Cartas de Maio (16)

Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias

“DEUS FAZ TUDO PERFEITO, POR ISSO, A GENTE DEVE CONFIAR E NÃO SOFRER EM DEMASIA”

         Aquela barriga era toda a minha vida. Eu sempre almejei ser mãe. Sempre sonhei com o dia em que cuidaria de um pequenino ser e poderia ofertar a ele todo o meu amor. Tive muita sorte quando encontrei o Rafael e nos unimos em matrimônio. Meu esposo fazia tudo por mim e tínhamos um relacionamento de cumplicidade e amor. Mas, nos primeiros meses de gravidez, percebi que não era tão fácil assim gerar um ser. Eu sentia enjoos e tive descompensações que me fizeram desfalecer. Eu pensei que não iria suportar tantas idas ao médico, mas achei que tudo passaria em alguns meses e eu teria meu presente nos braços.
         Superei, mas tive receio que minha felicidade não duraria para sempre. Sabe quando você quer muito uma coisa e teme não tê-la? Eu queria tanto aquele filho que não poderia suportar sua perda. Tomava as maiores precauções para proteger minha barriga, foi a época em que mais cuidei da minha saúde. Tudo para que meu bebê tivesse plena saúde e conforto no meu ventre. Os meses se seguiram e eu passando mal, fiz alguns exames e o médico me trouxe uma notícia que me deixou perplexa, o bebê corria risco de vida, mas como? Eu fazia de tudo para protegê-lo. Ele disse que eu tinha que fazer repouso, não deveria me emocionar em demasia, mas isto bastou para que eu ficasse desesperada. Tive que aguardar o passar do tempo, imensa ansiedade para saber como estava meu filho, afinal, os exames não eram tão sofisticados naquela época, mas o que eu mais temia aconteceu.
        
         O dia do parto chegou, nós sofremos muito e ainda assim, tive a notícia mais dolorosa da minha vida. O meu bebê era anencéfalo. Ele não poderia suportar a vida por um longo período de tempo. O médico não sabia prever, mas poderia viver algumas horas apenas. Eu o queira comigo, olhei para ele e vi que era disforme, um rosto contorcido, tinha dificuldade para respirar, sofria o pobrezinho e eu sofri com ele. Era como se ainda estivéssemos ligados, eu sentia que ele estava sofrendo e eu não desejava ver meu bebezinho sofrer. Eu chorei tanto, pedi a Deus que o encaminhasse. Eu queria tê-lo comigo, mas não sofrendo sem condições de viver ou de apenas respirar.

         Fiquei ao lado da encubadora. O tempo que durou parecia a vida toda, longa a espera de sei lá o quê que pudesse aliviá-lo. A morte chega como um bálsamo. Naquele momento vi como se fosse uma libertação. Claro que sofri, sofri de um desespero, de uma frustração, de um abandono. Foram oito meses, sentindo aquele filho e, sendo com ele, uma mãe que o desejava, de repente, perdê-lo doeu muito, mas o egoísmo não poderia imperar naquela situação e agradeci a Deus quando o vi silenciar. Eu passei a vida toda me questionando porque meu bebê deveria passar por tudo aquilo. Eu me culpei achando que fosse por algum erro meu, como se fosse castigo. Eu consegui outros filhos que me trouxeram muita felicidade. Eu os amo demais, mas quando cheguei aqui só quis saber por que vivi aquilo e o que aconteceu dele. Meu filho estava aqui à minha espera e me abraçou, em forma de homem maduro e experiente me explicou que precisava muito daquele ventre e daquele corpo deformado para que pudesse reestruturar seu corpo perispiritual. Isso porque, por imprudência, havia danificado causando perturbações psíquicas que careciam de intensa atenção.

         Ele me agradeceu por toda emanação de amor. Disse que, depois daquilo, ainda necessitou de outros ventres para adquirir aquela forma perfeita e que, neste momento, pode se preparar para retornar. Ele me perguntou se eu poderia recebê-lo e eu fiquei tão feliz. Já traçamos planos futuros e eu espero retornar em breve para auxiliá-lo. Deus faz tudo perfeito, por isso, a gente deve confiar e não sofrer em demasia.
ELISABETE
26/05/19
-------------------------Paula Alves-----------------------

“VER QUE O FILHO SE TORNOU UMA BOA PESSOA, QUE OUVIU CONSELHO E NÃO SE ESQUECEU DO QUE A MÃE ENSINOU”

         Aquela criatura sempre me deixou de cabelo em pé. Meu filho é verdade, mas eu sempre consegui notar seus deslizes, sua cara de pau. Sabe lá o que é não conseguir nem comer direito de tanta preocupação? Mãe sofre viu?! O danado do menino sempre me deu trabalho, desde pequeno. Estava sempre envolvido em brigas, pegava o que não lhe pertencia, falava palavrão, batia nos pequenos. A impressão que eu tinha é que ele não tinha jeito, mas desde pequeno? Nem deu tempo de aprender com ninguém.

         Precisava ver o olhar do garoto, cheio de maldade. A mãe tem que conhecer o filho para colocar no caminho do bem. Eu estava sempre de olho nos meus filhos. Ele era o meu mais novo. Eu já tinha um casal que era cheio de afeto, bonzinhos, uma menininha e um mocinho que eram obedientes e responsáveis, mas o Afonso... Ô menino! Aí percebi que eu tinha que ficar esperta. Em tudo tinha que corrigir, eu tentava ter paciência porque ele era muito pequeno, eu pensava: “água mole em pedra dura...” Eu vou dar tanto amor pra este menino, eu vou falar tanto de verdade e de justiça, vou ensinar o que é correto de um jeito tão fácil de aprender que ele vai endireitar.

         Eu tinha fé de que Deus iria colocar dentro da minha casa, apenas os filhos que eu pudesse encaminhar e eu me sentia capaz de corrigi-lo. A gente morava num bairro humilde e eu trabalhava de faxina. Ele tinha condições de levar vida de marginal, sempre tem, mas eu não queria nem pensar nisso, precisava confiar que faria bem o meu trabalho de mãe. Foi assim que ele chegou em casa com dinheiro e eu fiz devolver, sem surras, só na conversa e quando chegou todo machucado de brigar na rua, fiz pedir perdão para o adversário porque não pode agredir ninguém. Com o passar dos anos, ele se lembrava de tudo o que tínhamos vivido. Tudo o que ia fazer refletia o que eu seria capaz de fazer para ensinar o certo e foi se inibindo de fazer o errado.

