Cartas de Abril (16)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografia

“SEM CONSCIÊNCIA OU SENTIMENTOS. LEDO ENGANO!”

Eu era muito jovem e não pensava em ser mãe naquela época. Eu tinha o sonho de ser modelo e fiquei profundamente decepcionada quando soube que estava grávida. Pensei no quanto minha barriga iria crescer e como eu poderia me dedicar à maternidade sendo ainda tão jovem, tendo tantas ambições. Aquilo havia sido um romance de verão que não poderia repercutir em mudanças para sempre. O que eu poderia pensar?

Eu não estava pronta para a maternidade. A verdade é que eu não tinha ideia de que eu já estava envolvida com aquele filho. Eu não entendia nada e não sabia o que sei hoje. Não tinha como imaginar que eu mesma tinha pedido para que isso acontecesse. Eu havia combinado com Otávio para sermos mãe e filho. Eu sabia que não seria uma boa ideia ser modelo, eu devia ser mãe e aprender coisas que as mães aprendem. Isso seria muito melhor para minha evolução, mas isso, eu só sei agora. Nem tem como saber do que foi combinado antes de reencarnar. Depois do esquecimento, é na raça. A gente vivencia o que sente e eu ainda era muito egoísta. Me liguei à ideia de que ainda não era uma criança propriamente dita. Células em desenvolvimento, apenas isso. Sem consciência ou sentimentos. Ledo engano!

Eu não poderia prever o quanto estava atraindo o mal para junto de mim por inúmeros motivos. Primeiro porque anulei totalmente meu plano reencarnatório que tinha o objetivo principal de me fazer evoluir como mãe. Depois, porque eu tirei a vida de um ser que necessitava muito do reencarne. Ser vivo dentro de mim que ambicionava me ter como genitora para colocar em prática tudo o que estudou comigo, resgatar tudo o que fizemos de errado no pretérito e eu neguei esta oportunidade a ele. Apesar, de estar apenas ligado ao corpo em evolução, ele sentiu sim e muito. Teve revolta e dor, teve frustração e pensou em se vingar, mas ele é muito melhor do que eu. Após o devido tempo de reajuste, ele pode se ligar a outra mulher mais amorosa e teve o benefício do reencarne necessário, mas eu... Eu ainda sofro por tudo isso. Hoje compreendo que foi merecido. Na mesma existência, eu aniquilei meus órgãos reprodutores e nunca mais pude ter filhos. Eu soube que aquilo era como um castigo, eu destruí meus órgãos e arruinei minhas chances de aprender como mãe. Nunca consegui me tornar uma modelo, até porque, na real eu nem sou bela.

É TUDO UMA QUESTÃO DE ORGULHO E VAIDADE.

A gente acha que é, mas não é. Noção distorcida da realidade. Estou fazendo tratamento para chegar ao perdão de mim mesma e também para conseguir reparar meus órgãos reprodutores. Apenas desta forma, poderei traçar novos planos de reencarnação. Muito obrigada pela oportunidade.JANETE
28/04/19
------------------------------Paula Alves-------------------------

“O QUE SERIA DE NÓS?”

Eu participei do plano e, naquela ocasião, acreditei que seria muito positivo para nós que estaríamos resgatando tudo o que fizemos mais rapidamente. Porém, estando ligada ao corpo, esqueci tudo o que foi tratado, eu sofri muito e me revoltei. Isabela crescia dentro de mim quando o pai dela morreu. Eu amava meu esposo. Estávamos sempre traçando planos para nosso futuro. Osnir ficou tão feliz quando soube que eu estava grávida. Ele dizia que aquele bebê era o presente de Deus para nós. Eu estava feliz porque tinha tudo o que sonhei: uma família, mas ele morreu. Eu estava grávida de seis meses e precisei providenciar o enterro do homem que eu amava e ainda tinha que me preocupar com exames e tudo o que poderia envolver a vida de um bebê, mas agora eu estava sozinha. Comecei a pensar o que faria com um bebê, sozinha. Como eu podia criar uma criança sozinha? O que seria de nós? Eu não queria ficar sem o Osnir e nem queria criar filho sozinha. Eu me sentia mal. Parecia até que o bebê sentia tudo aquilo e sentia que, de alguma forma, eu o estava rejeitando.

Aqui eu soube que realmente eles sentem a rejeição e isso não faz nada bem a eles. A verdade é que eu precisava ter o meu bebê. Eu tinha convicção de que ele precisava ser amado, mas eu estava arrasada e nem consegui terminar o enxoval. Quando a bebê nasceu eu estava esgotada. Acho que aquela ebulição hormonal estava me derrotando e eu nem queria amamentar. Isabela chorava tanto e eu só queria dormir. Até que minha mãe foi me visitar e chegando em casa, ouviu o choro da bebê, percebeu o quanto eu a estava maltratando e não teve pena de mim. Ela disse coisas terríveis que me fizeram acordar. Eu me lembro que ela só faltou me bater quando percebeu o que eu estava fazendo com aquela criança. Minha mãe disse que como avó tinha todo o direito de proteger a neta da mãe louca que ela tinha e que ela a tiraria de mim se fosse preciso. Falou que eu já havia perdido o me esposo e iria perder a filha porque não estava valorizando aquele ser que Deus enviou para mim. Ela estava com a bebê nos braços e ela chorava de fome. O meu peito estava vazando e minha mãe profundamente indignada. Hoje eu me lembro com vergonha. Não sei como fui capaz. Eu peguei minha filha, amamentei. Minha mãe me ajudou. Ficou meses conosco. Incentivou meus cuidados maternais e só foi embora quando me viu sorrir com as gracinhas da minha filha. Isabela sempre foi rebelde e eu justificava por tudo o que fiz ela sentir. Justifiquei também ser pela ausência de pai. Ela me deu muita dor de cabeça e eu acho que nunca soube ser mãe de verdade porque nunca a repreendi, nunca tive palavra de firmeza com ela. Sei que a maioria dos erros que ela cometeu na encarnação em questão foi por causa da minha negligencia maternal. Eu só quero aprender o máximo que puder. Eu preciso me reajustar para recebê-la novamente. Enquanto não fizer isso não estarei em paz.
MICAELA
28/04/19
-------------------------------Paula Alves----------------------------------


“SEI QUE COMETI ERROS, MAS A VIDA É SÓ ISSO?”

