Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias
“DEUS FAZ TUDO PERFEITO, POR ISSO, A
GENTE DEVE CONFIAR E NÃO SOFRER EM DEMASIA”
Aquela barriga era toda a minha vida.
Eu sempre almejei ser mãe. Sempre sonhei com o dia em que cuidaria de um pequenino
ser e poderia ofertar a ele todo o meu amor. Tive muita sorte quando encontrei
o Rafael e nos unimos em matrimônio. Meu esposo fazia tudo por mim e tínhamos
um relacionamento de cumplicidade e amor. Mas, nos primeiros meses de gravidez,
percebi que não era tão fácil assim gerar um ser. Eu sentia enjoos e tive
descompensações que me fizeram desfalecer. Eu pensei que não iria suportar
tantas idas ao médico, mas achei que tudo passaria em alguns meses e eu teria
meu presente nos braços.
Superei, mas tive receio que minha
felicidade não duraria para sempre. Sabe quando você quer muito uma coisa e
teme não tê-la? Eu queria tanto aquele filho que não poderia suportar sua
perda. Tomava as maiores precauções para proteger minha barriga, foi a época em
que mais cuidei da minha saúde. Tudo para que meu bebê tivesse plena saúde e
conforto no meu ventre. Os meses se seguiram e eu passando mal, fiz alguns
exames e o médico me trouxe uma notícia que me deixou perplexa, o bebê corria
risco de vida, mas como? Eu fazia de tudo para protegê-lo. Ele disse que eu
tinha que fazer repouso, não deveria me emocionar em demasia, mas isto bastou
para que eu ficasse desesperada. Tive que aguardar o passar do tempo, imensa
ansiedade para saber como estava meu filho, afinal, os exames não eram tão
sofisticados naquela época, mas o que eu mais temia aconteceu.
O dia do parto chegou, nós sofremos
muito e ainda assim, tive a notícia mais dolorosa da minha vida. O meu bebê era
anencéfalo. Ele não poderia suportar a vida por um longo período de tempo. O
médico não sabia prever, mas poderia viver algumas horas apenas. Eu o queira
comigo, olhei para ele e vi que era disforme, um rosto contorcido, tinha
dificuldade para respirar, sofria o pobrezinho e eu sofri com ele. Era como se
ainda estivéssemos ligados, eu sentia que ele estava sofrendo e eu não desejava
ver meu bebezinho sofrer. Eu chorei tanto, pedi a Deus que o encaminhasse. Eu
queria tê-lo comigo, mas não sofrendo sem condições de viver ou de apenas
respirar.
Fiquei ao lado da encubadora. O tempo
que durou parecia a vida toda, longa a espera de sei lá o quê que pudesse
aliviá-lo. A morte chega como um bálsamo. Naquele momento vi como se fosse uma
libertação. Claro que sofri, sofri de um desespero, de uma frustração, de um
abandono. Foram oito meses, sentindo aquele filho e, sendo com ele, uma mãe que
o desejava, de repente, perdê-lo doeu muito, mas o egoísmo não poderia imperar
naquela situação e agradeci a Deus quando o vi silenciar. Eu passei a vida toda
me questionando porque meu bebê deveria passar por tudo aquilo. Eu me culpei
achando que fosse por algum erro meu, como se fosse castigo. Eu consegui outros
filhos que me trouxeram muita felicidade. Eu os amo demais, mas quando cheguei
aqui só quis saber por que vivi aquilo e o que aconteceu dele. Meu filho estava
aqui à minha espera e me abraçou, em forma de homem maduro e experiente me
explicou que precisava muito daquele ventre e daquele corpo deformado para que
pudesse reestruturar seu corpo perispiritual. Isso porque, por imprudência,
havia danificado causando perturbações psíquicas que careciam de intensa
atenção.
Ele me agradeceu por toda emanação de
amor. Disse que, depois daquilo, ainda necessitou de outros ventres para
adquirir aquela forma perfeita e que, neste momento, pode se preparar para
retornar. Ele me perguntou se eu poderia recebê-lo e eu fiquei tão feliz. Já
traçamos planos futuros e eu espero retornar em breve para auxiliá-lo. Deus faz
tudo perfeito, por isso, a gente deve confiar e não sofrer em demasia.
ELISABETE
26/05/19
-------------------------Paula
Alves-----------------------
“VER QUE O FILHO SE TORNOU UMA BOA
PESSOA, QUE OUVIU CONSELHO E NÃO SE ESQUECEU DO QUE A MÃE ENSINOU”
Aquela criatura sempre me deixou de
cabelo em pé. Meu filho é verdade, mas eu sempre consegui notar seus deslizes,
sua cara de pau. Sabe lá o que é não conseguir nem comer direito de tanta
preocupação? Mãe sofre viu?! O danado do menino sempre me deu trabalho, desde
pequeno. Estava sempre envolvido em brigas, pegava o que não lhe pertencia,
falava palavrão, batia nos pequenos. A impressão que eu tinha é que ele não
tinha jeito, mas desde pequeno? Nem deu tempo de aprender com ninguém.
Precisava ver o olhar do garoto, cheio
de maldade. A mãe tem que conhecer o filho para colocar no caminho do bem. Eu
estava sempre de olho nos meus filhos. Ele era o meu mais novo. Eu já tinha um
casal que era cheio de afeto, bonzinhos, uma menininha e um mocinho que eram
obedientes e responsáveis, mas o Afonso... Ô menino! Aí percebi que eu tinha
que ficar esperta. Em tudo tinha que corrigir, eu tentava ter paciência porque
ele era muito pequeno, eu pensava: “água mole em pedra dura...” Eu vou dar
tanto amor pra este menino, eu vou falar tanto de verdade e de justiça, vou
ensinar o que é correto de um jeito tão fácil de aprender que ele vai
endireitar.
Eu tinha fé de que Deus iria colocar
dentro da minha casa, apenas os filhos que eu pudesse encaminhar e eu me sentia
capaz de corrigi-lo. A gente morava num bairro humilde e eu trabalhava de
faxina. Ele tinha condições de levar vida de marginal, sempre tem, mas eu não
queria nem pensar nisso, precisava confiar que faria bem o meu trabalho de mãe.
