sempre esteve comigo como uma filha querida. Depois de muito tempo eu compreendi que todos nós temos provas importantes. Provas que mudam tudo quando passamos e também quando reprovamos.

Eu precisava passar pelo teste e foi bom quando passei, mudei tudo para mim e para ela também. Foi bom poder reparar o mal que fiz no pretérito e fazer surgir o amor de uma forma tão linda. Agradecida por tudo.
GUILHERMINA
15/04/18


------------------Paula Alves-------------

“O QUANTO AS PALAVRAS PODEM FERIR?”

Foram tantos erros e tantos desenganos, mas não pude ser tratada como ele me tratou. A traição nunca existiu, talvez no meu pensamento, mas só ali. Eu não fui culpada de nada porque foi ele quem o levou para nossa casa. Quão ingênuo ele foi. Eu sempre gostei do meu marido. Casamos muito jovens para agradar nossos pais que eram amigos. Nem deu tempo de perceber que eu estava me casando. Quando me dei conta já estava na casa dos meus sogros e era a noite de núpcias.

Eu descobri tudo de um jeito que não foi muito bom, mas fui tolerante e compreensiva com Antônio que também era jovem e submisso as pais. Nada fácil viver com meus sogros e aceitar as reprovações ainda tão moça, mas eu vivi.

Antônio era trabalhador e, do jeito dele, me respeitava e era amoroso. Logo vieram os filhos e eu os amei. Cuidei bem das crianças e era obrigada a aturar minha sogra que estava cada dia mais irritante, mas eu fingia que não entendia as armações dela contra mim. Antônio estava sempre se divertindo com os amigos porque diziam que os homens deviam se distrair, trabalhavam demais.

Vida de homem era de um jeito e vida de mulher bem diferente. Ele saia e chegava tarde. Numa destas saídas, ele bebeu tanto que precisou ser levado para casa pelos amigos, chegou carregado. Quando eu observei Nestor meu coração parecia que ia sair pela boca. Foi uma sensação nova para mim. Eu nunca tinha sentido aquilo e me vi inquieta e desconcertada. Ele percebeu e também me admirou. Eu só pensava nele e sabia que não era certo. Ele começou a frequentar nossa casa e eu fazia de tudo para não estar presente. A minha sogra notou o meu descontentamento e fez intrigas ao meu sogro que passou a convidá-lo mais e mais.

Eu nunca cedi, nunca me aproximei dele. Seria incapaz de prejudicar meu marido, de traí-lo. No fundo, nem sei como aquela estranha sensação tomou conta de mim. Como aqueles pensamentos me rondavam quando eu menos esperava. Bastou um simples cumprimento com a cabeça para o veneno ser plantado em Antônio e ele brigou comigo tão feio, me bateu. Ficou cismado, começou a beber mais ainda e, apenas por saber que eu estava na casa de nossa prima quando Nestor chegou, ele achou que tínhamos um caso. Eu fui escorraçada de casa. Antônio se deixou levar pela maledicência.

Ele duvidou até que era o pai dos meus filhos. Foi uma vida difícil. Eu fui embora e recomecei em outra cidade. Tantos percalços no caminho. Criar filho como mãe solteira. Todo mundo olhando torto, falando mal. Eu fui digna. Nunca mais quis saber de homem, só dos meus meninos que viraram homens de bem. Ainda acho que as pessoas não deviam falar da vida dos outros.
O quanto as palavras podem ferir?
ELIZANDRA
15/04/18

-----------------------------Paula Alves------------------------------------

“PROVAS QUE MUDAM TUDO QUANDO PASSAMOS E TAMBÉM QUANDO REPROVAMOS”

Eu tive tudo o que quis. Eu viajei e vi coisas tão lindas, lugares tão maravilhosos e foi bom perceber que, apesar de todas estas facilidades, existem coisas que o dinheiro não pode nos dar. Questões tão importantes da alma que estão relacionadas aos sentimentos e com a maneira como utilizamos estes sentimentos. Eu admirei o mundo e me perguntava por que estava ali com uma vida tão tranquila, enquanto outros sofriam e passavam privações.