         De repente, o olhar do menino amansou. Ele se transformou num menino bondoso e cordial. Parecia mesmo que era apenas uma fase, mas que nada. Chegando aqui eu soube de todo o passado que nos uniu, a ira, a revolta que ele tinha por conta de uma traição que envolveu um irmão em outra existência. Ele podia ter acabado com a própria vida se eu tivesse feito minha tarefa de qualquer jeito. Só sei dizer que foi tudo muito bom, ver meu filho como um homem de bem, pessoa maravilhosa. Trabalhador, constituiu família honrada e cuidou de mim até o fim como um filho grato e obediente. É isso que toda mãe quer: ver que o filho se tornou uma boa pessoa, que ouviu conselho e não se esqueceu do que a mãe ensinou. Eu sou feliz. NATÁLIA
26/05/19

---------------------Paula Alves-------------

“TODO FILHO INGRATO TERÁ QUE SE REDIMIR PERANTE A LEI”

         Claro que faz falta. Eu chegava em casa cansada e olhava para ela parada naquela inércia. Não tinha como acostumar. Tentava me lembrar de um tempo em que ela era normal. Normal como todas as mães que se preocupam com os filhos e preparam o jantar. Mãe que gosta de abraçar o filho e pergunta pra onde vai. Mas, eu não conseguia. Eu estava com quinze anos e trabalhava muito para poder levar um pouco de dinheiro para casa que pudesse pagar nossas contas e abastecer os armários, mas era tudo difícil. Cheguei a ficar indignada com meu pai pelo abandono. Como ele podia deixá-la sabendo que tinham uma criança para cuidar.

         Ele nos abandonou e isso não tinha como esquecer. Ela só ficava parada em frente a televisão e não conseguia nem conversar, mas quando estava assim era bom porque, de repente, ela ficava nervosa e queria quebrar tudo dentro da nossa casa, aí eu me trancava no quarto e esperava ela se acalmar. Era complicado, nestas horas não tem família, não tem tio ou avó que dê conta, éramos só nós duas. Fui cuidando dela e de mim, fui levando a vida sem desejar muita coisa, era um dia de cada vez e achava que podia terminar meus estudos e ter uma vida melhor, mas quando eu chegava em casa e via minha mãe inerte em frente a televisão , eu desabava de tanto desânimo. Ficamos juntas por muito tempo, eu nunca seria capaz de abandoná-la. Depois de três décadas, eu me acostumei. Terminei meus estudos, me tornei professora e conseguia manter a casa com dignidade. Eu não quis ter ninguém, parece que minha missão foi cuidar dela e de mim. Quando minha mãe morreu, eu senti um pouco de alívio e também de pesar. Isso porque eu sentia falta dela, eu me acostumei e ficar sozinha não foi bom, mas senti que podia tentar dar um novo rumo sem aquela angústia que eu senti a vida toda.
        
         A explicação para tudo isso foi tão óbvia: todo filho ingrato terá que se redimir perante a Lei. Em outra existência eu judiei muito de minha mãe, eu a ofendi, eu a humilhei e ela era maravilhosa, fazia tudo por mim e meus irmãos, mas eu não a honrei, por isso, atraí uma mãe que necessitava tanto de cuidados e que não podia suprir minhas carências de filha porque eu não merecia. Compreendi e sou grata pela forma como resgatei.
LUZIA
26/05/19

-----------------------Paula Alves---------------------

“EXISTEM SITUAÇÕES ONDE A CRIANÇA VEM PARA SALVAR A FAMÍLIA, PARA TRAZER LUZ, ESPERANÇA”

         Eu não pensei que poderia sentir tanta indignação por causa de um ato de minha filha. Eu conversei tanto, eu expliquei. Ela sabia de toda dificuldade que enfrentávamos e, ainda assim, passou por cima de minhas solicitações. Eu nem conseguia me lembrar de vê-la sair sozinha. Ela me traiu. Sabendo que eu trabalhava tanto. Sabendo de tudo o que eu havia enfrentado, depois do que o pai dela nos fez passar. Ainda assim, minha filha se envolveu com um delinquente e engravidou.

         Tão jovem, ainda na flor da idade. Podendo ter uma vida boa, com bom emprego e estabilidade, ela me arrumou barriga. .Eu fiquei muito irritada e tive vontade de colocá-la para fora de casa, mas pensei no bebê. Eu não queria que ela passasse pelo mesmo que eu. Eu queria que ela fosse feliz, mas eu não tinha como calcular ou saber por onde viria a sua felicidade. Eu não queria nem olhar para ela de tanta raiva. Fiquei constrangida com os vizinhos e nossos parentes. Na hora, o que diziam era que ela não tinha pai para colocar ordem em casa. Eu ainda era obrigada a ouvir desaforos.

         Cícera teve um lindo bebê que encheu nossa casa de alegria. O menino cresceu e sempre esteve conosco, cuidando de nós e dando orgulho. Muitos anos depois, meu neto já formado e trabalhador, tentava dar para nós todas a regalias de duas damas, eu percebi o quanto fui cruel com Cícera. Ninguém pode prever os planos de Deus. Existem situações onde a criança vem para salvar a família, para trazer luz, esperança. Eu fui muito cruel, muito errada. Cícera foi a melhor mãe do mundo, encaminhou tão bem Lúcio que ele cuidou de nós até o fim. Ele me chamava de rainha. Eu tive um amor enorme por meu neto querido. Nunca vou esquecer.
SUZETE
26/05/19
--------------------------------------Paula Alves---------------------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografia

“COMO DEUS É BOM PARA NÓS”

         Eu cuidava como mãe. Estava sempre disposta a contar historinhas. Fazia cafuné para dormirem. Ajudava com os trabalhos escolares. Fazia tudo o que fosse possível para alegrá-los. Eu sempre fiquei com pena de ver o quanto sofriam com saudades da mãe que havia morrido, deixando os dois ainda bem pequenos, e a ausência do pai que estava sempre viajando. Estranho como os demais familiares só apareciam nas grandes festas. Sobrava eu, a babá.