Foi assim que ele chegou em casa com dinheiro e eu fiz devolver, sem surras, só
na conversa e quando chegou todo machucado de brigar na rua, fiz pedir perdão
para o adversário porque não pode agredir ninguém. Com o passar dos anos, ele
se lembrava de tudo o que tínhamos vivido. Tudo o que ia fazer refletia o que
eu seria capaz de fazer para ensinar o certo e foi se inibindo de fazer o
errado.
De repente, o olhar do menino amansou.
Ele se transformou num menino bondoso e cordial. Parecia mesmo que era apenas
uma fase, mas que nada. Chegando aqui eu soube de todo o passado que nos uniu,
a ira, a revolta que ele tinha por conta de uma traição que envolveu um irmão
em outra existência. Ele podia ter acabado com a própria vida se eu tivesse
feito minha tarefa de qualquer jeito. Só sei dizer que foi tudo muito bom, ver
meu filho como um homem de bem, pessoa maravilhosa. Trabalhador, constituiu
família honrada e cuidou de mim até o fim como um filho grato e obediente. É
isso que toda mãe quer: ver que o filho se tornou uma boa pessoa, que ouviu
conselho e não se esqueceu do que a mãe ensinou. Eu sou feliz. NATÁLIA
26/05/19
---------------------Paula
Alves-------------
“TODO FILHO INGRATO TERÁ QUE SE REDIMIR
PERANTE A LEI”
Claro que faz falta. Eu chegava em casa
cansada e olhava para ela parada naquela inércia. Não tinha como acostumar.
Tentava me lembrar de um tempo em que ela era normal. Normal como todas as mães
que se preocupam com os filhos e preparam o jantar. Mãe que gosta de abraçar o
filho e pergunta pra onde vai. Mas, eu não conseguia. Eu estava com quinze anos
e trabalhava muito para poder levar um pouco de dinheiro para casa que pudesse
pagar nossas contas e abastecer os armários, mas era tudo difícil. Cheguei a
ficar indignada com meu pai pelo abandono. Como ele podia deixá-la sabendo que
tinham uma criança para cuidar.
Ele nos abandonou e isso não tinha como
esquecer. Ela só ficava parada em frente a televisão e não conseguia nem
conversar, mas quando estava assim era bom porque, de repente, ela ficava
nervosa e queria quebrar tudo dentro da nossa casa, aí eu me trancava no quarto
e esperava ela se acalmar. Era complicado, nestas horas não tem família, não tem
tio ou avó que dê conta, éramos só nós duas. Fui cuidando dela e de mim, fui
levando a vida sem desejar muita coisa, era um dia de cada vez e achava que
podia terminar meus estudos e ter uma vida melhor, mas quando eu chegava em
casa e via minha mãe inerte em frente a televisão , eu desabava de tanto
desânimo. Ficamos juntas por muito tempo, eu nunca seria capaz de abandoná-la.
Depois de três décadas, eu me acostumei. Terminei meus estudos, me tornei
professora e conseguia manter a casa com dignidade. Eu não quis ter ninguém,
parece que minha missão foi cuidar dela e de mim. Quando minha mãe morreu, eu
senti um pouco de alívio e também de pesar. Isso porque eu sentia falta dela,
eu me acostumei e ficar sozinha não foi bom, mas senti que podia tentar dar um
novo rumo sem aquela angústia que eu senti a vida toda.
A explicação para tudo isso foi tão
óbvia: todo filho ingrato terá que se redimir perante a Lei. Em outra
existência eu judiei muito de minha mãe, eu a ofendi, eu a humilhei e ela era maravilhosa,
fazia tudo por mim e meus irmãos, mas eu não a honrei, por isso, atraí uma mãe
que necessitava tanto de cuidados e que não podia suprir minhas carências de
filha porque eu não merecia. Compreendi e sou grata pela forma como resgatei.
LUZIA
26/05/19
-----------------------Paula
Alves---------------------
“EXISTEM SITUAÇÕES ONDE A CRIANÇA VEM
PARA SALVAR A FAMÍLIA, PARA TRAZER LUZ, ESPERANÇA”
Eu não pensei que poderia sentir tanta
indignação por causa de um ato de minha filha. Eu conversei tanto, eu
expliquei. Ela sabia de toda dificuldade que enfrentávamos e, ainda assim,
passou por cima de minhas solicitações. Eu nem conseguia me lembrar de vê-la
sair sozinha. Ela me traiu. Sabendo que eu trabalhava tanto. Sabendo de tudo o
que eu havia enfrentado, depois do que o pai dela nos fez passar. Ainda assim,
minha filha se envolveu com um delinquente e engravidou.
Tão jovem, ainda na flor da idade.
Podendo ter uma vida boa, com bom emprego e estabilidade, ela me arrumou barriga.
.Eu fiquei muito irritada e tive vontade de colocá-la para fora de casa, mas
pensei no bebê. Eu não queria que ela passasse pelo mesmo que eu. Eu queria que
ela fosse feliz, mas eu não tinha como calcular ou saber por onde viria a sua
felicidade. Eu não queria nem olhar para ela de tanta raiva. Fiquei
constrangida com os vizinhos e nossos parentes. Na hora, o que diziam era que
ela não tinha pai para colocar ordem em casa. Eu ainda era obrigada a ouvir
desaforos.
Cícera teve um lindo bebê que encheu
nossa casa de alegria. O menino cresceu e sempre esteve conosco, cuidando de
nós e dando orgulho. Muitos anos depois, meu neto já formado e trabalhador, tentava
dar para nós todas a regalias de duas damas, eu percebi o quanto fui cruel com
Cícera. Ninguém pode prever os planos de Deus. Existem situações onde a criança
vem para salvar a família, para trazer luz, esperança. Eu fui muito cruel,
muito errada. Cícera foi a melhor mãe do mundo, encaminhou tão bem Lúcio que
ele cuidou de nós até o fim. Ele me chamava de rainha. Eu tive um amor enorme
por meu neto querido. Nunca vou esquecer.
SUZETE
26/05/19
--------------------------------------Paula Alves---------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografia
“COMO DEUS É BOM PARA NÓS”
Eu cuidava como mãe. Estava sempre
disposta a contar historinhas. Fazia cafuné para dormirem. Ajudava com os
trabalhos escolares. Fazia tudo o que fosse possível para alegrá-los. Eu sempre
fiquei com pena de ver o quanto sofriam com saudades da mãe que havia morrido,
deixando os dois ainda bem pequenos, e a ausência do pai que estava sempre
viajando. Estranho como os demais familiares só apareciam nas grandes festas.