Eu gostava de sair, de passear. Estava sempre na turma, envolvida com festas e comemorações. Eu era muito sorridente e tinha muitos amigos, por isso, não me levavam muito a sério. Eu me apaixonei por Antônio assim que o vi e me encantei com ele. Comecei a nutrir um amor platônico porque ele era muito quieto e estudioso. Todos diziam que o pai era militar e o fazia estudar demais. Ele tinha muita disciplina e vivia num lar cheio de regras, totalmente diferente de mim.

Fomos convidados para o mesmo baile e eu nem acreditei quando o vi porque ele nunca ia às festas. Era importante para o pai dele que ele se aproximasse da dona da festa. Uma moça filha de um senhor requintado e culto. Eu não sabia e me aproximei de Antônio. Nós conversamos e eu percebi que ele gostou de mim. Fiquei tão feliz. Começamos a nos encontrar as escondidas e eu me apaixonei. Seria capaz de me entregar a ele, mas nem chegamos a pensar nisso. Eu disse que, se ele quisesse, eu poderia apresentá-lo aos meus pais. Isso porque almejava levar o romance a diante. Eu queria me casar com ele. Naquela época, uma moça sonhava se casar com o rapaz que fizesse seu coração bater mais forte. Nós não ficávamos escolhendo um ou outro e eu sabia que era ele.

Mas, ele não tinha esta certeza. Disse que os pais nem podiam sonhar que ele se encontrava comigo e que era melhor pararmos de nos ver. Eu quis saber o motivo, chorei. Ele me disse que eu era fácil. Eu não era moça para casar. Fiquei irritadíssima. Parti para cima dele e disse que ele não casaria com ninguém. Não sei de onde brotou aquela fúria. Acho que foi do meu orgulho. Ele foi embora e começou a namorar a moça requintada. Eu jurei que eles não se casariam. Inventei que estava grávida. Falei para todo mundo. Afirmei com tanta convicção que até eu acreditei, comecei a me sentir mal de verdade como se estivesse grávida, mas eu era virgem. O problema é que ele falou para o pai que nós não passamos de beijos e os pais fizeram um escândalo para defender o filho. Eu fiquei tão mal falada que meus pais tiveram que vender a casa porque estavam sendo apontados. Foi um escândalo! Eu queria tanto entrar vestida de noiva e nunca consegui.

Envelheci sempre obcecada com casamentos e noivas. Foi tanto que quando desencarnei fiquei perambulando em locais que remetiam a noivas. Eu chorava tanto, era tanta dor, tanta frustração. Eu acho que nunca ninguém será capaz de me desposar. Ninguém nunca será capaz de me amar por quem eu sou. Sei que cometi erros, mas a vida é só isso?
JOSETE
28/04/19

---------------------------Paula Alves-------------------------

“QUANDO NÓS FAZEMOS ALGUÉM SOFRER, CRIA UM VÍNCULO E ISSO GERA CORDÕES DE SOFRIMENTO PARA NÓS TAMBÉM”

Por um momento eu esqueci que casamento é bem mais que isso. Eu gostava do Armando, mas nós não conseguíamos conversar muito e ele estava sempre me irritando. Às vezes, eu preferia quando ele não aparecia lá em casa. Achava bom o momento da solidão porque eu não tinha que forçar gostar das suas piadas. Quando ele me pediu em casamento fiquei fascinada pelo anel. Ele fez tantos planos. Falou que eu teria o casamento dos meus sonhos e eu me iludi.

Fiquei feliz em pensar na festa, no vestido, nos padrinhos e na lua de mel. Eu passei a almejar e organizei tudo do jeitinho que sempre quis. Ele não poupava. Me fornecia tudo o que eu queria, assim fui em busca do casamento ideal. Tudo o que poderia me transformar numa princesa e tornar meu dia inesquecível. Passamos a ter bastante assunto porque tudo girava em torno do desenlace e parecíamos o casal perfeito. Todos imaginavam que estávamos muito felizes e até eu imaginei que estivéssemos vivendo esta felicidade. Eu construí o casamento perfeito, mas me esqueci do principal – o amor. Eu nunca o amei. Nunca senti prazer em sua companhia. Nunca senti tanta saudade e quis passar a vida toda ao seu lado, mas ele não sabia disso. Só que um dia, nós fomos ao aniversário de um amigo dele e conheci Sandro.

Naquele dia, tudo se transformou para mim. Eu senti tudo diferente. Uma sensação estranha de que eu já o conhecia e queria jogar tudo para o alto se pudesse ficar com ele. Não pensei duas vezes. Eu iria romper meu noivado, mas faltavam duas semanas para meu casamento. Estava tudo pronto, todos convidados e eu não queria mais me casar. Falei com Armandinho e ele saiu calado. No outro dia, recebi a noticia que ele havia ingerido grande quantidade de calmantes e morreu. Nunca me esqueci, senti um peso enorme nas costas e um aperto profundo no coração. Sempre me senti responsável pelo que aconteceu. Não me envolvi com Sandro. Não consegui. Nem com ele, nem com ninguém. Sei que Armando me perseguiu por muito tempo. Sei que ele foi socorrido e já reencarnou. Sei que, um dia, teremos que reparar tudo o que nos uniu porque eu o fiz sofrer. Foi por egoísmo que não pensei nos sentimentos dele e eu não sabia o quanto somos responsáveis pela felicidade das outras pessoas. Quando nós fazemos alguém sofrer, cria um vínculo e isso gera cordões de sofrimento para nós também. Eu ainda sofro e não sei como posso seguir com tanto remorso.
VIVIANE
28/04/19

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Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“EXISTE MUITO POTENCIAL ESCONDIDO EM OMBROS CURVADOS”

Minha vida havia tomado um rumo que eu não imaginava. Parecia um marasmo de problemas onde a solução estava sempre muito longe de mim. Sem trabalho, as contas chegando, filhos para cuidar e sem marido. Vi que, há qualquer momento, estaríamos passando fome. Eu orava tanto. Ia dormir, abraçava meus filhos, tão carente, tão sentimental. Eu precisava de alguém. Apesar de ter os meninos, ainda pequenos, eu me sentia sozinha para resolver aquela situação. Eu conhecia pessoas. Infelizmente, a maioria delas se afasta quando percebe que você precisa das coisas. Quando percebem que você não tem nada a oferecer. É o mundo do: quem é, é quem tem. E eu não tinha mais nada.