         Por outro lado, Deus devia ter uma boa razão para me fazer com o útero infantil. Eu não poderia ser mãe biológica de ninguém. Me apeguei àquelas crianças como se fossem minhas, acho que este foi meu erro. Mas, eu precisava amar, eu podia amar e conceder a elas todo o meu tempo, meus sorrisos e minha atenção. Eu era paga para cuidar deles, mas o afeto a gente dá se quiser, e eu queria. Acho bem estranho a pessoa que diz só amar até aqui. Só abraço deste modo. Como conseguem?

         Eu não podia sorrir de suas travessuras só um pouquinho e nem afagá-los pela metade, entende? Eu escolhi me envolver com eles e não me arrependo por isso. Mas, depois de ter passado seis meses em viagens, quando o pai retornou, trouxe uma surpresa, ele casaria novamente. A esposa não parecia ser muito adoradora de crianças e, logo no princípio, já comprou briga com as crianças que estavam morrendo de saudades do pai. Logo percebi o fascínio que ela exercia naquele homem que preferiu castigar os filhos a ter de desapontá-la. Eu me irritei e ela percebeu. Não demorou muito para armar um plano. Casou-se, mandou as crianças para um internato e eu para o olho da rua, já que não tinha mais crianças para tomar conta. Eu chorei muito porque sentia que tinham tirado meus filhos de mim.
        
         Impotente, frustrada, com raiva do mundo, cobrei de Deus por que passava por aquela terrível situação. Eu sofria sinceramente e não conseguia entender o motivo. Os anos se passaram e eu nunca me esqueci deles, mas levei minha vida e achei que nunca mais fosse encontrá-los quando eu os reencontrei. Eles já estavam adultos, lindos, educados e foram me procurar. Nem acreditei quando olhei nos olhos deles e vi as crianças de antes. Eles me abraçaram e beijaram com tamanho afeto, disseram que eu fui a mãe deles e nunca poderiam se esquecer de tudo o que fomos uns para os outros. Nós éramos uma família legítima. Eles me convidaram para morar com eles e eu aceitei achando que seria a empregada da casa, mas não. Eles me acolheram como verdadeira mãe e me cobriram de carinhos. Quando cheguei aqui tinha minhas indagações e pude observar no filme que carrego comigo, muitas vidas em que fomos parentes de sangue. Eu já os conhecia como filhos queridos e, apenas recobrei os sentimentos do passado.
         COMO DEUS É BOM PARA NÓS.
TEREZA
18/05/19

-------------------------Paula Alves----------------------

“A GENTE DEIXA MUITA COISA DE LADO E TEM MÃE QUE NÃO ACEITA ESTAS PERDAS”

         As obrigações não tinham fim. Simplesmente não tinha tempo para nada. Acordava cedo e logo via que o serviço estava todo lá me esperando. Antônio Carlos sempre disse que, logo que eu engravidasse, não precisaria mais trabalhar. Ele queria que eu ficasse em casa para cuidar da família. Era tudo tão lógico naquela época que não tinha contestações.
        
         Eu engravidei da Celinha e já sabia que, a partir dali, era serviço doméstico, mas nunca imaginei que fosse tanto. Eu não tinha muita habilidade, nem paciência. Tudo me irritava. Eu tentava alimentar a criança e ela não queria a comidinha que eu fazia, era o pai que conseguia alimentá-la. Depois chegaram outros filhos e a correria piorou. Eu olhava para o Antônio Carlos e tinha até raiva porque ele era calmo, tinha paciência, conseguia colocar tudo em ordem, rapidinho e fazia em duas horas o que eu levava o dia todo para conseguir.
        
         Aquilo foi me dando uma indignação, uma raiva, um desgosto. Eu não aguentava mais porque o serviço se multiplicava e a criançada crescia pronta para me enlouquecer. Um dia, não quis sair da cama. As crianças começaram a chorar e eu cobri a cabeça, aí a vizinha estranhou, ligou para o meu marido que chegou em casa e encontrou tudo revirado. Eu na cama. Criança com fome, chorando e eu lá, no meio dos cobertores. Ele foi um amor. Correu, preparou tudo, me ajudou a tomar banho e me levou ao médico que disse que eu estava estafada. Meu esposo não entendeu nada. Eu, só chorava e o médico pediu paciência, mas isso ele tinha de sobra graças a Deus.
        
         Não entrava na minha cabeça como eu podia viver daquele jeito fazendo tudo sempre igual sem prazer nenhum. Eu não via graça na minha vida e as crianças me irritavam, eram meus filhos e, apesar de amá-los, eu contava os minutos para que eles dormissem porque parecia que, só assim, eu tinha paz. Nem sei quando melhorou. Eles cresceram muito apegados ao pai. Eu entendia que não conseguia fornecer a eles tudo o que uma mãe deve dar. Hoje, entendo que não tem mãe igual. Cada uma de nós é muito diferente e é nisso que está a prova. A gente tem que aproveitar ao máximo as sensações da maternidade. Os hormônios, o contato com o feto, a mudança psicológica, o parto, tudo é motivo de crescimento e enobrecimento pessoal, mas existe certo egoísmo dentro de nós que pode destruir tudo isso. Principalmente quando a mãe para pra pensar e raciocina que perde muita coisa depois que tem um filho.
         A GENTE DEIXA MUITA COISA DE LADO E TEM MÃE QUE NÃO ACEITA ESTAS PERDAS.