Eu queria ajudar, mas me perguntava até que ponto isso poderia ser enriquecedor para mim. Eram tantos questionamentos, até que ponto estamos propensos a fazer o bem?
Se minhas ações não são suficientes para mudar o rumo das coisas, por que devo ajudar?
Até que ponto o que eu fizer pode ajudar ou vai atrapalhar mais ainda?
Eu pensei, pensei tanto e um dia, caminhando por Londres, vi uma menina com um aspecto emagrecido, suja, tremendo de frio. Eu pensei que poderia ajudar. Poderia matar a fome, o frio, mas pensei que deveria ter alguém com ela e eu não queria problemas. Eu pensei que, se eu estendesse a mão, poderia ter muitos problemas futuros.

Talvez, fosse melhor seguir a vida e deixar que o destino dela transcorresse como deveria ser. Continuei caminhando e ouvi dentro de mim uma voz que gritava me afirmando que eu devia ajudar, então, eu parei de temer e agi. Falei com a menina que estava só. Eu a levei para casa e cuidei dela. É verdade que nunca mais tive sossego porque eram muitos os afazeres.

Eu fui à justiça e procurei os meios legais para tê-la comigo. Eu consegui e adotei a menina depois de muito insistir. Nada foi fácil, mas dentro de mim se abria uma porta de inúmeras possibilidades quando eu olhava para ela. Eu sorria diferente e sentia que o mundo de uma forma inexplicável tinha sentido.

Ficamos juntas em todos os momentos importantes da minha vida. Eu casei, tive filhos, mas Isadora sempre esteve comigo como uma filha querida. Depois de muito tempo eu compreendi que todos nós temos provas importantes. Provas que mudam tudo quando passamos e também quando reprovamos.

Eu precisava passar pelo teste e foi bom quando passei, mudei tudo para mim e para ela também. Foi bom poder reparar o mal que fiz no pretérito e fazer surgir o amor de uma forma tão linda. Agradecida por tudo.
GUILHERMINA
15/04/18
  
--------------------------Paula Alves------------------------
“A VIDA É TÃO JUSTA QUE TODOS PASSAM PELO QUE TÊM DE PASSAR PARA ABRANDAR O CORAÇÃO, PARA LAPIDAREM A ALMA FRIA”

Eu sempre louvei. Fui serva do Senhor e adorava os louvores. Incansável, levantava bem cedinho e arrumava o salão esperando os fiéis. Uma euforia invadia o meu ser e eu cantava e dançava. Linda a obra do Senhor quando temos motivos para louvar. Eu tinha motivos para louvar. Família linda, todos com saúde, marido bem empregado, filhos bons, vida econômica estável, tudo me favorecia e eu não entendia o quanto as pessoas sofriam porque eu não conhecia o sofrimento. Muitos acreditavam que eu atraia as situações favoráveis por causa do meu bom humor, mas foi apenas uma fase. Eu sei que, muitas vezes, falhei na caridade cristã porque fui maledicente.

Eu contrariava os sentimentos alheios quando dizia que estavam sofrendo porque queriam. Eu tinha justificativas para tudo. Falava que não tinham emprego porque não se esforçavam, não tinham marido porque eram promíscuas, não tinham carro e casa boa porque esbanjavam. Enfim, eu era cruel com as pessoas ao meu redor, hoje eu sei. A vida é tão justa que todos passam pelo que têm de passar para abrandar o coração, para lapidarem a alma fria.

Eu louvava em agradecimento a minha vida perfeita, eu me sentia perfeita porque tinha tudo o que queria, como filha boa que só podia ser presenteada, mas de repente, tudo mudou. Meu marido teve um ataque cardíaco e morreu, ou melhor, desencarnou. Ele estava trabalhando e eu nem pude acreditar quando me avisaram do ocorrido. Eu nem chorei, fiquei parada sem entender como aquilo era possível. Eu não merecia perder o marido, o pai dos meus filhos.
O que eu ia fazer? Na hora eu só pensei em mim. A morte dele implicava na mudança da minha vida. Eu ficava em casa e cuidava das crianças, mas sem ele o que seria de nós?
Não pensei na parte afetiva, não pensei na saudade. Eu pensei na gasolina, nos meus vestidos e nas contas, pensei na escola particular e nas viagens. Eu pensei que Deus deveria estar enganado porque eu não merecia mudar minha vida porque meu marido não cuidava da saúde. Foi mesmo isso o que eu pensei, sério.
Levou um tempo para eu me erguer e providenciar o enterro. Depois de alguns meses, eu voltei à igreja e não conseguia louvar, o dinheiro ia acabar e eu precisava mudar tudo. Trabalhar, reduzir meus gastos. Eu não quis louvar porque eu não tinha nada para agradecer e me revoltei. Arrumei um emprego e não fui mais à igreja.