Sobrava eu, a babá.
Por outro lado, Deus devia ter uma boa
razão para me fazer com o útero infantil. Eu não poderia ser mãe biológica de
ninguém. Me apeguei àquelas crianças como se fossem minhas, acho que este foi
meu erro. Mas, eu precisava amar, eu podia amar e conceder a elas todo o meu
tempo, meus sorrisos e minha atenção. Eu era paga para cuidar deles, mas o
afeto a gente dá se quiser, e eu queria. Acho bem estranho a pessoa que diz só
amar até aqui. Só abraço deste modo. Como conseguem?
Eu não podia sorrir de suas travessuras
só um pouquinho e nem afagá-los pela metade, entende? Eu escolhi me envolver
com eles e não me arrependo por isso. Mas, depois de ter passado seis meses em
viagens, quando o pai retornou, trouxe uma surpresa, ele casaria novamente. A
esposa não parecia ser muito adoradora de crianças e, logo no princípio, já
comprou briga com as crianças que estavam morrendo de saudades do pai. Logo
percebi o fascínio que ela exercia naquele homem que preferiu castigar os
filhos a ter de desapontá-la. Eu me irritei e ela percebeu. Não demorou muito
para armar um plano. Casou-se, mandou as crianças para um internato e eu para o
olho da rua, já que não tinha mais crianças para tomar conta. Eu chorei muito
porque sentia que tinham tirado meus filhos de mim.
Impotente, frustrada, com raiva do
mundo, cobrei de Deus por que passava por aquela terrível situação. Eu sofria
sinceramente e não conseguia entender o motivo. Os anos se passaram e eu nunca
me esqueci deles, mas levei minha vida e achei que nunca mais fosse encontrá-los
quando eu os reencontrei. Eles já estavam adultos, lindos, educados e foram me
procurar. Nem acreditei quando olhei nos olhos deles e vi as crianças de antes.
Eles me abraçaram e beijaram com tamanho afeto, disseram que eu fui a mãe deles
e nunca poderiam se esquecer de tudo o que fomos uns para os outros. Nós éramos
uma família legítima. Eles me convidaram para morar com eles e eu aceitei
achando que seria a empregada da casa, mas não. Eles me acolheram como
verdadeira mãe e me cobriram de carinhos. Quando cheguei aqui tinha minhas
indagações e pude observar no filme que carrego comigo, muitas vidas em que
fomos parentes de sangue. Eu já os conhecia como filhos queridos e, apenas
recobrei os sentimentos do passado.
COMO
DEUS É BOM PARA NÓS.
TEREZA
18/05/19
-------------------------Paula
Alves----------------------
“A GENTE DEIXA MUITA COISA DE LADO E TEM
MÃE QUE NÃO ACEITA ESTAS PERDAS”
As obrigações não tinham fim.
Simplesmente não tinha tempo para nada. Acordava cedo e logo via que o serviço
estava todo lá me esperando. Antônio Carlos sempre disse que, logo que eu
engravidasse, não precisaria mais trabalhar. Ele queria que eu ficasse em casa
para cuidar da família. Era tudo tão lógico naquela época que não tinha
contestações.
Eu engravidei da Celinha e já sabia
que, a partir dali, era serviço doméstico, mas nunca imaginei que fosse tanto.
Eu não tinha muita habilidade, nem paciência. Tudo me irritava. Eu tentava
alimentar a criança e ela não queria a comidinha que eu fazia, era o pai que
conseguia alimentá-la. Depois chegaram outros filhos e a correria piorou. Eu
olhava para o Antônio Carlos e tinha até raiva porque ele era calmo, tinha
paciência, conseguia colocar tudo em ordem, rapidinho e fazia em duas horas o
que eu levava o dia todo para conseguir.
Aquilo foi me dando uma indignação, uma
raiva, um desgosto. Eu não aguentava mais porque o serviço se multiplicava e a
criançada crescia pronta para me enlouquecer. Um dia, não quis sair da cama. As
crianças começaram a chorar e eu cobri a cabeça, aí a vizinha estranhou, ligou
para o meu marido que chegou em casa e encontrou tudo revirado. Eu na cama.
Criança com fome, chorando e eu lá, no meio dos cobertores. Ele foi um amor.
Correu, preparou tudo, me ajudou a tomar banho e me levou ao médico que disse
que eu estava estafada. Meu esposo não entendeu nada. Eu, só chorava e o médico
pediu paciência, mas isso ele tinha de sobra graças a Deus.
Não entrava na minha cabeça como eu
podia viver daquele jeito fazendo tudo sempre igual sem prazer nenhum. Eu não
via graça na minha vida e as crianças me irritavam, eram meus filhos e, apesar
de amá-los, eu contava os minutos para que eles dormissem porque parecia que,
só assim, eu tinha paz. Nem sei quando melhorou. Eles cresceram muito apegados
ao pai. Eu entendia que não conseguia fornecer a eles tudo o que uma mãe deve
dar. Hoje, entendo que não tem mãe igual. Cada uma de nós é muito diferente e é
nisso que está a prova. A gente tem que aproveitar ao máximo as sensações da
maternidade. Os hormônios, o contato com o feto, a mudança psicológica, o
parto, tudo é motivo de crescimento e enobrecimento pessoal, mas existe certo
egoísmo dentro de nós que pode destruir tudo isso. Principalmente quando a mãe
para pra pensar e raciocina que perde muita coisa depois que tem um filho.
A
GENTE DEIXA MUITA COISA DE LADO E TEM MÃE QUE NÃO ACEITA ESTAS PERDAS.