Porém, neste mundo ainda conseguimos encontrar pessoas que se preocupam porque são boas de coração. Tem muita gente boa. Eu as encontrava em toda parte. Acho que era por causa da minha oração. Eu conversava com o Pai, precisava me sentir acolhida por Ele. Eu falava por longas horas e pedia um clarão. Eu pedia uma luz e esta luz sempre vinha até mim em forma de gente.

Pessoas boas que facilitavam a passagem do ônibus para eu procurar emprego. Uma vizinha que oferecia uma torta tão gostosa. Roupas em bom estado para meus filhos, calçados, material escolar. Enfim, eu recebi de tudo, de todos os lados. Eu recebi tanto, mas queria um emprego. Eu precisava ter dignidade de novo. Eu queria levantar a cabeça e ter uma refeição decente saída da minha própria carteira. Então, Noemi disse que facilitaria minha entrada na firma. Fiquei ansiosa, rezei muito e quando recebi o telefonema da Telma nem acreditei. Eu precisava me controlar, mas não consegui. Falei pra moça o quanto seria grata por toda minha vida. E sou. Tudo mudou a partir daquele momento. Tudo foi diferente. Tudo o que muitas pessoas precisam é de apenas, uma oportunidade de mostrarem o quanto são capazes de tocarem suas próprias vidas e dos seus.

EXISTE MUITO POTENCIAL ESCONDIDO EM OMBROS CURVADOS.

Eu tive uma chance e não desperdicei. Trabalhava sem cansaço, com ânimo e disposição porque senti que aquele emprego era um presente de Deus. Um presente que, um dia, eu teria a chance de retribuir a alguém e foi o que eu fiz. Fiquei de olhos bem abertos para retribuir o bem por toda parte. Onde eu via uma forma de ajudar e fazer alguém sorrir, eu fazia com gratidão. Na certeza de que meu Pai estaria me observando. Era para Ele que eu fazia, apenas por gratidão.

Portanto, não era para ganhar nada porque eu já tinha muito. Só para agradecer.

Hoje estou aqui, agradecida por mais esta chance que tenho de me elevar e justifico esta necessidade que tenho de prestar auxílio para o meu semelhante. Eu me acostumei. Não imagino minha vida na inércia. Enquanto eu estiver aqui, estou inclinada a realizar os trabalhos que colocarem ao meu alcance. Tudo é tarefa nobre. Limpar o ambiente, ouvir, consolar. O que eu não souber fazer, eu posso aprender. Tudo o que quero é servir doutor. Sou muito grata.
MARIA CONCEIÇÃO
20/04/19

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"TOMEI VERGONHA NA CARA"

Eu precisava tomar um trago antes de ir para casa porque era desta maneira que eu relaxava e meu trabalho era bem exaustivo. Eu não trabalhava no carreto porque adorava, mas porque era só isso que eu tinha pra fazer. Eu precisava sustentar minha família, mas era muito cansativo e eu ainda tinha que chegar em casa e resolver as questões da casa com minha mulher. Sempre tinha alguma coisa para resolver e eu estava tão cansado. Então, passava no bar, tomava um gole e ganhava um fôlego. Mas, quando você passa no bar todo dia, você tem que abrir conta porque não é todo dia que a gente tem dinheiro para pagar. Quando chegava no fim do mês, eu sempre acertava todas as minhas dívidas, mas naquele mês teve final de campeonato e o meu time foi campeão. Eu paguei uma rodada pra moçada do bar. Quando cheguei em casa depois do trabalho, um frio, tudo escuro, minha mulher estava desesperada. Já estava se arrumando para ir atrás de mim quando eu entrei.

A Érica estava queimando de febre. A menina tinha seis anos, pequenininha, raquítica a coitada. Tava quase desmaiando, fiquei horrorizado com a situação da menina. Minha mulher só faltou me bater quando sentiu o cheiro de pinga. Ela chorou. Pediu dinheiro para pegar um ônibus porque precisava levar a menina no hospital e eu não tinha. Ela ficou indignada. Me disse para sair e pedir pros meus amigos do bar. Lá, eu ia conseguir. Eu pensei mesmo que ia conseguir, mas o dono nem mesmo abriu a porta pra mim. Eu fui ao vizinho e ele me ouviu, nem me emprestou o dinheiro. Ele se vestiu rapidamente, pegou o carro e levou a gente ao hospital. Esperou a menina passar no médico, comprou o remédio para minha Érica e falou que podia chamar por ele, a qualquer hora, sem hesitar.

Eu nem acreditei no que aconteceu. Minha filha ficou boa, mas eu nunca esqueci o que ocorreu naquela noite.

TOMEI VERGONHA NA CARA.

Serviu de exemplo para mim. Fechei minha conta no bar, falei para o dono o que ocorreu. Parei de beber. Agradeci meu vizinho do fundo do coração por tudo o que ele fez por nós. Eu nem falava com ele. Ficamos muito amigos e eu comecei a olhar a vida de outra forma.
PARECE QUE UM MUNDO NOVO SE ABRIU PARA MIM.