Meus filhos, que sempre foram melhores do que eu, me chamaram para conversar e eu me surpreendi com a maturidade deles me questionando sobre o que eu queria para nossa vida. Falando que nós precisávamos de união naquele momento difícil. Eles tentavam me fazer enxergar que eu sempre tive motivos para louvar, agora mais do que nunca porque tínhamos uns aos outros, tudo o que o pai havia ensinado, uma casa e coragem para seguir em frente. As outras coisas não eram tão importantes, mas a fé em Deus era total, só isso faria a gente superar a fase ruim sem o pai. Eu não sabia que meus filhos eram tão espertos e eu me senti acolhida por eles. Voltei para igreja como uma filha ingrata, como uma ovelha que tenta voltar para o rebanho. Envergonhada de tantos erros morais. Eu sabia o que estava na minha alma. Podia enganar as pessoas, mas não Deus. Eu não podia negar para mim mesma a leviana que eu sempre fui, materialista, hipócrita. É difícil se olhar no espelho como é realmente, mas sempre chega a hora de tirar a máscara. Eu agradeci a Deus pela família que Ele me deu e me permiti recomeçar.
TÂNIA
15/04/18

  -------------------Paula Alves----------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“AS PESSOAS DEVIAM VER A VIDA COMO UMA COISA SUBLIME, PURA E FRÁGIL”

Naquele dia tudo parecia perfeito. Nós brincávamos felizes. Eu, Jeremias e nossos primos, felizes porque criança só quer saber de brincar. A rua lá de casa era calma, tranquila. Todos os vizinhos se conheciam e nós estávamos sempre brincando na rua, mas naquele dia foi diferente.

O Jeremias saiu correndo atrás da bola e a gente escutou uma pancada. Minha mãe deu um grito e saiu correndo. Eu olhei primeiro para minha mãe e temi que algo de muito sério tivesse acontecido porque ela corria apavorada. Quando eu olhei para o início da rua, tinha um carro parado e o Jeremias caído no chão. Eu fiquei desesperado, todo mundo ficou. Minha mãe falava com o Jeremias e pediu para chamar uma ambulância, ninguém fazia nada, ficou todo mundo quieto e o homem aproveitou que os vizinhos estavam saindo de casa para fugir.

Eu pensei: “como ele pode ser tão covarde?” porque meu irmão era pequeno e precisava de socorro. A gente não tinha carro e ele podia levar o Jeremias para o hospital, mas não levou. TODO MUNDO QUE DIRIGE DEVIA TER A CONSCIÊNCIA DA SUA RESPONSABILIDADE PORQUE O CARRO PODE SER UMA ARMA PERIGOSA NAS MÃOS DE UM INSANO.
Ele estava estranho, acho até que tinha bebido, mas quem sabe?
Ele nunca mais apareceu.
Será que ele ficou com aquilo tudo na cabeça?
Será que quem faz um desatino desses fica pensando?

Em pouco tempo, eu pensei tanta coisa. Acho que a consciência cobra e a pessoa nunca mais dorme em paz. Fazer uma coisa ruim que pode tirar a vida de alguém e fugir sem saber como a vítima ficou... Nem dá para entender. E deve ter tanto covarde assim por aí. Só sei que o Jeremias pagou o pato. Meu irmão que adorava jogar bola ficou caído no chão. Eu achei que ele estava muito mal, mas que nada. A mamãe percebeu logo. O coitado do menino estava caído e começou a gelar, nem sinal de socorro. Demorou tanto para chegar alguém. A mamãe chorava tanto e gritava com todo mundo, culpava todo mundo, falando como louca que ninguém tinha que brincar na rua. Falando que ela nunca mais ia ter paz na vida dela porque deixou o filho morrer brincando. Nada mais foi igual, nunca. Meu irmão morreu mesmo. Minha vida foi muito ruim depois disso porque minha mãe nem podia me olhar. Eu até achei que meu irmão era o preferido e ela acharia melhor que eu estivesse no lugar dele. Eu só entendi depois que me tornei pai. Ela não conseguia olhar para mim porque eu a lembrava do Jeremias. Fazia lembrar aquele dia e ela se culpava pelo que aconteceu. Eu achando que ela me culpava, mas não. Dor, remorso, saudade, tudo junto é ruim demais.