Eu perdi meu emprego, meu lugar na
sociedade como alguém que produzia e me tornei dona de casa no exato momento em
que me tornei mãe, acho que foi o ponto crucial da minha depressão. Eu não
queria aceitar, mas foi isso sim, egoísmo. Eu não parei para pensar que minha
família precisava de mim e que, em nenhum outro lugar, eu seria tão importante
quanto na minha casa. Em nenhum momento considerei pensar que as crianças
precisam de uma mãe com a cabeça no lugar, feliz e realizada, satisfeita com
sua condição de mãe e mulher. Eu fui muito egoísta. Aqui encontrei outra
explicação: eu e Antônio Carlos ainda tínhamos resquícios da nossa última
encarnação quando eu havia sido homem e ele foi uma mulher, por isso, eu não
via graça em nada e ele conseguia desempenhar tão bem as tarefas do lar. Eu
compreendi, mas foi exatamente por este motivo que pedimos a inversão dos papéis
para que pudéssemos assimilar outros conhecimentos e virtude. Eu falhei. Sei
que poderia ter sido muito pior porque, por diversas vezes, passou em minha
mente a necessidade de abandonar tudo e fugir daquele mundo que não era meu. Eu
pensei em abandonar meu lar, deixar minha família e partir sem
responsabilidades, sem compromissos. Ainda bem que eu não fiz isso. Ainda bem
que eu levei a sério aquele sim que dei para o Antônio Carlos. Mesmo
contrariada, eu fui mãe e esposa até o final e consegui aprender muito com
todos eles. Eu queria que tivesse sido mais branda, mais sorridente, cordial
com meus familiares. Acho que eu poderia ter usado palavras de carinho e sido
mais agradável com eles.
ELES
MERECIAM UMA MÃE MAIS GRACIOSA.
DARCY
18/05/19
-----------------------------------------------Paula
Alves---------------------------------
“MAS, A GENTE NÃO DEVE PISAR SOLO QUE JÁ
TEM DONO”
Eu amava aquele homem com todas as
minhas forças, mas não aceitava aquelas crianças que pareciam me afrontar. Você
precisava ver a forma como me olhavam. Sempre dispostas a me irritar. Sempre se
lembrando da mãe. Eu tentei agradá-los, fiz doces, levei presentes e eles debochavam.
Entregavam os retratos dela, diziam que a mãe foi perfeita e linda. Tudo para
me comparar. Flávio deixava o olhar longínquo e mudava comigo todas as vezes
que ouvia falar dela. Eu sempre soube que nunca poderia competir com aquele amor,
mas para mim só existia ele e ela estava morta. Resolvi tentar e assumi a
família dela.
Eu merecia tentar e vivenciar aquela
paixão que eu nutria dentro de mim. O que os filhos dela podiam fazer? Mas, a
gente não deve pisar solo que já tem dono.
NINGUÉM
DEVIA TENTAR SE ENVOLVER NUM RELACIONAMENTO QUANDO AINDA PENSA NA OUTRA PESSOA,
ESTEJA ELA VIVA OU MORTA.
Eu tentei, sofri, chorei e percebi que
nunca poderia conquistá-los. Eles cresceram e eu nunca tive paz. Na
adolescência foi ainda pior porque colocavam em mim a culpa de suas atitudes
irresponsáveis e o Flávio me culpava, viajava apenas com os filhos dizendo que
eles precisavam de mais atenção. Tentei engravidar, mas nunca consegui. Na fase
adulta, não aguentei, me separei do Flávio e desejei ser feliz sozinha, eu
precisava de paz. Aquela família já estava me enlouquecendo. Até que o Flávio
passou muito mal, necessitou de internação e os filhos foram me buscar, pediram
perdão, disseram que não conseguiam se esquecer da mãe e que queriam a
felicidade do pai. Eles falaram que um dia, teriam suas vidas, seus
relacionamentos e não desejavam ver o pai sozinho, infeliz. Eu era a esposa
dele e precisava viver em paz. Daquele dia em diante, foi um pouco melhor.
Quando cheguei aqui, eu soube que Tamara não se conformou com o casamento que
tive com Flávio. Após seu desencarne, ela se recusou a sair da casa e fez de
tudo para me agredir, até usou os filhos para causar intrigas e brigas para que
eu pudesse ir embora. Eu precisava passar por tudo isso. Nós nos ligamos em
outras existências e meu sofrimento tinha motivo porque nesta outra vida, eu
causei a separação deles. Eu fiz com que ele se divorciasse dela e deixei os
garotos passando privações, enquanto eu vivia bem ao lado do esposo dela. Eu
não queria que tivesse sido daquela forma. Não consegui me sentir parte
integrante daquela família.
ACHO
QUE MINHA VIDA SÓ SERVIU PARA REPARAR ERROS COMETIDOS NO PASSADO.
Espero, do fundo do coração, que todos
tenham me perdoado e que, de uma próxima vez, possamos fazer nascer o amor.
ROSÂNGELA
18/05/19
-----------------------------------------Paula
Alves----------------------------------------
“EU QUERIA QUE ELES VALORIZASSEM O QUE É
REALMENTE IMPORTANTE. SÓ”
Eu não podia passar por tudo sem notar
que eu estava me perdendo de mim. Já não tinha mais noção de quem eu era.
Estava sempre gritando, correndo atrás deles com o chinelo na mão. Eram meninos
tão desobedientes, encrenqueiros. Eu sabia que tinha que estar atenta, senão
podiam fazer uma travessura que me custaria bem caro. Foi indo, até me afastei
dos familiares e amigos porque me causavam constrangimento. Quantas vezes, não
quebraram vasos, pratos, rasgaram cortinas, riscavam carros, quebraram plantas,
entre outras coisas que me deixavam de cara no chão?
Meu marido ria, deixava que eu saísse
de louca, de chata. O pior é que as pessoas só falam da mãe: a mãe não educa
direito, dá nisso... É sempre a mesma história. A mãe é a ruim. Por quê? Eu
dedicava a minha vida para transformá-los em homens de bem, mas não sabia mais
o que fazer.
O
CHINELO NÃO RESOLVEU, O CASTIGO NÃO RESOLVEU, TIREI BRINQUEDOS, PRIVEI DE
PASSEIOS, PRESENTES, AINDA ASSIM, ELES ME AFRONTAVAM.
Parece que faziam de propósito e quando
estávamos na frente dos outros era pior, parecia que gostavam de me humilhar.
Eu sempre ouvia risinhos e depois lição de moral. As pessoas querendo me
ensinar a cuidar dos meus filhos. Eles nem conheciam meus meninos. Acabava me
irritando tanto que eu comprava briga com o dono da casa e perdia a amizade. Um
horror! Sabe por quê? Eu não queria que ninguém falasse mal deles. Eu podia
falar deles e mais ninguém porque, afinal de contas, era eu que cuidava deles,
que me preocupava com eles e ninguém tinha que apontar o dedo.