         Eu perdi meu emprego, meu lugar na sociedade como alguém que produzia e me tornei dona de casa no exato momento em que me tornei mãe, acho que foi o ponto crucial da minha depressão. Eu não queria aceitar, mas foi isso sim, egoísmo. Eu não parei para pensar que minha família precisava de mim e que, em nenhum outro lugar, eu seria tão importante quanto na minha casa. Em nenhum momento considerei pensar que as crianças precisam de uma mãe com a cabeça no lugar, feliz e realizada, satisfeita com sua condição de mãe e mulher. Eu fui muito egoísta. Aqui encontrei outra explicação: eu e Antônio Carlos ainda tínhamos resquícios da nossa última encarnação quando eu havia sido homem e ele foi uma mulher, por isso, eu não via graça em nada e ele conseguia desempenhar tão bem as tarefas do lar. Eu compreendi, mas foi exatamente por este motivo que pedimos a inversão dos papéis para que pudéssemos assimilar outros conhecimentos e virtude. Eu falhei. Sei que poderia ter sido muito pior porque, por diversas vezes, passou em minha mente a necessidade de abandonar tudo e fugir daquele mundo que não era meu. Eu pensei em abandonar meu lar, deixar minha família e partir sem responsabilidades, sem compromissos. Ainda bem que eu não fiz isso. Ainda bem que eu levei a sério aquele sim que dei para o Antônio Carlos. Mesmo contrariada, eu fui mãe e esposa até o final e consegui aprender muito com todos eles. Eu queria que tivesse sido mais branda, mais sorridente, cordial com meus familiares. Acho que eu poderia ter usado palavras de carinho e sido mais agradável com eles.
         ELES MERECIAM UMA MÃE MAIS GRACIOSA.
DARCY
18/05/19

-----------------------------------------------Paula Alves---------------------------------
        
“MAS, A GENTE NÃO DEVE PISAR SOLO QUE JÁ TEM DONO”

         Eu amava aquele homem com todas as minhas forças, mas não aceitava aquelas crianças que pareciam me afrontar. Você precisava ver a forma como me olhavam. Sempre dispostas a me irritar. Sempre se lembrando da mãe. Eu tentei agradá-los, fiz doces, levei presentes e eles debochavam. Entregavam os retratos dela, diziam que a mãe foi perfeita e linda. Tudo para me comparar. Flávio deixava o olhar longínquo e mudava comigo todas as vezes que ouvia falar dela. Eu sempre soube que nunca poderia competir com aquele amor, mas para mim só existia ele e ela estava morta. Resolvi tentar e assumi a família dela.

         Eu merecia tentar e vivenciar aquela paixão que eu nutria dentro de mim. O que os filhos dela podiam fazer? Mas, a gente não deve pisar solo que já tem dono.
        
         NINGUÉM DEVIA TENTAR SE ENVOLVER NUM RELACIONAMENTO QUANDO AINDA PENSA NA OUTRA PESSOA, ESTEJA ELA VIVA OU MORTA.
        
         Eu tentei, sofri, chorei e percebi que nunca poderia conquistá-los. Eles cresceram e eu nunca tive paz. Na adolescência foi ainda pior porque colocavam em mim a culpa de suas atitudes irresponsáveis e o Flávio me culpava, viajava apenas com os filhos dizendo que eles precisavam de mais atenção. Tentei engravidar, mas nunca consegui. Na fase adulta, não aguentei, me separei do Flávio e desejei ser feliz sozinha, eu precisava de paz. Aquela família já estava me enlouquecendo. Até que o Flávio passou muito mal, necessitou de internação e os filhos foram me buscar, pediram perdão, disseram que não conseguiam se esquecer da mãe e que queriam a felicidade do pai. Eles falaram que um dia, teriam suas vidas, seus relacionamentos e não desejavam ver o pai sozinho, infeliz. Eu era a esposa dele e precisava viver em paz. Daquele dia em diante, foi um pouco melhor. Quando cheguei aqui, eu soube que Tamara não se conformou com o casamento que tive com Flávio. Após seu desencarne, ela se recusou a sair da casa e fez de tudo para me agredir, até usou os filhos para causar intrigas e brigas para que eu pudesse ir embora. Eu precisava passar por tudo isso. Nós nos ligamos em outras existências e meu sofrimento tinha motivo porque nesta outra vida, eu causei a separação deles. Eu fiz com que ele se divorciasse dela e deixei os garotos passando privações, enquanto eu vivia bem ao lado do esposo dela. Eu não queria que tivesse sido daquela forma. Não consegui me sentir parte integrante daquela família.
        
         ACHO QUE MINHA VIDA SÓ SERVIU PARA REPARAR ERROS COMETIDOS NO PASSADO.

         Espero, do fundo do coração, que todos tenham me perdoado e que, de uma próxima vez, possamos fazer nascer o amor.
ROSÂNGELA
18/05/19

-----------------------------------------Paula Alves----------------------------------------

“EU QUERIA QUE ELES VALORIZASSEM O QUE É REALMENTE IMPORTANTE. SÓ”  

         Eu não podia passar por tudo sem notar que eu estava me perdendo de mim. Já não tinha mais noção de quem eu era. Estava sempre gritando, correndo atrás deles com o chinelo na mão. Eram meninos tão desobedientes, encrenqueiros. Eu sabia que tinha que estar atenta, senão podiam fazer uma travessura que me custaria bem caro. Foi indo, até me afastei dos familiares e amigos porque me causavam constrangimento. Quantas vezes, não quebraram vasos, pratos, rasgaram cortinas, riscavam carros, quebraram plantas, entre outras coisas que me deixavam de cara no chão?

         Meu marido ria, deixava que eu saísse de louca, de chata. O pior é que as pessoas só falam da mãe: a mãe não educa direito, dá nisso... É sempre a mesma história. A mãe é a ruim. Por quê? Eu dedicava a minha vida para transformá-los em homens de bem, mas não sabia mais o que fazer.
        
         O CHINELO NÃO RESOLVEU, O CASTIGO NÃO RESOLVEU, TIREI BRINQUEDOS, PRIVEI DE PASSEIOS, PRESENTES, AINDA ASSIM, ELES ME AFRONTAVAM.
        
         Parece que faziam de propósito e quando estávamos na frente dos outros era pior, parecia que gostavam de me humilhar. Eu sempre ouvia risinhos e depois lição de moral. As pessoas querendo me ensinar a cuidar dos meus filhos. Eles nem conheciam meus meninos. Acabava me irritando tanto que eu comprava briga com o dono da casa e perdia a amizade. Um horror! Sabe por quê? Eu não queria que ninguém falasse mal deles. Eu podia falar deles e mais ninguém porque, afinal de contas, era eu que cuidava deles, que me preocupava com eles e ninguém tinha que apontar o dedo.
        