A lição que a gente tira é que as pessoas deviam ver a vida como uma coisa sublime, pura e frágil. Não deviam se preocupar apenas com a sua integridade, mas com a integridade de todo ser vivo. Respeitar toda a criação.
TEODORO
21/04/18

-------------------Paula Alves------------------

“NÃO FOI MALDADE DE DEUS, FOI PROVA DO MEU FILHO”

Eu não sabia até pouco tempo, o porquê. Sempre me pergunto como uma mãe pode sofrer tanto. Por que Deus permite que uma mãe sofra desta forma? Eu tive o melhor momento da minha vida como mãe e também o pior de todos. Passei a vida desejando ter um filho e quando tive fui separada dele de forma tão leviana. Me perguntava onde havia errado e por que estava sendo castigada quando meu filho foi tirado de mim. Ele era tão pequeno e meu lindo Isaías era a luz dos meus dias. Eu faria tudo por ele. Fui tão tola. Ele brincava no parquinho perto de nossa casa e engasgou com um doce. Eu não soube o que fazer, foi tão rápido que ele parou de respirar e eu fiquei desesperada.

Por que tinha que ser daquele jeito?
Na minha mão como uma inútil?
Eu que dei a vida e não pude impedir a morte?

Como eu poderia explicar para todos os familiares que meu filho morreu num parquinho e eu não fiz nada? Eu não podia olhar para meu marido depois disso. Mas, eu olhei. Eu cuidei de tudo, fui apontada porque as pessoas só sabem julgar e olhar com indiferença, ninguém sabia a minha dor. Enterrei o corpinho dele e fui embora para longe de todos. Eu vivi me esgueirando. Vivi passando o tempo, esperando por uma explicação e tomada pela revolta atravessei a vida. Perambulei em completa desordem mental sem saber o que aconteceu comigo até que pude enxergar uma luz que me tomou nos braços e trouxe para cá. Ele era pura luz, meu querido Isaías. Tão bela a grandeza do Senhor que permitiu que o abraçasse novamente. A verdade é que agora estava adulto, modificado com sua capacidade intelectual, mas ainda assim, poderia reconhecê-lo em toda parte. Meu filho me explicou tantas coisas.

Disse que só eu poderia estar junto dele num momento tão importante do resgate que ele deveria passar. Não foi maldade de Deus, foi prova do meu filho. Eu sempre estive ligada a ele e aceitei seguir nesta prova difícil, mas diante do sofrimento me entreguei para a dor e a revolta tomou conta do meu ser, mas ele nunca se afastou de mim. Quando pode me auxiliar, após o período necessário ao refazimento, lá estava ele me aliviando e enviando emanações de esperança. Eu confesso que sempre foi difícil, a dor de mãe que perde é terrível. Apesar de tudo, um novo plano se revela para nós e acredito que poderemos recomeçar mais uma vez unidos. Eu sou imensamente grata por isso.
LÚCIA HELENA
21/04/18

------------Paula Alves----------
“TODOS DEVEM AGRADECER A OPORTUNIDADE QUE RECEBERAM DE CUIDAR DE UM FILHO DE DEUS”

Foram tantos anos de imaturidade, até que encontrei Lurdes e me apaixonei por ela. Naquele momento, eu sabia que construiria uma bela família. Foi como se tivesse esperado por ela minha vida toda e não me contive, logo a pedi em casamento.

Fiquei tão contente quando ela aceitou e providenciamos tudo, uma bela cerimônia e uma casa para que pudéssemos pensar nos nossos herdeiros. Éramos jovens, financeiramente estáveis e desejamos nossos filhos, mas eles demoraram para aparecer. Demorou tanto que Lurdes começou a se preocupar, ela fazia novenas, terços e inventava de tudo um pouco para engravidar, mas nada de filhos. Eu ouvi falar que na minha família um tio não pode ter filhos e comecei a pensar que eu poderia ser estéril. Fiquei constrangido de falar sobre isso com Lurdes, acreditei que Deus não iria fazer isso comigo, conosco e que uma hora ela iria pegar barriga, mas nada. Eu pensei que fosse possível viver assim, mas Lurdes não aguentou. Ela chorava demais e passamos a brigar, nosso relacionamento não aguentava uma casa vazia e uma rotina apenas de adultos, nós queríamos uma família e éramos só nós dois. Tudo foi desmoronando e ela finalizou.