Nem sei explicar. Foi como se eu estivesse dormindo e, de repente, acordasse para dar mais valor ao que é realmente importante. Eu orei tanto por ele, seu Marcos foi meu grande amigo que apresentou a vida num prisma totalmente diferente, com mais responsabilidade e valores. Ele desencarnou, eu sofri muito a perda dele. Mas, toquei a vida pensando sempre no bem estar da minha família que havia se tornado minha razão de viver. Quando vim para cá, anos depois de sua partida, tive a honra de me encontrar com ele. Reatamos nossa velha amizade, o que me deixou muito feliz e soube que minhas orações, minha gratidão, minha lembrança do dia em que ele ajudou minha menininha, banhavam o Espírito dele, enchiam-no de luz. Isso tudo o fortaleceu. Seu Marcos disse que eu o beneficiei. Nunca poderia acreditar que minhas recordações estariam beneficiando meu caro amigo. Eu sempre serei grato.
OSVALDO
20/04/19

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“EM BREVE ESTAREI EM SEUS BRAÇOS AMIGA. ME AGUARDE COMO BISNETINHA”

A doença chegou com violência. Veio arrasando meu organismo e num período curto de tempo me fez sofrer deveras. Muitos se afastaram, mas minha amiga Rosana foi meu alicerce. Me fazia sorrir e não se afastava nem nos dias de mau humor em que eu gritava com todos, até com ela. O mais difícil foi superar minha vaidade. Eu adorava meus cabelos e ter que perdê-los, simbolizava a perda da minha beleza e feminilidade. Eu sofria só de pensar que ficaria sem eles.

Então, Rosana me fez uma surpresa que nunca vou esquecer. Ela cortou os seus cabelos para me fazer uma peruca. Rosana chegou em casa com cabelo tipo Joãozinho. Com um embrulho ricamente decorado. Eu não sabia o que dizer. Fiquei boquiaberta com o corte dela. Peguei o embrulho e peguei a peruca. Eu gargalhava. Não acreditava que ela me dava demonstrações de virtude até naquela hora. Como ela é especial em minha vida. Todos os momentos foram maravilhosos. Eu fiquei calma porque soube que meus filhos sempre estariam bem acompanhados. Eu sabia que eles sofreriam pouco por causa da presença dela. É uma relíquia. Um tesouro uma amizade assim. Acredito que existem pessoas que vivem uma vida toda sem saber o que é uma amizade destas. Onde a pessoa não quer nada de você. Ela só quer o seu bem. O seu sorriso e a sua felicidade é o que importam para ela. Eu agradeci tanto porque notei isso antes de partir. Eu pude abraçá-la, pude olhar para ela e dizer que ela nem precisava se desfazer dos cabelos porque eu já tinha aprendido tanto com ela. Eu aprendi com os exemplos dela e aprendi sentindo.

Eu senti o amor dela por mim em todos os momentos. Eu senti a lealdade, a humildade dela, todas as virtudes que nos uniu por tantas existências e nos unirá mais uma vez. Hoje ela está bem experiente, uma senhora amorosa e delicada que aconselha e serve a todos que se aproximam dela, a verdadeira vovozinha.

Solicitei nossa reaproximação. Ainda temos muito a viver juntas. Uma ligação tão nobre que nos permite avançar e eu consegui. Em breve estarei em seus braços amiga. Me aguarde como bisnetinha. Seja forte como sempre. Às vezes, para sorrirmos precisamos passar por algumas provações, mas você gostará muito de mim. Eu te amo para sempre. LUCIANA
20/04/19

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“NÃO SEI COMO TANTA GENTE NÃO CONSEGUIU ENTENDER A EXPLICAÇÃO DO MESTRE”

Ela morava na minha rua e eu sabia que passava por situações complicadas envolvendo os filhos. Acho que, ao invés, da gente ficar julgando, devemos fazer o que nos cabe nesta sociedade. Eu fui até lá para ver se ela precisava de alguma coisa. Eu a conheci e entendi que a família era bem difícil. Cada um dizia uma coisa. Falavam que ela era má e merecia os padecimentos porque tinha o coração de pedra. Eu não sei. Para mim, ela sempre foi uma boa pessoa. Tão educada, cordial.

Fizemos amizade e eu me preocupei com ela. Passei a levar mantimentos e soube que os filhos pegavam tudo o que eu levava. Tentei ter paciência. Comecei a levar as refeições prontas, ela comia, nós conversávamos. Depois, ela foi ficando cada vez mais debilitada. Eu dava os banhos e as refeições. Meu marido me criticava, dizendo que os filhos estavam me fazendo de escrava, que ela não era parente minha e eu era uma tonta. Eu me sentia ofendida, mas considerava que ela precisava de mim.

Eu gostava tanto dela e não podia abandoná-la também. Eu não tinha motivos para isso, além do mais, não acho que nós devemos jogar a responsabilidade de um para o outro e todos deixarem os necessitados a míngua.

Eu trabalhava como auxiliar de limpeza no hospital. Ela precisou de cirurgia de emergência, eu consegui a internação e os melhores cuidados que aquele local poderia fornecer a ela. Estive presente no dia do seu desencarne e não me arrependo de nada que fiz por amor a nossa amizade. Cansei de me perguntar por que ela sofria o desprezo daqueles filhos e eu a queria um bem enorme. Só compreendi quando cheguei aqui. Nós já estivemos unidas como mãe e filha, por isso, eu me sentia tão próxima dela. Ela havia sido uma mãe extremosa e eu realmente devia muito a ela de existências anteriores. Mas, na última encarnação, ela pediu a prova de ser mãe de pessoas desconhecidas. Ela queria testar e desenvolver suas virtudes, sua paciência. Os filhos não aceitavam suas ordens, não aceitavam o disciplinamento. Eles se revoltaram. Não souberam honrar e a desprezaram, julgaram seus métodos de mãe. Eu não julgo.

A CADA UM SERÁ DADO SEGUNDO AS SUAS OBRAS.