         Claro que, dos meus três filhos, teve filho que me deu dor de cabeça até depois de grande e um dia, quando a gente estava no meio da maior confusão porque o Danilo tinha passado a noite com a filha do vizinho, começaram a falar de mim, dizendo que o rapaz era daquele jeito porque a mãe não tinha ensinado modos e ele era irresponsável, devia ser porque a mãe era leviana igual a ele... Pra quê?

         Os três foram pra cima do sujeito (há-há). Nunca esqueço. Naquele dia percebi que eles sabiam a mãe que eles tinham. Nunca admitiram ouvir falar mal da mãe. Aconteceu muita coisa na minha vida, mas eu só agradeço a Deus porque filho dá trabalho pra valer, deixa a gente de cuca quente, a mãe se esquece até do próprio nome, mas está sempre de olho no filho. Eu saia descabelada, mas meus meninos estavam sempre cheirosos e eu fiz de tudo para ensinar a ser homem honrado. Hoje, meu maior orgulho é ver que todos eles têm a família deles, o trabalho decente e a casa com Jesus como eu ensinei. Era só isso que eu queria.
         EU QUERIA QUE ELES VALORIZASSEM O QUE É REALMENTE IMPORTANTE. SÓ.  
MARIA DOS REMÉDIOS
18/05/19



-----------------------------------Paula Alves--------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografia



“EU NÃO GOSTEI DE VER MINHA MÃE SOFRENDO DEPOIS DE TODO O SEU EMPENHO PARA ME MORALIZAR”
         Ela era empenhada. Quantas vezes me cobrou juízo? Minha mãe era daquelas enérgicas. Ela podia não saber como dizer as coisas, mas, na medida do seu conhecimento e da sua lógica, ela sabia muito bem o certo e o errado. Mas, eu não quis ouvir. Eu nunca pensei no quanto ela sofria. Nunca perdi alguns minutos do meu dia para pensar nela e em suas razões para tentar me impedir de cometer delitos.

         EU SÓ QUERIA VIVER A VIDA E CURTI-LA.

         Para mim era importante ter as coisas, mas eu não tinha estudo e nem tinha vontade de me esforçar para adquirir as coisas com trabalho. Eu ria dos que trabalhavam muito e acordavam cedo para pegar o buzão lotado. Minha mãe chorava escondido, eu nunca percebi. Demorei tanto para notá-la. Foi de uma forma bem infeliz que soube o quanto ela me ama. De tanto avisar, um dia, aconteceu o que ela tanto temia. Eu fui preso e, depois disso, como se não bastasse todo o constrangimento para me ver na cadeia e levar para mim todos os meus pratos preferidos para tornar aqueles dias menos angustiosos, eu quis ser valente e me envolvi numa briga. Desencarnei ali mesmo cheio de revolta e dor. Perambulei por um longo período de tempo entre insanos e delinquentes quando, de repente, senti uma luz me aquecer.

         EU OUVIA A VOZ DELA.

         Era como se, de algum lugar, ela me abraçasse. Eu desejei vê-la, desejei estar com ela, mas continuei onde estava. Isso aconteceu repetidas vezes, até que pude me lembrar com bastante nitidez dos seus pedidos para que eu fosse um homem trabalhador e bom. Eu fui relembrando tantas coisas. Lembrei até de quando era um bebê e, depois disso, me lembrei de outras vidas quando ela já tentava me encaminhar no bem. Aí eu chorei porque pude vê-la em oração no nosso antigo lar. Eu não saí de onde estava, mas conseguia vê-la.

         EU NÃO GOSTEI DE VER MINHA MÃE SOFRENDO DEPOIS DE TODO O SEU EMPENHO PARA ME MORALIZAR.
         Eu me entreguei ao sentimento e pedi perdão a ela e àquele Deus a quem ela proferia a prece. Eu me senti exausto, dormi e quando acordei estava aqui. A verdade é que ela me salvou daquele cativeiro e eu nem sei se mereço, realmente, estar entre vocês porque errei muito.

         EU NÃO PODIA IMAGINAR O QUANTO UM FILHO PODE FAZER UMA MÃE SOFRER ATÉ DEPOIS DA SUA MORTE E EU ESTOU ENVERGONHADO POR ISSO.
EDGAR
13/05/19

-------------------------------Paula Alves-------------------------------

“HOJE EU TENHO VERGONHA PORQUE ME ENCONTRO NO GRUPO DOS FILHOS INGRATOS”


         Ela nem dormia. Quantas vezes trancou o portão e escondeu a chave? Me dava conselhos e eu fingia ouvir, achava tudo uma chatice e ela falava que, quando eu tivesse meus filhos eu iria entender, mas não foi assim. Eu sempre arrumava um jeito de enganá-la e fugia. Passava a noite toda no baile, curtia e depois voltava para casa na hora do café, ria como se tivesse sido divertido enganá-la.

         Ela chorava e eu não entendia aquele sentimento de revolta. Era porque eu a enganava e ainda ria dela. Fiz isso muitas vezes. Ela chegou a ir me buscar e, por eu ter passado vergonha, falei uma série de palavras que nunca deveria ter dito. Coisas que envolviam meu pai que nunca cuidou da gente. Ela se magoou, mas ainda assim, continuou do meu lado. Nada que falava conseguia me impedir de ser leviana e, depois de tudo isso, engravidei.

         TODOS ME VIRARAM AS COSTAS, INCLUSIVE O PAI DO MEU FILHO, MAS ELA NÃO.

         Ela me abraçou e disse que tudo ficaria bem. Só que, depois disso, vieram mais quatro e ela cuidando dos guris, enquanto eu saia sem dar satisfação. Numa destas saídas, eu afrontei meu namorado e apanhei tanto que desencarnei profundamente irritada, desejando vingança. Eu o persegui e vaguei por muito tempo. Nunca parei para pensar nos meus filhos ou na minha mãe, mas o tempo passou tão depressa que as crianças cresceram bem cuidadas e minha mãe desencarnou para me tirar do lamaçal em que me encontrava.
        