Eu cheguei em casa e só encontrei a aliança e um bilhete. Lurdes partiu. Ela tinha esperança do problema não ser com ela e de poder ter uma grande família. Eu tentei outras vezes, com outras mulheres, mas nunca consegui, nunca fui pai. Percebi que tinha necessidade de me envolver no mundo infantil e resolvi procurá-las. Eu as encontrei num hospital infantil onde a necessidade do sorriso e atenção eram recíprocos e eu investi tudo nisso. Me tornei um palhaço que procurava nas crianças o carinho que eu sempre busquei. A partir daí, posso dizer que fui muito feliz, não com meus filhos, mas com os filhos de Deus que encontrei no caminho.
Cheguei aqui tão bem tratado e recebi o esclarecimento necessário. Eu sempre soube que precisava dar afeto para crianças porque eu as prejudiquei. Fiz tantos abortos. Em outra existência, como médico eu nunca quis ser pai, iniciei meu calvário tirando os filhos que fiz nas namoradas e depois comecei a facilitar para alguns amigos, até que me detive a aplicar a profissão apenas com este fim. Eu impedi o reencarne de inúmeros seres. Eu atrapalhei os planos de Deus. Eu fui tão prepotente e acreditei que estava nas minhas mãos decidir e, ainda por cima, fazer tudo por dinheiro. Eu me afundei tanto, me comprometi tanto com a Justiça. Paguei boa parte do meu débito, enquanto estive desencarnado, mas precisava sentir na pele a necessidade de tê-los. Hoje sou grato, eu realmente não merecia ser pai. Pai e mãe é honra, mérito. Todos devem agradecer a oportunidade que receberam de cuidar de um Filho de Deus.
ODAIR
21/04/18
------------------------Paula Alves--------------

“SÓ AQUELE QUE SERVE SEU SEMELHANTE PARA COMPREENDER O QUÃO IMPORTANTES SÃO NOSSAS TAREFAS NO BEM”

Eu contemplei o mar por mais uma vez e me permiti pensar em tudo. Numa vida tão extensa cheia de momentos bons e outros nem tanto, mas no geral valeu. Eu olhei o mar e me perguntei como Ele poderia criar tudo com tanta beleza. Como Ele podia fazer com tanta perfeição. Quando a borboleta parou na flor, eu vi suas asas minuciosamente decoradas, eu soube que Ele é um Ser extraordinário.

Ainda não poderia compreendê-Lo tamanha pequenez de minha alma, mas eu O admirava.
Trabalhei por tantos anos como tarefeiro, eu desejei servir. Só aquele que serve seu semelhante para compreender o quão importantes são nossas tarefas no bem. A caridade moral é majestosa. Eu fiz muita coisa errada, eu sucumbi tantas vezes, me afastei, deixei que a vaidade tomasse conta de mim, passei por situações onde a briga de ego me fizeram desviar, mas os abnegados trabalhadores do plano invisível estavam sempre a me auxiliar, eu voltava para o caminho mais fortalecido e confiante. Como médium tive a bendita oportunidade de me certificar que tudo é real.

Imagino que aqueles que não veem, não sentem nada, não escutam, estes céticos devem sofrer neste mundo louco.

 Mundo onde as pessoas devem ter para ser, onde devem conquistar sempre mais, devem competir, este mundo louco de revolta, ira e adversários só leva ao dissabor.

Mas, eu fui médium e, passado o primeiro período de adequação mediúnica, eu pude apreciar verdades que sentia dentro de mim como absolutas. Eu me permiti conduzir pela espiritualidade e minha vida ganhou um colorido diferente. Só ganha, aquele que tem confiança no Senhor. Quem se permite seguir com passos firmes porque sabe que tudo pode Naquele que lhe fortalece. Eu creio que foi isso que me transformou em homem de bem. A fé no Mestre. Fé na sua existência. Eu não pensava nele como um homem que morreu na cruz. Eu tinha a certeza de que ele existe bem perto de mim.