Deus colocou suas Leis para nos disciplinar. Não é castigo. É Lei! È necessário para o nosso progresso. Todos deverão se reajustar pelo que fizeram a ela. Por tudo o que deixaram de fazer. Eu só agradeço pelo tempo que passamos juntas novamente. Foi uma honra. Entendi que, nesta vida, as pessoas vão e vem com corpos que nos disfarçam. Somos as mesmas pessoas que voltam um pouco melhores, na maioria das vezes. Estes disfarces, os corpos novos, fazem com que tenhamos a obrigação de sermos delicados com todos porque nunca sabemos quem é que está cruzando nosso caminho. Pode ter sido alguém tão caro para você aquele que é o pedinte. Pode ter sido tão caro para você aquele que trabalha como seu subalterno. Isto é Bíblico! Não sei como tanta gente não conseguiu entender a explicação do Mestre. TRATAR TODOS COMO IRMÃOS PORQUE É ISSO QUE SOMOS. IRMÃOS!
MARA 
20/04/19

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Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“ENFIM, A GENTE SEMPRE APRENDE, DE UM JEITO OU DE OUTRO, A GENTE APRENDE”
O que as pessoas não entendem e eu também não entendia é que todo mundo passa por provas que são necessárias ao nosso adiantamento. Eu não conseguia entender que não era castigo. Eu tinha que passar por situações que poderiam abrandar meu coração. Situações necessárias para que enxergasse a verdade, que pudessem me guiar para um caminho de luz. Situações que me fizessem perceber que existiam pessoas precisando de mim, enquanto eu era egoísta e orgulhosa.

Eu não vi nada disso enquanto estava encarnada e nunca me interessei por questões espirituais porque eu era jovem, bonita e tinha muitas coisas para fazer. Eu achava isso tudo coisa de fanáticos ou pessoas solitárias, sem perspectivas de vida. Enfim, a gente sempre aprende, de um jeito ou de outro, a gente aprende. Eu desencarnei depois de um tolo acidente de trânsito. Claro que envolveu bebidas e imprudência. Claro que eu tive culpa em tudo o que aconteceu, ainda mais porque envolveu outras vítimas. Desencarnei e, como tantos outros, eu não quis acreditar que meu corpo havia morrido. Eu não quis acreditar que havia mudado de plano e que tudo isso é uma realidade muito mais ligada a nós do que o plano físico que tem suas ilusões da materialidade.

Eu fiquei confusa, atordoada, revoltada e ainda fui perseguida por todos que me culparam por meus erros. Hoje estou bem, fui socorrida e agradeço muito por tudo o que recebo aqui, mas é mais difícil quando se está lúcido. As imagens ficam latentes em nós e eu revivo tudo, o tempo todo. Sei que preciso superar. Acho que seria mais fácil se tivesse a compreensão que tenho hoje, mas às vezes me pergunto, do jeito que fui presunçosa, será que eu ia me esforçar para melhorar, para observar meus deslizes e superá-los ou ia discordar de tudo e justificar meus erros tolos?

O que eu não aprendi na carne, estou sendo obrigada a aprender agora, mas é muito pior quando se tem este peso nas costas. Sei que existem muitos como eu. Sei daqueles que estão nos templos, nas igrejas ou nos centros. Tantos que dizem conhecer isso ou aquilo. Tantos que já decoraram os versículos e não absorveram a palavra. Tanta gente igual a mim, só que eles tiveram a oportunidade de conhecer a verdade e não quiseram se nutrir dela.
ISABEL
15/04/19

-----------------------------Paula Alves---------------------

“PRA QUÊ EU IA SOFRER SE TINHA GENTE QUE PODIA ME SUSTENTAR?”

Era muito mais fácil pedir. Eu nunca gostei de acordar cedo. Pegar no pesado não era para mim.
Só porque nasci pobre? Tinha que ser obrigado a pegar na enxada? Bater laje? Porque para o pobre sempre sobra o que é de pior?

Você vai me falar que é porque não teve estudo e precisa fazer serviço braçal. Eu até entendo que não faz sentido os engomados sujarem as mãos, mas para nós sempre sobrou só o que era de pior.
Eu fugi mesmo. Fugi da roça, fugi da enxada. Não aceitei aquilo para mim. Eu ouvia a mãe dizer que a gente tinha que ter ambição, eu tive, mas só tinha ambição e mais nada, tive que me conformar.

A verdade é que eu tentei casar com mulher boa de vida, mas não deu. A dona do buteco me colocou para correr dizendo que eu era um vagabundo. Eu a tratei com a maior delicadeza e ela me enxotou. Foi melhor. Depois tentei trabalhar na fábrica, já não era leve. Você acha que eu consegui? Falaram um monte de coisas para me dispensar. Então, fiquei no quartinho da minha mãe. Tentava trabalhar e não conseguia, vi que no trem era só esticar a mão que davam moedas. Ninguém nem olhava para gente, só dava a moeda e saia de perto. Eu ganhei um dinheiro que me fez pensar.

Pra quê eu ia sofrer se tinha gente que podia me sustentar?

Eu não queria viver de luxo não, mas já tinha trinta anos e não consegui trabalho que eu podia executar. A sociedade tinha que fazer alguma coisa por mim. Mãe até estranhou quando cheguei com a pizza. No outro dia, fui para o trem de novo. Mãe morreu e eu não podia mais contar com ela. Aí pensei: “agora vou ter que aumentar a renda pra pagar as contas da casa”. Fiz um disfarce na perna, uma ferida bem feia e fui pra calçada. Todo mundo acreditou e eu ganhei dinheiro assim por um bom tempo, só que, de repente, a perna começou a doer de verdade. Até achei um pouco estranho porque eu nunca tive problema de saúde.

Você acredita que eu tive um problema horrível na perna de verdade?

Na mesma época, a prefeitura quis me tomar a casa da mãe porque falou que eu nunca paguei imposto. Quiseram até cortar minha perna. Eu fugi do hospital.  Onde já se viu cortar minha perna. Foi terrível o meu fim. A doença da perna se agravou e comprometeu meu corpo inteirinho, mas não antes de eu perder a casa, pedir abrigo pra parente que me enxotou e ter que morar na rua mesmo. Morri com aquela perna em estado precário. Eu nem conseguia olhar e a dor acabou comigo, eu gritava.