Claro que, dos meus três filhos, teve
filho que me deu dor de cabeça até depois de grande e um dia, quando a gente
estava no meio da maior confusão porque o Danilo tinha passado a noite com a
filha do vizinho, começaram a falar de mim, dizendo que o rapaz era daquele
jeito porque a mãe não tinha ensinado modos e ele era irresponsável, devia ser
porque a mãe era leviana igual a ele... Pra quê?
Os três foram pra cima do sujeito
(há-há). Nunca esqueço. Naquele dia percebi que eles sabiam a mãe que eles
tinham. Nunca admitiram ouvir falar mal da mãe. Aconteceu muita coisa na minha
vida, mas eu só agradeço a Deus porque filho dá trabalho pra valer, deixa a
gente de cuca quente, a mãe se esquece até do próprio nome, mas está sempre de
olho no filho. Eu saia descabelada, mas meus meninos estavam sempre cheirosos e
eu fiz de tudo para ensinar a ser homem honrado. Hoje, meu maior orgulho é ver
que todos eles têm a família deles, o trabalho decente e a casa com Jesus como
eu ensinei. Era só isso que eu queria.
EU
QUERIA QUE ELES VALORIZASSEM O QUE É REALMENTE IMPORTANTE. SÓ.
MARIA
DOS REMÉDIOS
18/05/19
-----------------------------------Paula Alves--------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografia
“EU NÃO GOSTEI DE VER MINHA MÃE SOFRENDO
DEPOIS DE TODO O SEU EMPENHO PARA ME MORALIZAR”
Ela era empenhada. Quantas vezes me
cobrou juízo? Minha mãe era daquelas enérgicas. Ela podia não saber como dizer
as coisas, mas, na medida do seu conhecimento e da sua lógica, ela sabia muito
bem o certo e o errado. Mas, eu não quis ouvir. Eu nunca pensei no quanto ela
sofria. Nunca perdi alguns minutos do meu dia para pensar nela e em suas razões
para tentar me impedir de cometer delitos.
EU
SÓ QUERIA VIVER A VIDA E CURTI-LA.
Para mim era importante ter as coisas,
mas eu não tinha estudo e nem tinha vontade de me esforçar para adquirir as
coisas com trabalho. Eu ria dos que trabalhavam muito e acordavam cedo para
pegar o buzão lotado. Minha mãe chorava escondido, eu nunca percebi. Demorei
tanto para notá-la. Foi de uma forma bem infeliz que soube o quanto ela me ama.
De tanto avisar, um dia, aconteceu o que ela tanto temia. Eu fui preso e,
depois disso, como se não bastasse todo o constrangimento para me ver na cadeia
e levar para mim todos os meus pratos preferidos para tornar aqueles dias menos
angustiosos, eu quis ser valente e me envolvi numa briga. Desencarnei ali mesmo
cheio de revolta e dor. Perambulei por um longo período de tempo entre insanos
e delinquentes quando, de repente, senti uma luz me aquecer.
EU
OUVIA A VOZ DELA.
Era como se, de algum lugar, ela me
abraçasse. Eu desejei vê-la, desejei estar com ela, mas continuei onde estava.
Isso aconteceu repetidas vezes, até que pude me lembrar com bastante nitidez dos
seus pedidos para que eu fosse um homem trabalhador e bom. Eu fui relembrando
tantas coisas. Lembrei até de quando era um bebê e, depois disso, me lembrei de
outras vidas quando ela já tentava me encaminhar no bem. Aí eu chorei porque
pude vê-la em oração no nosso antigo lar. Eu não saí de onde estava, mas conseguia
vê-la.
EU
NÃO GOSTEI DE VER MINHA MÃE SOFRENDO DEPOIS DE TODO O SEU EMPENHO PARA ME
MORALIZAR.
Eu me entreguei ao sentimento e pedi
perdão a ela e àquele Deus a quem ela proferia a prece. Eu me senti exausto,
dormi e quando acordei estava aqui. A verdade é que ela me salvou daquele
cativeiro e eu nem sei se mereço, realmente, estar entre vocês porque errei
muito.
EU
NÃO PODIA IMAGINAR O QUANTO UM FILHO PODE FAZER UMA MÃE SOFRER ATÉ DEPOIS DA
SUA MORTE E EU ESTOU ENVERGONHADO POR ISSO.
EDGAR
13/05/19
-------------------------------Paula
Alves-------------------------------
“HOJE EU TENHO VERGONHA PORQUE ME
ENCONTRO NO GRUPO DOS FILHOS INGRATOS”
Ela nem dormia. Quantas vezes trancou o
portão e escondeu a chave? Me dava conselhos e eu fingia ouvir, achava tudo uma
chatice e ela falava que, quando eu tivesse meus filhos eu iria entender, mas
não foi assim. Eu sempre arrumava um jeito de enganá-la e fugia. Passava a
noite toda no baile, curtia e depois voltava para casa na hora do café, ria
como se tivesse sido divertido enganá-la.
Ela chorava e eu não entendia aquele
sentimento de revolta. Era porque eu a enganava e ainda ria dela. Fiz isso muitas
vezes. Ela chegou a ir me buscar e, por eu ter passado vergonha, falei uma
série de palavras que nunca deveria ter dito. Coisas que envolviam meu pai que
nunca cuidou da gente. Ela se magoou, mas ainda assim, continuou do meu lado.
Nada que falava conseguia me impedir de ser leviana e, depois de tudo isso,
engravidei.
TODOS
ME VIRARAM AS COSTAS, INCLUSIVE O PAI DO MEU FILHO, MAS ELA NÃO.
Ela me abraçou e disse que tudo ficaria
bem. Só que, depois disso, vieram mais quatro e ela cuidando dos guris,
enquanto eu saia sem dar satisfação. Numa destas saídas, eu afrontei meu
namorado e apanhei tanto que desencarnei profundamente irritada, desejando
vingança. Eu o persegui e vaguei por muito tempo. Nunca parei para pensar nos
meus filhos ou na minha mãe, mas o tempo passou tão depressa que as crianças
cresceram bem cuidadas e minha mãe desencarnou para me tirar do lamaçal em que
me encontrava.