Jesus vivo e real a me fortalecer e foi neste momento, que minha vida mudou como se os campos mentais tivessem sido desbloqueados para minha evolução. Claro, aquela que era possível para meu corpo grosseiro, bem material, mas foi mais fácil acessar os campos mentais. A fé ampliou tudo e eu pude ouvir melhor, pude ver melhor e as conquistas foram inúmeras meu irmão. Não aquisições para o corpo, mas para a alma. Aquisições que me tornaram um ser necessário nos meios onde eu existia. Eu que desejava aproveitar cada instante com todos aqueles que o Senhor achava necessário. Tratei de me reconciliar com todos, tratei de viver cada vão momento para fazer dar certo os planos de Deus na minha vida e perpetuar esta chance de êxito mental.

Eu que desejei acelerar este processo para evoluir mais e mais já que estava centrado em mim, vivi mais do que esperava porque purifiquei minhas células com os sentimentos virtuosos. Vivi noventa e oito anos com saúde mental e física. Quando observei aquele mar e aquela borboleta foi como se ganhasse asas e pudesse voar. Abandonar o casulo. Abandonar aquele corpo pesado e me tornar um ser leve e livre.

A consciência sabia exatamente para onde deveria ir, eu retornaria para cá meu irmão para desfrutar de plena capacidade psicológica para que pudéssemos trabalhar novamente e me sinto pronto para assumir minhas obrigações. Sou imensamente grato.
VELOSO
21/04/18

------------------------Paula Alves-----------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“SER MÃE E SOFRER TANTO POR UM FILHO, PRA NEM MESMO VER A CARA DELES DEPOIS QUE VIRAM DONOS DAS PERNAS!”

Eu sempre tentei passar pra eles que a gente tem que ser honesto com a gente e também com todos que estão a nossa volta. Eu sempre quis que meus filhos fossem pessoas honradas. Que fossem pobres, mas que tivessem escrúpulos. É certo que procurei facilitar a vida deles quando, inúmeras vezes, eu fiquei até mais tarde finalizando o trabalho da lavoura sozinha, mas eles eram tão pequenos.

Quando o pai deles nos abandonou, eu sofri muito mais porque achei que eles careceriam de uma figura paterna. Eu sabia que isso ia fazer toda a diferença. Eu levei uma vida terrível ao lado daquele homem por causa deles e no que serviu? Ele foi embora e eu fiquei sozinha com um bando de filhos. Meus filhos cresceram e, apesar de toda minha dedicação, tinha quem tivesse vergonha de mim. Porque eu era analfabeta, porque eu era pobre ou porque eles acreditavam que eu não havia conquistado o coração do pai. Pobre pai né?

Abandona a esposa e um monte de filhos e a errada ainda é a mãe.
Por que será que a mãe tem sempre culpa?

Eu queria saber. Quando o filho não dá certo, quando o marido vai embora, em caso de traição ou se a família não prospera. É sempre a mãe a culpada. Vejam: eu amava aquele homem e achei que, se eu me esforçasse, a gente poderia ter sido bons, a gente poderia ter criado aquela gente com fé e dignidade, mas ninguém aguenta pobreza.

Taí a prova. Aguentar a vontade de comer do bom e do melhor...
Aguentar a vontade de ter uma mordomia, de levantar tarde, de não sair na chuva ou de ter um carro. Eu queria tudo isso, mas não tive, então, não achei correto ficar reclamando.

Eu vivi cada dia, o dia que Deus me deu e pronto. Eu senti falta deles quando foram embora. Procurar a vida na cidade mãe – diziam. Saíram um a um. E eu fiquei com aquele pouquinho de horta. Eu fui levando. O pior pra mim não era a necessidade não. Eu já estava acostumada com aquela vida que era a minha vida. O pior foi a saudade e saber que eles poderiam ter me amado de verdade, mas me trataram ali de qualquer jeito, passando tudo na minha frente. Hoje eu me pergunto se serve tanto assim, a gente ser mãe e sofrer tanto por um filho, pra nem mesmo ver a cara deles depois que viram donos das pernas.
CLÉCIA
28/04/18

---------------------Paula Alves-----------------

“EU TENHO CERTEZA DE QUE, INDEPENDENTE DOS DESEJOS, MAIS VALE O COMPROMISSO ASSUMIDO”