         HOJE EU TENHO VERGONHA PORQUE ME ENCONTRO NO GRUPO DOS FILHOS INGRATOS.

         Sei que terei de expiar situações terríveis por causa de tudo isso. Já minha mãe, depois de receber permissão para me resgatar, ainda se elevou por ter cuidado dos meus filhos como se fossem seus. Ela se elevou muito. Eu peço perdão. CLER
13/05/19

-----------------------------------Paula Alves----------------------
        
“EU ESTOU CONSTRANGIDO POR TUDO O QUE FIZ, NEM SEI COMO TIVE CORAGEM DE DESABAFAR COM VOCÊ”

         Eu sempre tive horror daquela casa e da nossa vida. Eu era o filho mais velho e culpava minha mãe por não termos conhecido nosso pai e por termos tantas necessidades materiais. Em tudo eu tinha que ajudá-la. Se o chuveiro queimava, era o Francisco. Se acabava o gás, Francisco. A criança chorava, chama o Francisco. Tudo eu. Mas, eu estava tão empenhado em ver o meu eu que me esqueci de ver o lado dela. Ela só tinha os filhos e contava comigo porque eu era o maior.

         Não vem ao caso dizer o que meu pai fez para infringir a lei quando ele nos abandonou. Eu já o esqueci e deixo que ele se entenda com a justiça. O fato é que eu estava fazendo como ele. Eu sempre me escondia e fugia dela. Ela tinha que resolver tudo sozinha e sempre conseguia se virar porque desenvolveu múltiplas virtudes, ela foi exemplar.

         Ainda falava comigo com todo amor e eu de cara feia. Cresci e quando pude, fui embora. Deixando minha mãe e meus irmãos naquela vida de miséria. Eu pensava neles raramente, ela me procurou e eu fiz questão de não desejar vê-la porque eu tive vergonha dos seus trajes, ela parecia uma mendiga e eu já estava morando num lugar bom, já tinha família.

         EU FUI DAQUELES FILHOS QUE NÃO VISITA A MÃE NEM NO NATAL, SABE?!

         Eu nunca fiz nada por ela e quando desencarnei vítima de uma sandice que me ligava ao vício da bebida, eu pude ouvi-la. As preces dela me suavizavam as dores. Eu estava em delírio, mas pude perceber que ela nunca se esqueceu de mim. Ela já estava bem velhinha, ela nem sabia de mim. Sei que ela não tinha notícias da minha morte e orava todos os dias por mim. Orava por todos os filhos, mas minha prece era especial.
        
         MAS, POR QUE AS MÃES FAZEM ISSO?
        
         POR QUE AS MÃES SÃO MAL TRATADAS E, AINDA ASSIM, NÃO SE ESQUECEM DOS SEUS FILHOS INGRATOS?

         POR QUE ELAS RECEBEM AGRESSÕES DE INDIFERENÇA E DESPREZO E, MESMO ASSIM, CONTINUAM AMANDO?

         Eu estou constrangido por tudo o que fiz, nem sei como tive coragem de desabafar com você.
ELBER
13/05/19
----------------------Paula Alves--------------

“EU APRENDI QUE O AMOR DE MÃE CURA MESMO”
         Os ingratos padecerão! Eu não tinha ideia. Eu não gostava de chegar perto dela. Nunca consegui explicar por que minha mãe me irritava tanto. Eu achei que o jeito era ficar cada vez mais longe porque estávamos brigando constantemente. Na adolescência, a coisa foi bem pior porque fui para cima dela e bastou isso para ela falar para meus irmãos mais velhos e eles partiram para cima de mim, ela ainda me defendeu. Eu não sabia o motivo e quando consegui fui embora, mas ela não me largou.

         Ela ia para minha casa e fiscalizava tudo. Limpava minha casa, dava lição de moral. Tudo era motivo para estar me ensinando alguma coisa. Se metia nos meus relacionamentos e falava, falava. Eu cheguei a proibir sua entrada na minha casa e ela nem ligou, disse que mãe não podia se afastar do filho nunca.
        
         ELA FALAVA QUE NUNCA IA DESISTIR DE ME COLOCAR NUM BOM CAMINHO.

         Eu ficava enfadada e não via a hora dela sair, mas aconteceu que, na hora certa, a corrigenda chegou. Eu adoeci. Tive um câncer de intestino e fiquei muito debilitada. Ela sempre esteve certa. Minhas amigas desapareceram e meu namorado achou um desvio terrível no meu comportamento para terminar nosso romance de três anos. Ela cuidou de mim. Saiu da casa dela, deixou meu pai, meus irmãos mais jovens e se mudou para minha casa. Ela fazia tudo por mim como se eu fosse uma criança manhosa.
        
         FOI MINHA AMIGA, MINHA CONFIDENTE E EU, NUNCA IMAGINEI, QUE A AMASSE TANTO.
        
         Antes de chegar o momento final, parecia até que ela tinha sido avisada, depois eu soube que foi mesmo. Ela preparou uma noite das meninas e nós assistimos o meu filme preferido, que ela detestava, ela me fez rir, apesar da dor, e disse que eu sempre seria a menininha dela.

         Não importava o quanto eu a fizesse sofrer, ela sempre iria agradecer a Deus pelo dia em que ela me teve. Eu me deixei ser abraçada por ela e agradeci. Eu beijei minha mãe e pedi perdão por tudo. Eu soube que, se nós tivemos algum mal entendido no passado, tinha sido zerado depois de tudo que ela me ofertou. Eu disse que a amava sinceramente.

         ESTRANHO COMO O AMOR DE MÃE É TÃO GRANDE QUE GERA AMOR ATÉ NO FILHO QUE NÃO SENTE NADA.
        