HOJE
EU TENHO VERGONHA PORQUE ME ENCONTRO NO GRUPO DOS FILHOS INGRATOS.
Sei
que terei de expiar situações terríveis por causa de tudo isso. Já minha mãe,
depois de receber permissão para me resgatar, ainda se elevou por ter cuidado
dos meus filhos como se fossem seus. Ela se elevou muito. Eu peço perdão. CLER
13/05/19
-----------------------------------Paula
Alves----------------------
“EU ESTOU CONSTRANGIDO POR TUDO O QUE
FIZ, NEM SEI COMO TIVE CORAGEM DE DESABAFAR COM VOCÊ”
Eu sempre tive horror daquela casa e da
nossa vida. Eu era o filho mais velho e culpava minha mãe por não termos
conhecido nosso pai e por termos tantas necessidades materiais. Em tudo eu
tinha que ajudá-la. Se o chuveiro queimava, era o Francisco. Se acabava o gás,
Francisco. A criança chorava, chama o Francisco. Tudo eu. Mas, eu estava tão
empenhado em ver o meu eu que me esqueci de ver o lado dela. Ela só tinha os
filhos e contava comigo porque eu era o maior.
Não vem ao caso dizer o que meu pai fez
para infringir a lei quando ele nos abandonou. Eu já o esqueci e deixo que ele
se entenda com a justiça. O fato é que eu estava fazendo como ele. Eu sempre me
escondia e fugia dela. Ela tinha que resolver tudo sozinha e sempre conseguia
se virar porque desenvolveu múltiplas virtudes, ela foi exemplar.
Ainda falava comigo com todo amor e eu
de cara feia. Cresci e quando pude, fui embora. Deixando minha mãe e meus
irmãos naquela vida de miséria. Eu pensava neles raramente, ela me procurou e
eu fiz questão de não desejar vê-la porque eu tive vergonha dos seus trajes,
ela parecia uma mendiga e eu já estava morando num lugar bom, já tinha família.
EU
FUI DAQUELES FILHOS QUE NÃO VISITA A MÃE NEM NO NATAL, SABE?!
Eu nunca fiz nada por ela e quando
desencarnei vítima de uma sandice que me ligava ao vício da bebida, eu pude
ouvi-la. As preces dela me suavizavam as dores. Eu estava em delírio, mas pude
perceber que ela nunca se esqueceu de mim. Ela já estava bem velhinha, ela nem
sabia de mim. Sei que ela não tinha notícias da minha morte e orava todos os
dias por mim. Orava por todos os filhos, mas minha prece era especial.
MAS,
POR QUE AS MÃES FAZEM ISSO?
POR
QUE AS MÃES SÃO MAL TRATADAS E, AINDA ASSIM, NÃO SE ESQUECEM DOS SEUS FILHOS
INGRATOS?
POR
QUE ELAS RECEBEM AGRESSÕES DE INDIFERENÇA E DESPREZO E, MESMO ASSIM, CONTINUAM
AMANDO?
Eu estou constrangido por tudo o que
fiz, nem sei como tive coragem de desabafar com você.
ELBER
13/05/19
----------------------Paula
Alves--------------
“EU APRENDI QUE O AMOR DE MÃE CURA MESMO”
Os ingratos padecerão! Eu não tinha
ideia. Eu não gostava de chegar perto dela. Nunca consegui explicar por que
minha mãe me irritava tanto. Eu achei que o jeito era ficar cada vez mais longe
porque estávamos brigando constantemente. Na adolescência, a coisa foi bem pior
porque fui para cima dela e bastou isso para ela falar para meus irmãos mais velhos
e eles partiram para cima de mim, ela ainda me defendeu. Eu não sabia o motivo
e quando consegui fui embora, mas ela não me largou.
Ela ia para minha casa e fiscalizava
tudo. Limpava minha casa, dava lição de moral. Tudo era motivo para estar me
ensinando alguma coisa. Se metia nos meus relacionamentos e falava, falava. Eu
cheguei a proibir sua entrada na minha casa e ela nem ligou, disse que mãe não
podia se afastar do filho nunca.
ELA
FALAVA QUE NUNCA IA DESISTIR DE ME COLOCAR NUM BOM CAMINHO.
Eu ficava enfadada e não via a hora
dela sair, mas aconteceu que, na hora certa, a corrigenda chegou. Eu adoeci. Tive
um câncer de intestino e fiquei muito debilitada. Ela sempre esteve certa.
Minhas amigas desapareceram e meu namorado achou um desvio terrível no meu
comportamento para terminar nosso romance de três anos. Ela cuidou de mim. Saiu
da casa dela, deixou meu pai, meus irmãos mais jovens e se mudou para minha
casa. Ela fazia tudo por mim como se eu fosse uma criança manhosa.
FOI
MINHA AMIGA, MINHA CONFIDENTE E EU, NUNCA IMAGINEI, QUE A AMASSE TANTO.
Antes de chegar o momento final,
parecia até que ela tinha sido avisada, depois eu soube que foi mesmo. Ela
preparou uma noite das meninas e nós assistimos o meu filme preferido, que ela
detestava, ela me fez rir, apesar da dor, e disse que eu sempre seria a
menininha dela.
Não importava o quanto eu a fizesse
sofrer, ela sempre iria agradecer a Deus pelo dia em que ela me teve. Eu me
deixei ser abraçada por ela e agradeci. Eu beijei minha mãe e pedi perdão por
tudo. Eu soube que, se nós tivemos algum mal entendido no passado, tinha sido
zerado depois de tudo que ela me ofertou. Eu disse que a amava sinceramente.
ESTRANHO
COMO O AMOR DE MÃE É TÃO GRANDE QUE GERA AMOR ATÉ NO FILHO QUE NÃO SENTE NADA.