Desencarnei, nem sei que dia. Ninguém nunca pensou em mim. Taí a perna... Agora que tá melhorando. Tá vendo, ainda tem um lugarzinho aqui pra fechar. Eu acreditei tanto na minha história. Doença que eu mesmo criei. Fui inútil, mentiroso. Tomei do meu próprio veneno. Pior: usei de má fé. Enganei as pessoas, usei seus sentimentos de misericórdia para me beneficiar e nunca quis colocar meu plano reencarnatório em prática por pura preguiça. Eu já entendi tudo isso doutor. É duro perceber que eu tenho tanta culpa. Eu nem merecia este acolhimento, tenho até vergonha de me lembrar, mas eu sou vagabundo mesmo, nunca gostei de trabalhar. Sei que da próxima vez, vou expiar estes erros e tudo indica que precisarei renascer com problemas na perna para conseguir reparar meu corpo perispiritual. De qualquer forma, eu agradeço por me fazer compreender coisas que eu não conseguia entender.
EDIVALDO
15/04/19

-------------------------------Paula Alves---------------------

“EU DEMOREI PARA ENTENDER FILHO QUE QUEM AMA, SOLTA”

Imagina ver meu filho sofrer... Eu sentia dor só de pensar que ele podia se ferir ou ficar dente. Eu sempre fui uma mãe superprotetora. Desde pequeno, meu Raul teve todas as atenções voltadas só para ele. Eu não quis ter mais filhos para me dedicar exclusivamente à ele. Confesso que meu marido até me irritava quando me pedia atenção porque eu não podia deixar o menino dormir sozinho naquele quarto enorme, então, me mudei para o quartinho dele. Anos depois, foi esta a justificativa que ele usou para me pedir a separação, disse que nunca mais eu fui sua esposa. Aí ele se casou com outra, quinze anos mais jovem que eu. Tá bom.

Raul tinha a mamãe e eu tinha meu filho querido. Sempre cuidei de tudo e ficava tão preocupada quando ele saia que não o deixava sair szinho, mas percebi que meu filho estava se constrangendo e passei a segui-lo, discretamente. Só que os amiguinhos dele, rapazinhos de uns quinze anos, debocharam de mim e Raul ficou chateado.

A vida foi se tornando mais difícil neste período da adolescência. Logo, ele quis namorar, mas nunca soube escolher mulher, coitado do meu filho. Todas foram interesseiras. Meu filho estudou engenharia e ele era um bom partido. Eu não podia deixar que ele escolhesse qualquer uma para desposar. Eu conversei tanto com ele e fiquei tão preocupada porque ninguém cuidaria dele melhor do que eu. Raul tinha crises de bronquite. Aí numa tarde, quando eu disse claramente que ele iria arruinar sua vida por causa daquela mulherzinha, ele resolve me dizer que as crises de bronquite foram porque eu nunca permiti que ele respirasse aliviado.

Disse que eu o sufocava, que eu decidia tudo por ele e eu o estava perseguindo. Ele saiu de casa e me deixou. Eu quase morri ali mesmo. Seria bom se tivesse morrido para ele sentir bastante remorso – pensei naquela ocasião. Claro que ele casou com ela só para me afrontar porque a guerra estava travada. Não fui ao casamento. Ele não percebia que eu fazia tudo por ele, eu mudei minha vida por ele, abandonei até o casamento para cuidar bem dele.

Antes de desencarnar vítima de câncer de estômago, ele foi me visitar no leito do hospital e me pediu perdão. Eu estava muito magoada e não o perdoei. Naquele dia, eu estava me sentindo ofendida porque me senti rejeitada. Ele foi um filho ingrato me trocando por uma mulher que ele nem conhecia. Eu nem sabia que ela estava grávida. Ele saiu chorando e quando padeci os momentos finais, senti muito a falta dele. Saí do corpo e fui direto ao seu encontro. Ele estava sofrendo demais e se lembrou de muitos momentos em que fui acolhedora e carinhosa. Ele me amava. Eu vi cenas onde fui uma mãe tão louca, doentia. Eu não criei meu filho para o mundo, eu não o preparei para ser independente e nem cuidei de mim ou do meu compromisso com o pai dele. Eu fui possessiva.

SENTI QUE AQUILO QUE SAIU DO MEU VENTRE ERA MEU, MAS ELE É DE DEUS, ASSIM COMO EU TAMBÉM SOU.

Eu percebi naquele dia, o quanto estava errada porque eu o amava tanto e ele estava se sentindo mal, eu não podia fazer nada para ajudar. Ele sofreu muito com minhas palavras e sempre foi um bom filho. Até se anulou por mim, diversas vezes. A esposa dele é maravilhosa, ele teve sorte. O filhinho deles é lindo, ela será uma mãe bem melhor do que fui e ele é um pai excelente. Eu nem preciso te perdoar Raul, você é que devia perdoar esta mãe tão cheia de erros.
EU DEMOREI PARA ENTENDER FILHO QUE QUEM AMA, SOLTA.
VERÔNICA
15/04/17
-------------------------------------------Paula Alves--------------------------------

“TODOS NÓS PODEMOS ASSUMIR PAPÉIS NA SOCIEDADE”

Eu tenho até vergonha de dizer. Casei por amor. Eu nem conseguia olhar para ele que meu coração batia mais forte, parecia até que ia explodir. Tive uma filhinha linda e muito carinhosa, mas quando ela estava com dois anos, conheci o professor de natação e fiquei entusiasmada com ele. Não seria capaz de trair meu marido, de jeito nenhum, mas sorria para ele diferente. Eu gostava de conversar com ele. Depois de alguns anos de casamento, responsabilidades, criança pequena, a gente acabou se distanciando um pouco e comecei a rever tudo o que envolvia meu casamento. Então, notei tantas falhas no meu marido. Tinha tanta coisa que eu não gostava, mas aturava porque não tinha como mudar o outro.