         Eu aprendi que o amor de mãe cura mesmo. Cura nossas feridas do passado. Ela se dedicou tanto para me amar que eu também a amei. Hoje sou imensamente agradecida pelo tempo em que estivemos juntos. Eu fui muito bem tratada. FERNANDA
13/05/19


------------------------------Paula Alves--------------------

Foto cedida por Magno Herreira Fotografias

“ACREDITAMOS QUE ELES NÃO SABERÃO O QUE FAZER SEM NÓS”

Hoje eu compreendo a necessidade que tinha de me afastar deles. Nós não queremos partir. Queremos continuar com tudo o que achamos que nos pertence. Ficar em nossos antigos lares, nas casas, com nossos parentes. Acreditamos que eles não saberão o que fazer sem nós. Achamos que o sofrimento deles será demais, era eterno, mas não é assim. Eu não pude perceber que eu estava causando mal à eles por causa da minha influência. Eles sentiam o que eu sentia, o meu pesar, o meu ressentimento, o meu sofrimento. Eu estava bloqueando a energia doméstica, mas não poderia imaginar que é isso o que acontece.

Por isso, tem um trecho na Bíblia que diz que não devemos nos envolver, é por isso. Cada um deve buscar o seu lugar. Vivos no mundo dos vivos e mortos no seu mundo. Acho que mortos é forte demais, que horror! Eu não morri, mas vamos deixar assim, acho que deu para entender. A verdade é que eu me desesperei quando percebi que minha filha estava grávida e abandonada pelo pai da criança. Vou entrar em dois pontos fundamentais. Minha filha foi criticada por toda a sociedade por ter engravidado, afinal, ela não era casada, não tinha estrutura financeira e engravidou, mas ninguém nunca criticou o rapaz que fez o filho junto com ela.

Por que não? Por que ninguém costuma ensinar aos filhos homens que eles têm que respeitar as mulheres, as moças?
Ninguém fala para usar preservativo e tomar cuidado para não constituir a família que não se deseja?
Por que não ensina a respeitar os sentimentos das moças?
Ninguém ensina castidade para homem?

Eles têm que ter virilidade, mesmo que isso indique um bando de filhos, um com cada mulher. Um monte de crianças que devem sobreviver com um terço de um salário mínimo? Isso paga fraldas, comida e remédio?

Fiquei desesperada. E aí entro no segundo ponto fundamental de meu breve relato: o que seria dela sem um pai para seu filho e sem a mãe dela – eu? Fiquei desesperada e percebi que a vizinha me ouvia. Ela estava conversando com minha filha e quando eu pensei alto, ela me ouviu. Foi aí que tive a ideia de pedir algumas coisas para ela. Eu achei que ela fosse me atender rapidamente e prontamente ela tratou de se preocupar com a vida dela, nem mesmo se preocupou com a situação de Alice. Mas, eu não podia deixar minha filha passando necessidades, então, insisti. O senhor pode até falar que eu a estava obsidiando, mas para mim não era isso. Era uma mãe pedindo socorro para alguém. Eu tive que pegar pesado, influenciei em sonhos e comecei a mandar imagens mentais onde tudo o que ela observava girava em torno do mundo infantil e ligado às gestantes. Acho que o egoísmo cega os homens. Ela não é ruim. Tanto que, depois disso, ela ajudou de todas as formas e hoje pode ser considerada a salvadora da Alice. Minha filha arrumou emprego por intermédio dela e o bebê é muito lindo. Estou feliz que tenha dado tudo certo, espero que ela seja muito feliz. Sou agradecida pela oportunidade que tive de ser socorrida e também de estar com ela no momento do parto, eu estava tão preocupada. Sou feliz!
ISAURA
05/05/19

-----------------------------Paula Alves-----------------------------

“NÓS MULHERES, NASCEMOS PARA AMAR E DOAR AFETO”

Se me contassem eu não acreditaria. Quando perdi o útero por causa da infecção, chorei demais e achei que meu esposo iria me abandonar porque nunca poderia dar um filho a ele. Wilson sempre gostou de crianças e eu também. Levou alguns anos para me conformar que seria árvore seca. Triste demais ver suas amigas engravidando e aumentando a família, enquanto você nem pode sonhar com isso. Dediquei minha vida ao meu marido quando, de repente, comecei a repensar minha vida que parecia vazia demais.
NÓS MULHERES, NASCEMOS PARA AMAR E DOAR AFETO.

Eu sentia que podia ser mais que uma mulher comum, seca, eu tinha tanto sentimento dentro de mim. Eu desejei tanto uma criança e me deparei com a situação de ter uma empregada que não dava conta de cuidar dos seus filhos. Deus escreve sempre certo. Ela não tinha marido, estudo, profissão, casa, nem família que pudesse lhe auxiliar e eu tinha amor. Ela trabalhava em minha casa e lamuriava sobre sua vida difícil. Eu ouvia e pedi para trazer as crianças para eu conhecer. Ela foi trazendo um a um e eu fui me apaixonando por eles, fui me envolvendo. Eu ajudava como podia e eu podia porque tinha um bom emprego e não tinha filhos.

Criança custa caro, eles precisam de tudo, sobra dinheiro na casa de quem não tem criança, eu percebi. Fui comprando roupa, sapato, colocando na escola, pagando curso. Eles foram crescendo e Odete estava tão abatida, cansada. Eu pedi que ela ficasse em casa para descansar. Ela estava doente. Quando Odete morreu, seu mais novo tinha sete anos. Levou um tempo para que o juizado entendesse que o melhor para eles era ficar comigo. Eu criei todos os filhos dela como se fossem meus. Nunca senti vontade de ter filhos depois disso porque tive uma vida cheia de ocupação, eu não tinha muito tempo para ficar pensando. Eu vivi demais. Vivi de momentos que fizeram de mim uma mulher realizada.

EU FUI FIGUEIRA PRODUTIVA COM O VENTRE DA ODETE E SOU MUITO AGRADECIDA A ELA.