Não tinha nenhum motivo para aquele homem me tratar daquele jeito. Nenhum! Meu pai sempre me dizia que o serviço que você não realizar, vai sobrar para outra pessoa. Eu sempre procurei ser uma boa esposa e mãe. Eu o amei tanto e me dediquei à nossa família. Eu vivi acreditando que era amada sem saber que vivi num mundo de sonhos e ingratidão. Claro que, olhando para trás, pude perceber que tudo teve motivos para ser, sim sempre tem. Eu fui trabalhadora e ajudei a conquistar os bens que tivemos, me preocupei em cuidar de todos os nossos filhos, sem que o amor que nos uniu esfriasse, mas com a idade os questionamentos aparecem e o interesse pela mesma mulher míngua. Eu nem percebi até a festa da Sara. Minha filha estava completando quinze anos e eu estava tão feliz. Minha amiga chegou num vestido vermelho belíssimo e eu achei um pouco inoportuno, mas entendi pouco tempo depois, que aquela roupa tinha a finalidade de atrair a atenção do meu marido. Eu peguei em flagrante uns carinhos delicados e, além do constrangimento, brotou em mim uma fúria que desejei matá-los. Eu não sei explicar, não é posse, é mais do que isso. Como se você tivesse sido usada, enganada e humilhada na sua própria casa. Enquanto eu me dedicava em cuidar da nossa família, da nossa casa, das nossas coisas, ele cuidava dos seus prazeres, da sua virilidade. Tudo o que era nosso ruiu. E eu me senti mal demais para ficar ali. Olhei minha filha que estava tão linda e saí às pressas para não acabar com a festa dela.

Eu desejei ir embora, mas quando se tem filhos, o pensamento é ficar com eles, cuidar deles. Depois disso, nós nos separamos porque, por mais que eu quisesse perdoar, não poderia esquecer o que ocorreu quando ele estava comigo. Os carinhos que vi não podiam ser apagados, eu preferi ficar sem ele.

Eu nunca o esqueci, hoje compreendo que eu realmente o amo. Sempre desejei que ele ficasse bem, mas não foi possível continuar. Eu só penso que tenho de deixar para trás para prosseguir. Meu esposo se esqueceu do que vivemos, ele se livrou de nossa vida por causa de um romance, mas ele poderia ter tido este romance comigo. Eu tenho certeza de que, independente dos desejos, mais vale o compromisso assumido. As relações amorosas deviam ser encaradas como elos fortíssimos de lealdade. Não são apenas palavras que se enfraquecem por instintos.
MANUELA
28/04/18

----------------------Paula Alves----------------
“A VERDADE É QUE NINGUÉM PODE FALAR O QUE REALMENTE SENTE PORQUE É FEIO E VIRA INDIGNAÇÃO”

Eu não aguentava aquela vida. Ainda hoje eu ouço os gritos, as risadas. Eu trabalhei tanto tempo com crianças que acho que fiquei traumatizada. Sei lá. Não tinha paciência, mas precisava tolerar para ganhar meu salário. A vontade que eu tinha era dar uma surra em cada um que passava na minha frente correndo, fazendo gracinhas. Eu me continha, mas a vontade era tão grande que eu chegava a adoecer.

O pior não é ter a vontade de fazer mal e se controlar.  Pior é você ouvir as pessoas dizendo que adoram os pestinhas. Adoram nada! Os professores ficavam irritados o tempo todo. Não sabiam o que fazer para dar jeito neles. Para que pudessem obedecer. Tentavam justificar a falta de educação dizendo que eram mal tratados pelos pais ou, então, que era falta da mãe. Tinha de tudo, adotados, pais com envolvimento com drogas. Tudo tinha um motivo para que fossem coitados. Não era nada disso.

A verdade é que ninguém pode falar o que realmente sente porque é feio e vira indignação. A consciência coletiva barra, sabe como é? Quando você fala mal da própria mãe. Quando você assume algumas coisas que ninguém assumiria, aí todo mundo olha torto, mas é consenso geral gente. Parar de hipocrisia. Aqui pode falar né?

Vou enganar pra quê, se você pode ler mente?
Para se tratar tem que expor com sinceridade né? Então, vamos lá.