Fui perdendo a paciência, fui me irritando e ele percebeu que eu estava mudada. Um dia, ele resolveu me fazer uma surpresa e foi nos buscar na natação. Ele viu o jeito que eu olhava para o professor e bastou isso para termos uma briga feia. Eu me recusei a ouvir tudo o que ele tinha a dizer e pedi a separação. Meu marido nem acreditou, pediu para conversar, mas eu estava iludida e não quis dar o braço a torcer. Acho que, de alguma forma, eu pensei que podia ter um futuro com o professor de natação. Sem acordo, nós nos separamos. Eu sofri a ausência dele, mas não quis voltar atrás. Cedi as investidas do professor. Eu me encantei com ele, mas só durou uma noite e logo em seguida ele pediu para trabalhar em outro local. Eu fiquei sozinha com minha filha. Repensei tudo o que havia feito e decidi pedir perdão para meu ex. Dizer que eu estava errada e arrependida, mas não deu tempo. Ele sofreu um acidente e desencarnou com um golpe muito violento. Eu nunca mais me esqueci. Fiquei tão revoltada.

ACHO QUE A REVOLTA SIGNIFICAVA QUERER GRITAR COM ALGUÉM, BRIGAR COM ALGUÉM E NÃO PODER PORQUE A CULPADA ERA EU.

Não tinha como consertar a família que eu destruí. Não tinha como pedir desculpas ou voltar atrás. Eu fiquei amarga. Sabe daquelas pessoas que parecem mais velhas do que realmente são?
Sabe daquelas pessoas que estão sempre sozinhas porque ninguém quer por perto?

SABE POR QUÊ?
Eu só reclamava, não achava graça de nada, não tinha senso de humor, não era agradável com ninguém. Isso porque eu não me permitia ser feliz.

TODOS NÓS PODEMOS ASSUMIR PAPÉIS NA SOCIEDADE.

Eu poderia ter reconstruído a minha vida porque eu ainda era jovem quando o Fábio morreu, mas eu me culpei tanto que me enterrei junto com ele. Não sei pensar diferente disso. Não sei como posso olhar a vida com cor e ver coisas boas. Eu não sei ser otimista porque tudo deu errado comigo.
TAÍS
15/04/19

     ---------------------------------Paula Alves-------------------------- 


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias



“QUEM ENCONTROU O SEU AMIGO LEAL DEVE TRATÁ-LO COM TODO O RESPEITO PORQUE AMIZADE É OURO, UMA DAS MAIORES RIQUEZAS QUE PODEMOS TER”

Eu fiz inúmeros esforços para que eles pudessem se encontrar. Meus propósitos eram de vê-los bem e felizes. Achei que poderia minimizar as influências maléficas daquela vida desregrada, se eles tivessem bons exemplos. As amizades podem nascer de pequenos olhares. Muitos se tornam amigos após uma breve coversa numa fila de supermercado. Outras pessoas ficam indignadas com algum acontecimento e podem discursar por horas com quem nunca haviam notado. Vizinhos que se amparam como verdadeiros irmãos, enfim, todos nós temos potencial de sermos reais irmãos uns dos outros. Basta a primeira impressão, o primeiro impacto, um bom papo.

Fiz tudo o que foi possível para colocar um no caminho do outro e também suas esposas. São frações de segundos e, se eles teimam, perdemos uma chance preciosa, mas bastou um dia. Um dia em que parecia terrível o acontecimento e as esposas puderam se aproximar. A criança se machucou e elas se ampararam. Dali brotou a semente fértil da amizade. Elas se compreenderam e uniram toda a família. Amizade de mais de trinta anos que rendeu muitos frutos. Vícios foram eliminados, fé fortalecida, eu pude ficar mais tranquilo quando percebi que minha filha poderia contar com o apoio de pessoas tão lúcidas para ampará-la na luta contra o alcoolismo.

QUEM ENCONTROU O SEU AMIGO LEAL DEVE TRATÁ-LO COM TODO O RESPEITO PORQUE AMIZADE É OURO, UMA DAS MAIORES RIQUEZAS QUE PODEMOS TER.

Ainda mais porque amizade é tesouro adquirido que jamais se perde se sabemos bem conservar. Riqueza que levamos para outras vidas. Sei que vão ser unidos para sempre porque muitos casos de amizade nada mais são do que reencontros. São amores do passado, mães ou pais de outras vidas, pessoas que se afinizaram tanto e não vão se perder independente do tempo ou da situação. Além de vibrar de forma tão semelhante que estão sempre se atraído.

BEM AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO.
MIGUEL
06/04/19

---------------------Paula Alves---------------

“MUITO TRISTE SABER QUE ESTÁ POR UM FIO”

Eu me debati tanto naquela água. Foi muita aflição. Eu só pensava na criança porque a água veio com muita força. Eu estava voltado do trabalho e minha filha estava com a avó. Ela estava me esperando para irmos juntas para casa. Enquanto eu me debatia na água gelada só lembrava do rostinho dela. Eu imaginava que tudo aquilo não acabaria bem, tive medo e angústia porque queria minha casa e minha família.

MUITO TRISTE SABER QUE ESTÁ POR UM FIO.

Muito triste pensar que não tem mais nada a fazer e nem tem ninguém para pedir ajuda. Eu lembrei de Deus. Eu clamei. Ainda deu tempo de chorar e o desespero tomou conta de mim quando senti a fraqueza nos meus braços. Foi sorte ter batido a cabeça na pedra porque eu desmaiei e nem tive consciência do resto. Quando eu despertei parecia que estava na lama. Eu só pensava na minha filha e fui direto para minha casa. Foi difícil perceber que eles não me viam, eu estava me arrastando com dores, suja, ninguém me ouvia, ninguém me via e vi Laurinha chorando com minha roupa na mão. Eu sentei no chão e chorei muito. Lembrei de coisas que disse, eu vi, ali mesmo, situações onde reclamei do que não tínhamos, das dívidas, da cama que estava com o pé quebrado. Eu lastimei não ter dinheiro e ralhei com a menina por falta de paciência.

Vi meu esposo, ele estava desesperado, me amou tanto.

POR QUE EU NÃO VALORIZEI NADA?
POR QUE EU NÃO APROVEITEI TUDO O QUE EU TIVE DE BOM?

Foram anos com eles e eu querendo ter o que não tinha. Não tinha carro, mas tinha saúde para caminhar e eles tentavam me alegrar cantando musiquinhas que eu não queria ouvir. Eu sinto muito. Eu queria poder voltar atrás. No momento em que estava me afogando, eu reclamei com Deus, blasfemei, nervosa, mas eu sempre fiz isso.