Nossos filhos me amaram e sinto que ainda me amam. Eles sempre me respeitaram e foram generosos comigo. Me cobriram de afetos e atenções. Fui uma mãe muito amada e agradeço a Deus para sempre.
GUILHERMINA
05/05/19

----------------------------Paula Alves----------------------

“FALEI QUE MÃE É ABNEGAÇÃO, ENTREGA E RENÚNCIA”

Eu achava aquele homem lindo demais. Desde o primeiro olhar eu sabia que seria dele. E me entreguei com todo amor que tinha dentro de mim. Nós nos casamos e não posso esquecer dos detalhes de nosso casamento que providenciei com todo esmero. Meus amigos e familiares diziam que eu estava feliz e realizada. Isso porque Lauro me fazia sentir linda, amada. Mas, o tempo passou. Tivemos nosso primogênito e fiquei muito diferente. Engordei e estava cansada por causa do bebê. Eu já não era aquela jovem de antes, nem de corpo, nem de alma. Notei que Lauro estava cada vez mais belo e não me olhava como antes. Mas, não tinha o que fazer, eu tinha tanto serviço e fui vivendo, até que descobri a primeira traição. Chorei tanto, gritei e falei que ia me separar, mas o mais difícil foi perceber que ele não se importava.

Eu fui embora e ele continuou com ela. Mas, notei que eu estava me sentindo mal, eu estava grávida novamente. Foram meus familiares que falaram com Lauro e nos uniram de novo. Ele prometeu se endireitar e eu aceitei por nossa família. Depois de ter meu filho descobri outras traições e vi que ele não ia mudar, sempre seria leviano, mas o que eu faria sem ele, com nossos filhos? Sim, eu ainda o amava. Sentei para conversar e disse que eu queria um lar. Um local decente para criar nossos filhos. Eu queria que eles tivessem pai e mãe, que fossem felizes, eu também queria ser feliz e eu havia escolhido ele para ser meu esposo por toda a vida, mas ele podia ir se não fosse capaz de nos dar o que precisávamos. Ele pensou. Na hora fez muitos comentários que afirmavam que a culpa era minha. Eu já não era vaidosa ou carinhosa com ele. Eu só pensava nas crianças.

EU TIVE QUE FALAR PARA ELE O QUE É SER MÃE.
FALEI QUE MÃE É ABNEGAÇÃO, ENTREGA E RENÚNCIA.

Eu estava deixando minha vida de lado para cuidar de seres que precisavam de mim em tempo integral, mas eu estava agradecida por tudo isso. Mas, ele como pai, ao invés, de me auxiliar estava me deixando por ter me tornado mãe dos filhos dele. Expliquei que a família tem que ultrapassar barreiras, unida. Um deve pensar no bem estar do outro e não ser egoísta e só pensar na satisfação dos seus desejos, das suas paixões. Meu marido não era apenas um filho que podia ter tudo que quisesse, agora ele era o pai e devia se comportar como tal. O homem da casa com respeito e autoridade de um chefe de família. Com postura reta e inabalável. O que ele queria deixar de exemplo para os filhos dele? Um homem que abandona os seus por causa de um rabo de saia? Não importa os quilos que ganhei, amadureci tanto, estava tão transformada como mãe e, isso era a minha valorização também como mulher amadurecida e confiante. Eu era a mãe e merecia o maior repeito e consideração. Ele chorou. Disse que não esperava ouvir tudo aquilo de mim. Disse que seria muito idiota se me deixasse porque eu era a verdadeira mãe.

Ele foi um excelente esposo. Depois daquele dia, ele me valorizou. Nunca mais soube de nenhuma escapadela sequer. Lauro ouviu tudo o que eu disse e se tornou o homem da casa. Eu agradeço muito a Deus porque com o Evangelho nas mãos eu pude edificar meu lar.
CLEONICE
05/05/19

--------------------Paula Alves-----------------

“POR MIM, EU ESTAVA AJUDANDO MEU FILHO, MAS COMO É QUE EU POSSO AJUDAR SE ELE NEM QUER AJUDA?”

Aquele menino foi a minha alegria e o meu tormento. De todos os filhos que eu tive, só com ele eu me preocupei. Nossa vida não foi fácil. Vida de pobreza e aquele homem que estava sempre me fazendo filho. Naquela época, mulher engravidava igual coelho. Não sabia como evitar e ele me emprenhava fazendo um filho por ano. Eu amava todos os meus filhos, mas me dava angustia quando percebia que estava grávida. Era ruim trabalhar grávida, canseira, dor. Acabei perdendo alguns, a barriga não aguenta a enxada na mão o dia todo.

Ezequiel nem ligava, falava que vinham outros e para distrair dizia que, quando eles crescessem, ficaria bom para nós. Olha! Eu não sei como aguentei aquele homem. A verdade é que as crianças foram crescendo e quando eu estava quase suspendendo as regras, veio o Moacir. O menino que deu trabalho da hora de nascer até sempre. Queria tudo fácil, implicava com o pai, tinha ciúmes dos irmãos e queria mentir. Mentia o danado do menino. Eu que era a mãe sabia de cada um. Conhecia com os olhos fechados, sabia da voz, do cheiro e até da passada deles. De todos! Eu sabia de olhar nos olhos o que estava sentindo. Moacir tanto que fez que trouxe a gente pra São Paulo porque queria uma vida melhor pra família.

Melhor em São Paulo?

Pra nós só tinha a favela e a miséria. Na roça era bem melhor, mas voltar como? O jeito foi se arranjar em São Paulo. A maioria foi trabalhar de pedreiro e nas fábricas, todos trabalhadores, menos o Moacir que se envolveu com o que não presta. Só me deu desgosto o menino. Eu achei que ele fosse morrer. Corria atrás dele na madrugada, depois foi preso e eu era humilhada para visitar. Meu marido brigava.

PAI NÃO SABE O QUE É O CORAÇÃO DOER DE PREOCUPAÇÃO.

Rezei pra Deus tomar conta do meu filho porque eu já não sabia mais o que fazer por ele. Morri primeiro, acho que meu coração não deu conta, era muita emoção. Eu nem consigo entender o que foi aquela vida. Todo mundo sofrendo tanto. Mas, o pior foi ver meu filho usando drogas, eu vi tudo. Ele com os drogados da carne e com os Espíritos que ficavam sugando. Que horror! Nem sei como tirar isso da minha cabeça doutor. Achei que o meu sofrimento era só enquanto estava viva, mas agora é muito pior.

POR MIM, EU ESTAVA AJUDANDO MEU FILHO, MAS COMO É QUE EU POSSO AJUDAR SE ELE NEM QUER AJUDA?
MARIA DE FÁTIMA
05/05/2019


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