Eu
aprendi que o amor de mãe cura mesmo. Cura nossas feridas do passado. Ela se
dedicou tanto para me amar que eu também a amei. Hoje sou imensamente
agradecida pelo tempo em que estivemos juntos. Eu fui muito bem tratada. FERNANDA
13/05/19
------------------------------Paula Alves--------------------
Foto cedida por Magno Herreira Fotografias
“ACREDITAMOS
QUE ELES NÃO SABERÃO O QUE FAZER SEM NÓS”
Hoje
eu compreendo a necessidade que tinha de me afastar deles. Nós não queremos
partir. Queremos continuar com tudo o que achamos que nos pertence. Ficar em
nossos antigos lares, nas casas, com nossos parentes. Acreditamos que eles não
saberão o que fazer sem nós. Achamos que o sofrimento deles será demais, era
eterno, mas não é assim. Eu não pude perceber que eu estava causando mal à eles
por causa da minha influência. Eles sentiam o que eu sentia, o meu pesar, o meu
ressentimento, o meu sofrimento. Eu estava bloqueando a energia doméstica, mas
não poderia imaginar que é isso o que acontece.
Por
isso, tem um trecho na Bíblia que diz que não devemos nos envolver, é por isso.
Cada um deve buscar o seu lugar. Vivos no mundo dos vivos e mortos no seu
mundo. Acho que mortos é forte demais, que horror! Eu não morri, mas vamos
deixar assim, acho que deu para entender. A verdade é que eu me desesperei
quando percebi que minha filha estava grávida e abandonada pelo pai da criança.
Vou entrar em dois pontos fundamentais. Minha filha foi criticada por toda a
sociedade por ter engravidado, afinal, ela não era casada, não tinha estrutura
financeira e engravidou, mas ninguém nunca criticou o rapaz que fez o filho
junto com ela.
Por
que não? Por que ninguém costuma ensinar aos filhos homens que eles têm que respeitar
as mulheres, as moças?
Ninguém
fala para usar preservativo e tomar cuidado para não constituir a família que
não se deseja?
Por
que não ensina a respeitar os sentimentos das moças?
Ninguém
ensina castidade para homem?
Eles
têm que ter virilidade, mesmo que isso indique um bando de filhos, um com cada
mulher. Um monte de crianças que devem sobreviver com um terço de um salário
mínimo? Isso paga fraldas, comida e remédio?
Fiquei
desesperada. E aí entro no segundo ponto fundamental de meu breve relato: o que
seria dela sem um pai para seu filho e sem a mãe dela – eu? Fiquei desesperada
e percebi que a vizinha me ouvia. Ela estava conversando com minha filha e
quando eu pensei alto, ela me ouviu. Foi aí que tive a ideia de pedir algumas
coisas para ela. Eu achei que ela fosse me atender rapidamente e prontamente
ela tratou de se preocupar com a vida dela, nem mesmo se preocupou com a
situação de Alice. Mas, eu não podia deixar minha filha passando necessidades,
então, insisti. O senhor pode até falar que eu a estava obsidiando, mas para
mim não era isso. Era uma mãe pedindo socorro para alguém. Eu tive que pegar
pesado, influenciei em sonhos e comecei a mandar imagens mentais onde tudo o
que ela observava girava em torno do mundo infantil e ligado às gestantes. Acho
que o egoísmo cega os homens. Ela não é ruim. Tanto que, depois disso, ela ajudou
de todas as formas e hoje pode ser considerada a salvadora da Alice. Minha
filha arrumou emprego por intermédio dela e o bebê é muito lindo. Estou feliz que
tenha dado tudo certo, espero que ela seja muito feliz. Sou agradecida pela
oportunidade que tive de ser socorrida e também de estar com ela no momento do
parto, eu estava tão preocupada. Sou feliz!
ISAURA
05/05/19
-----------------------------Paula
Alves-----------------------------
“NÓS MULHERES, NASCEMOS PARA AMAR E DOAR
AFETO”
Se
me contassem eu não acreditaria. Quando perdi o útero por causa da infecção,
chorei demais e achei que meu esposo iria me abandonar porque nunca poderia dar
um filho a ele. Wilson sempre gostou de crianças e eu também. Levou alguns anos
para me conformar que seria árvore seca. Triste demais ver suas amigas
engravidando e aumentando a família, enquanto você nem pode sonhar com isso.
Dediquei minha vida ao meu marido quando, de repente, comecei a repensar minha vida
que parecia vazia demais.
NÓS MULHERES, NASCEMOS PARA AMAR E DOAR
AFETO.
Eu
sentia que podia ser mais que uma mulher comum, seca, eu tinha tanto sentimento
dentro de mim. Eu desejei tanto uma criança e me deparei com a situação de ter
uma empregada que não dava conta de cuidar dos seus filhos. Deus escreve sempre
certo. Ela não tinha marido, estudo, profissão, casa, nem família que pudesse
lhe auxiliar e eu tinha amor. Ela trabalhava em minha casa e lamuriava sobre
sua vida difícil. Eu ouvia e pedi para trazer as crianças para eu conhecer. Ela
foi trazendo um a um e eu fui me apaixonando por eles, fui me envolvendo. Eu ajudava
como podia e eu podia porque tinha um bom emprego e não tinha filhos.
Criança
custa caro, eles precisam de tudo, sobra dinheiro na casa de quem não tem
criança, eu percebi. Fui comprando roupa, sapato, colocando na escola, pagando
curso. Eles foram crescendo e Odete estava tão abatida, cansada. Eu pedi que
ela ficasse em casa para descansar. Ela estava doente. Quando Odete morreu, seu
mais novo tinha sete anos. Levou um tempo para que o juizado entendesse que o
melhor para eles era ficar comigo. Eu criei todos os filhos dela como se fossem
meus. Nunca senti vontade de ter filhos depois disso porque tive uma vida cheia
de ocupação, eu não tinha muito tempo para ficar pensando. Eu vivi demais. Vivi
de momentos que fizeram de mim uma mulher realizada.
EU FUI FIGUEIRA PRODUTIVA COM O VENTRE
DA ODETE E SOU MUITO AGRADECIDA A ELA.
Nossos
filhos me amaram e sinto que ainda me amam. Eles sempre me respeitaram e foram
generosos comigo. Me cobriram de afetos e atenções. Fui uma mãe muito amada e
agradeço a Deus para sempre.