EU FUI TÃO INGRATA, SEMPRE RECLAMEI DO QUE TIVE.

Eu mereci tudo. Ele me tirou tudo porque eu não soube dar valor. Queria que eles soubessem que eu sempre estive errada. Eu os amei do meu jeito. Peço perdão porque eles mereciam muito mais do que pude dar.
MANUELA
06/04/19

-----------------------Paula Alves-------------------

“EXISTEM MUITOS COMO EU. EGOÍSTAS E COM SENSO DE SUPERIORIDADE POR CAUSA DE UM SIMPLES DIPLOMA”

É um dos maiores crimes morais quando você tira a esperança de alguém. Na época, eu não percebi isso. Nunca fui severo almejando ajudar. Poderia dizer que era para a pessoa superar logo a fase difícil e partir para outra etapa, mas  era apenas para ela sair da minha sala mesmo.

EU NÃO TINHA MUITA PACIÊNCIA COM NINGUÉM E NEM ACHAVA CORRETO FICAR ENXUGANDO AS LÁGRIMAS DOS SOFREDORES.

As famílias é que tinham que cuidar das dores dos sofredores, não eu. Fui médico e nunca tive a intenção de aliviar o diagnóstico, nem de propor que se erguessem na base da fé porque eu não acreditava em nada disso. Mas, não poderia saber que muitos se entregaram de verdade após sair do meu consultório. Muitos definharam e se entregaram à doença. Alguns abreviaram sua morte e me culparam muito pelo fim.

EU NÃO PODERIA SABER SE A JUSTIÇA NÃO FOSSE TÃO IMPLACÁVEL.

Todo aquele que acionar a Lei que tenha forças para passar pelas devidas circunstâncias. Eu acionei, não tardou para sentir na pele o que fiz meus pacientes passarem.

EXISTEM MUITOS COMO EU. EGOÍSTAS E COM SENSO DE SUPERIORIDADE POR CAUSA DE UM SIMPLES DIPLOMA.

Direito adquirido para auxiliar o semelhante, que usamos indevidamente para lustrar nossa vaidade. Eu atraí outro parecidinho comigo porque todos nós na carne temos as mesmas necessidades físicas e eu também necessitei de cuidados médicos, mas a doença não escolhe o sexo, a cor e nem a conta bancária. Meu colega não aliviou as palavras duras para me diagnosticar como paciente terminal e ainda me criticou dizendo que, se eu tivesse me cuidado melhor e realizado os exames preventivos, certamente não teria que passar por um fim tão doloroso como seria inevitável. Eu saí transtornado quando ele disse que não tinha nada a fazer e seria uma pena deixar uma esposa tão bela como viúva.

ATÉ ONDE VAI O DISPARATE DAS PESSOAS?
Eu mereci. Senti de verdade todas as aflições que fiz passar meus pacientes. Dor, angústia, medo, pensei finalmente no que existe depois da morte. Eu nunca havia tido motivos para pensar no fim. Eu tive dúvidas e curiosidades. Queria saber o que diziam sobre a morte porque eu não queria acabar. O cúmulo do egoísta, se achar tão essencial para a humanidade que não quer que sua mente se perca no nada. Por isso, estou aqui. Após peregrinar por tanto tempo. Após ver meus despojos físicos. Após fugir de meus pacientes que sofreram tanto por minhas duras palavras. Já nem sei mais o que pensar. Tanto conhecimento me transformou num ser implacável demais e eu preciso me libertar de mim mesmo.

NÃO QUERO MAIS JULGAR E OFENDER.

Como posso ser mais manso?
ATAÍDE MENDONÇA
07/04/19

---------------Paula Alves-------------
“EU NÃO QUERIA LEMBRAR, SÓ QUERIA REVIDAR, MAS SENTI, SOFRI E ME ARREPENDI”

Eu esperava ela dormir e chegava de mansinho no quarto. Demorei para entender que ela sentia minha presença. Demorei para entender que ela conseguia me ver no sonho. Eu me arrependo porque no início eu só queria assustar. Mas, ela começou a ficar apavorada. Eu me fazia pior do que era. Eu conseguia saber dos medos dela e da aparência que ela mais odiava. Era esta que eu usava. A coitadinha suava, acordava em delírio e os pais notaram que ela não queria mais dormir. Eu ria satisfeito. Parecia uma diversão perceber o quanto ela sofria por tão pouco porque eu não podia lhe fazer mal, mas ela ficava desesperada.

O problema é que ela não queria mais pregar os olhos com medo de mim, aí começou a tomar remédios que eram verdadeiras drogas para ficar acordada e passou a ter alguns problemas de saúde. Os problemas emocionais foram inevitáveis, pânico e confusão mental por causa dos remédios, síncope cardíaca, enfim, ela ficou mal, perdeu peso e não conseguia mais estudar. Eu não conseguia perceber que estava na hora de parar com o revide. Tenho que agradecer muito aquela amiga da família que orientou e falou de mim para elas. A mãe, no início não quis acreditar em Espíritos, mas estava tão preocupada com a filha que deixou o preconceito de lado e entrou na casa espírita.

Lá, eu fui aconselhado, vi cenas do passado, onde fomos amigos, amantes e vivemos uma bela história de amor, até que ela me traiu e me deixou muito irritado.

EU NÃO QUERIA LEMBRAR, SÓ QUERIA REVIDAR, MAS SENTI, SOFRI E ME ARREPENDI.

Eu nunca deixei de amá-la.
O AMOR É O MAIOR SENTIMENTO QUE EXISTE.

Quem se entrega ao amor pode se libertar dos seus erros e tentar novamente ser feliz, acertar. Eu aceitei a ajuda. Que bom que fui acolhido porque, no fundo, desejo que ela seja feliz. Quem sabe um dia poderemos nos reencontrar e conversar sobre tudo o que aconteceu. Eu não desejo o mal dela.
MAURÍCIO
07/04/19
     

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