Eu nunca gostei de crianças mesmo, nunca. De qualquer jeito, minha instrutora falou que eu já melhorei porque eu convivi mais de vinte anos com elas e nunca maltratei, nunca. Eu me contive, sei lá como. Aqueles risinhos irônicos. A verdade é que são miniaturas de gente. Tudo está dentro deles, não se engane. São tão espertos. Se estão com as faculdades adormecidas, têm instintos, têm sensibilidade. Eles sabiam que eu não gostava deles e quando percebiam uma professora meiga, iam todos para os braços dela. Que raiva.

Acho que um pouco é culpa dos pais sim. Por que não procuram conhecer os filhos? Fazem tantas coisas. Têm tempo para tudo, para comprar tudo e não sabem o filho que têm em casa. Absurdo isso. PORQUE SE TÊM FILHOS DEVIAM ORIENTAR, EDUCAR DIREITO E NÃO DEIXAR FAZER O QUE QUISEREM. Eu sigo aqui no tratamento porque eu sei que preciso. Isso me incomoda tanto que preciso me livrar deste sentimento de uma vez por todas. ISABEL
28/04/18

-----------------Paula Alves--------------

“O MAIS IMPORTANTE É SEMPRE A DEDICAÇÃO DO PESQUISADOR”

Eu incentivei sim. Foram tantos documentários, tantos especialistas se dedicaram para os estudos. Eu não poderia permitir que minha mente se aniquilasse depois de tanto tempo envolvido com as pesquisas. Eu desencarnei de repente. Meu coração simplesmente parou, mas eu precisava de mais tempo. Eu precisava concluir aqueles pensamentos e ter certeza de que sempre estive certo. Fiquei muito decepcionado quando vi que todos os meus manuscritos foram desprezados pelos meus entes queridos. Eles reclamaram minha ausência, mas eu era apaixonado por minhas pesquisas. Fui embora dali, onde para eles eu era apenas, um pai ausente.

Caminhei sem direção quando fui arrastado para junto dela. Uma mente brilhante, ainda um pouco diminuta por falta de informações precisas, mas com muito potencial. Acredito doutor que o mais importante é sempre a dedicação do pesquisador. Hoje em dia, isso é raro porque as pessoas se perdem nos meios de comunicação. Eu a encontrei, sedenta de informações que a norteassem. Ela desejava compreender a razão de sua ida, ela desejava se satisfazer nas elucidações de sua jornada, saber o que poderia acrescentar numa selva onde as pessoas estão alucinadas com o ter para ser.

Ela sentiu minha aproximação e não me repeliu, pensou que éramos coniventes e eu fui acolhido. Foi bom saber que meus pensamentos poderiam ser importantes ali. Na hora não percebi, mas depois notei que poderíamos influenciar um ao outro e eu fui mais além, soube que minha capacidade intelectual não havia se perdido com meu fim corporal, ela poderia continuar o que interrompi pela morte do corpo. Eu a incentivei e como um mestre mostrei os caminhos. Ela se achava autodidata, mas eu estava sempre apontando as falhas, fornecendo as soluções, explicando e incentivando que ficasse mais uma hora, que relesse, que fosse sucinta ou que se dedicasse um pouco mais. Eu achei que era este o caminho e o vi por perto, compreendi que estávamos passando dos limites quando ela se cansou demais. Era bom para mim. Eu poderia ter a vida de antes, mas eu não tinha a limitação do corpo e ela sim. Era a vida dela.

Minha querida discípula se entregou sem reservas porque ansiava por ampliar a fonte do seu saber, mas estava quase que estafada porque eu queria sempre mais e mais informações para nós. Eu gostava tanto dela que preferi me afastar, tão logo, consegui ouvi-los. Não sou obsessor, sou um homem que ama a leitura e o conhecimento, posso ser útil. Me esforçarei para me adequar harmoniosamente, para me reequilibrar e participar do trabalho de vocês. Agradeço a Deus por tê-los encontrado e sei que foi permitido porque era bom para ambos. Ela ampliou muito as bases cognitivas, do saber e da leitura mental. Tudo o que pude doar fez dela um ser sem barreiras onde o tempo e o espaço não são empecilhos, mas fornecem a instrução e o domínio mental.

Eu compreendi que, deste lado, tenho muito a fazer e que, o que desenvolvemos intelectualmente, além de não se perder, ainda pode auxiliar aqueles que tem boa vontade. Imensamente grato.
VILELA  
28/04/18


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