GUILHERMINA
05/05/19
----------------------------Paula
Alves----------------------
“FALEI QUE MÃE É ABNEGAÇÃO, ENTREGA E
RENÚNCIA”
Eu
achava aquele homem lindo demais. Desde o primeiro olhar eu sabia que seria
dele. E me entreguei com todo amor que tinha dentro de mim. Nós nos casamos e
não posso esquecer dos detalhes de nosso casamento que providenciei com todo
esmero. Meus amigos e familiares diziam que eu estava feliz e realizada. Isso
porque Lauro me fazia sentir linda, amada. Mas, o tempo passou. Tivemos nosso
primogênito e fiquei muito diferente. Engordei e estava cansada por causa do
bebê. Eu já não era aquela jovem de antes, nem de corpo, nem de alma. Notei que
Lauro estava cada vez mais belo e não me olhava como antes. Mas, não tinha o
que fazer, eu tinha tanto serviço e fui vivendo, até que descobri a primeira
traição. Chorei tanto, gritei e falei que ia me separar, mas o mais difícil foi
perceber que ele não se importava.
Eu
fui embora e ele continuou com ela. Mas, notei que eu estava me sentindo mal,
eu estava grávida novamente. Foram meus familiares que falaram com Lauro e nos
uniram de novo. Ele prometeu se endireitar e eu aceitei por nossa família.
Depois de ter meu filho descobri outras traições e vi que ele não ia mudar,
sempre seria leviano, mas o que eu faria sem ele, com nossos filhos? Sim, eu
ainda o amava. Sentei para conversar e disse que eu queria um lar. Um local
decente para criar nossos filhos. Eu queria que eles tivessem pai e mãe, que
fossem felizes, eu também queria ser feliz e eu havia escolhido ele para ser
meu esposo por toda a vida, mas ele podia ir se não fosse capaz de nos dar o
que precisávamos. Ele pensou. Na hora fez muitos comentários que afirmavam que
a culpa era minha. Eu já não era vaidosa ou carinhosa com ele. Eu só pensava
nas crianças.
EU TIVE QUE FALAR PARA ELE O QUE É SER
MÃE.
FALEI QUE MÃE É ABNEGAÇÃO, ENTREGA E
RENÚNCIA.
Eu
estava deixando minha vida de lado para cuidar de seres que precisavam de mim
em tempo integral, mas eu estava agradecida por tudo isso. Mas, ele como pai,
ao invés, de me auxiliar estava me deixando por ter me tornado mãe dos filhos
dele. Expliquei que a família tem que ultrapassar barreiras, unida. Um deve
pensar no bem estar do outro e não ser egoísta e só pensar na satisfação dos
seus desejos, das suas paixões. Meu marido não era apenas um filho que podia
ter tudo que quisesse, agora ele era o pai e devia se comportar como tal. O
homem da casa com respeito e autoridade de um chefe de família. Com postura
reta e inabalável. O que ele queria deixar de exemplo para os filhos dele? Um
homem que abandona os seus por causa de um rabo de saia? Não importa os quilos
que ganhei, amadureci tanto, estava tão transformada como mãe e, isso era a
minha valorização também como mulher amadurecida e confiante. Eu era a mãe e
merecia o maior repeito e consideração. Ele chorou. Disse que não esperava
ouvir tudo aquilo de mim. Disse que seria muito idiota se me deixasse porque eu
era a verdadeira mãe.
Ele
foi um excelente esposo. Depois daquele dia, ele me valorizou. Nunca mais soube
de nenhuma escapadela sequer. Lauro ouviu tudo o que eu disse e se tornou o
homem da casa. Eu agradeço muito a Deus porque com o Evangelho nas mãos eu pude
edificar meu lar.
CLEONICE
05/05/19
--------------------Paula
Alves-----------------
“POR MIM, EU ESTAVA AJUDANDO MEU FILHO,
MAS COMO É QUE EU POSSO AJUDAR SE ELE NEM QUER AJUDA?”
Aquele
menino foi a minha alegria e o meu tormento. De todos os filhos que eu tive, só
com ele eu me preocupei. Nossa vida não foi fácil. Vida de pobreza e aquele
homem que estava sempre me fazendo filho. Naquela época, mulher engravidava
igual coelho. Não sabia como evitar e ele me emprenhava fazendo um filho por
ano. Eu amava todos os meus filhos, mas me dava angustia quando percebia que
estava grávida. Era ruim trabalhar grávida, canseira, dor. Acabei perdendo
alguns, a barriga não aguenta a enxada na mão o dia todo.
Ezequiel
nem ligava, falava que vinham outros e para distrair dizia que, quando eles
crescessem, ficaria bom para nós. Olha! Eu não sei como aguentei aquele homem.
A verdade é que as crianças foram crescendo e quando eu estava quase suspendendo
as regras, veio o Moacir. O menino que deu trabalho da hora de nascer até
sempre. Queria tudo fácil, implicava com o pai, tinha ciúmes dos irmãos e
queria mentir. Mentia o danado do menino. Eu que era a mãe sabia de cada um.
Conhecia com os olhos fechados, sabia da voz, do cheiro e até da passada deles.
De todos! Eu sabia de olhar nos olhos o que estava sentindo. Moacir tanto que
fez que trouxe a gente pra São Paulo porque queria uma vida melhor pra família.
Melhor
em São Paulo?
Pra
nós só tinha a favela e a miséria. Na roça era bem melhor, mas voltar como? O
jeito foi se arranjar em São Paulo. A maioria foi trabalhar de pedreiro e nas
fábricas, todos trabalhadores, menos o Moacir que se envolveu com o que não
presta. Só me deu desgosto o menino. Eu achei que ele fosse morrer. Corria atrás
dele na madrugada, depois foi preso e eu era humilhada para visitar. Meu marido
brigava.
PAI NÃO SABE O QUE É O CORAÇÃO DOER DE
PREOCUPAÇÃO.
Rezei
pra Deus tomar conta do meu filho porque eu já não sabia mais o que fazer por
ele. Morri primeiro, acho que meu coração não deu conta, era muita emoção. Eu
nem consigo entender o que foi aquela vida. Todo mundo sofrendo tanto. Mas, o
pior foi ver meu filho usando drogas, eu vi tudo. Ele com os drogados da carne
e com os Espíritos que ficavam sugando. Que horror! Nem sei como tirar isso da
minha cabeça doutor. Achei que o meu sofrimento era só enquanto estava viva,
mas agora é muito pior.
POR MIM, EU ESTAVA AJUDANDO MEU FILHO,
MAS COMO É QUE EU POSSO AJUDAR SE ELE NEM QUER AJUDA?
MARIA
DE FÁTIMA
05/05/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário