Cartas de Agosto (16)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias



TER FAMÍLIA É TUDO.
“FAMÍLIA PREENCHE, CONFORTA, AMPARA E MOSTRA O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA”

Eu já estava bem cansado daquela vida. A sensação de inutilidade. De quem não fez nada que prestasse. Um dia me olhei no espelho e percebi que ninguém se importava comigo e eu também não tinha ninguém para amar. Foi o fim. Eu me decepcionei comigo. Com minha inércia. Achei que, talvez na mocidade, pudesse ter me transformado num pai de família. Seria tudo muito diferente se tivesse uma esposa zelosa, filhos e netos para estarem ao meu lado, mas eu não quis. Enquanto fui jovem, bonito, eu me empenhei em ser garanhão. Eu quis festejar, estar com meus amigos, mas eles foram se arranjando e eu gostava de tirar sarro. Eu falava que eles tinham se amarrado e nunca mais seriam realmente felizes e livres. Eu estava errado.

Demorei a perceber que tudo foi ilusão. Eu fui um covarde. Meus amigos estavam casados, envelhecidos, apresentavam cada um o seu problema. Uns reclamavam dos filhos, outros de falta de dinheiro porque família custa, outros ainda falavam que a esposa não deixava em paz, mas eles tinham tanto assunto. Eles nem sequer perceberam que tinham tudo. Tinham lembranças, tinham saudade, tinham aconchego e problemas que eu não tinha, mas estes problemas estavam acompanhados de soluções que emanavam sorrisos e abraços que eu nunca recebi. Eu estava com cinquenta anos e me cansei até das minhas lamúrias. Parece que eu não me suportava mais.

No Natal uma solidão danada me abatia e no meu aniversário era um dia qualquer, como todos os outros. Percebi que joguei tempo fora. Mas, Deus tinha um plano para mim e eu não sabia. Fui à feira, precisava de umas frutas e conheci uma mulher graciosa. Ela me chamou a atenção de uma forma encantadora. Desejei conversar com ela, mas fiquei com medo que fosse casada. Na outra semana voltei à barraca dela e puxei papo. Fiquei contente, cheio de vida. Nasceu em mim uma esperança de me entregar a um amor de verdade. Aos poucos, fomos nos conhecendo e ela era separada. A Selma encheu minha vida com um amor tranquilo, cheio de paz e cumplicidade. Eu nem sabia que era possível. Ela me completou, mas ainda faltava um filho. Nós conversamos e decidimos adotar uma criança que nos foi entregue pouco tempo depois. A vida ganhou graça e contentamento. Eu não sei como agradecer. Vivi com eles mais vinte anos e não me arrependo de nada. Ter família é tudo. Família preenche, conforta, ampara e mostra o verdadeiro sentido da vida. É quando você se esforça para ser uma pessoa melhor simplesmente porque quer que os outros sejam felizes ao seu lado. Eu nem sei se merecia ser tão feliz. Graças a Deus.
JOAQUIM
05/08/18

----------------------Paula Alves------------------------

“NEM SEMPRE O QUE A GENTE SONHA PARA OS FILHOS É O QUE DEUS TEM PREPARADO PARA ELES”

Eu queria ver minha filha formada. Trabalhei tanto em casa de família e sempre soube que sem estudo é mais difícil. Eu sonhei para ela uma vida onde as mulheres são respeitadas pelo valor da intelectualidade. Eu desejei que ela não dependesse de homens e nunca fosse mal tratada por eles. Como eu desejei que ela fosse feliz. Minha menina cresceu sem pai porque arranjei um porqueira de pai para a menina. Ele nunca quis saber de nós. Tudo bem, eu sempre fui trabalhadora e soube que conseguiria criá-la, mas não pensei que meus planos dariam errado. Nunca quis saber de marido porque ficava com medo que algum homem pudesse fazer mal a ela. Melissa cresceu com tudo o que pude dar. Dentro de minhas posses, ela tinha o melhor. Cresceu e estudou. Eu tinha um bom emprego. Achei que ela também sonhava comigo, mas não. Mocinha ela me enganava.

Eu achava que a menina ia para o curso e ela saía escondido para namorar. Me enganou e nunca quis saber de estudo, de trabalho. Onde foi que eu errei? Acho que bajulei demais, eu mimei a menina. FILHOS PRECISAM DE DISCIPLINA. FILHOS PRECISAM DE RESPONSABILIDADES. Sabe as pequenas responsabilidades desde a primeira infância?

Melissa nunca precisou fazer nada. Criei como princesa e eu estraguei a menina que já tinha más inclinações. Como eu poderia saber? Acho que eu estava tão aflita pensando no futuro dela. Eu desejei tanto que ela não passasse pelo mesmo que eu. Eu não corrigi, eu não ensinei, eu não a conheci. Eu imaginei uma pessoa que ela não era. Eu sou culpada né? Me questiono se tudo o que ela passou não foi culpa minha. Ela engravidou como eu. Foi abandonada como eu e desprezada como eu. Ela perdeu todos os sonhos e eu achei que minha filha nunca mais fosse sorrir. Eu chorei tanto porque achei que tudo estava acabado para ela, mas Deus me mostrou o caminho. Enquanto há vida, há esperança. Conversei com ela e ela me falou que amava o desmotivado do rapaz. Eu não aceitava que a vida dela fosse só aquilo, mas compreendi quando a criança nasceu. Davi trouxe luz para nós duas. O jeito foi trabalhar como eu, mas ela não se revoltou. Ela dizia que filho precisa de pai. Falou que ela sentiu falta de um pai e que o menino merecia ter um pai. Ela levou o menino para o rapaz conhecer e o Davi iluminou a vida dele também. Eles voltaram e disseram que iriam continuar. Eu sempre achei que não daria certo e deu. Vida cheia de renúncia, cheia de sacrifício daqueles três. Um só pensava no outro. Eu tive que admitir que bonito é ter pai em casa. Criança cresce mais feliz quando tem pai e mãe. Eu pensei muito errado e digo que na minha cabeça ainda está tudo muito mexido. Eu confundo.
ACHEI QUE ERA MÃE PARA ENSINAR E APRENDI COM MINHA FILHA. Nem sempre o que a gente sonha para os filhos é o que Deus tem preparado para eles.
TÂNIA
05/08/18

--------------------------Paula Alves--------------------

“DEUS COLOCOU UMA PROVA JUSTA PARA MIM, MUITO MAIS BRANDA DO QUE DE FATO EU MERECIA”

Ela fazia tudo para me provocar. Eu trabalhei tanto naquela loja e na casa dela então... Chegava bem cedo e quando estava para terminar o serviço chegava a madame com os pés sujos. Falava que queria bem limpo, se eu não tinha vergonha de um serviço mal feito. Gritava para todo mundo ouvir, falava que eu era gentinha, pobre metida a besta que não sabia limpar chão. Como eu não pude perceber que aquilo era vingancinha?

É que a gente esquece tudo e eu não podia imaginar que a gente vive tanto. A gente vive aqui e vive lá com corpos diferentes. Eu não sabia, achava que tudo isso era esquisitice de algumas pessoas. O fato é que minha patroa não sabia o que fazer para me humilhar. Eu morria de raiva, chorava escondido, queria pedir as contas, mas sempre que achava outro emprego alguma coisa acontecia para eu ficar com ela. Eu até criticava Deus porque achava injusto. Trabalhei com a peste trinta anos e um dia ela passou mal perto de mim. Já estava velha e doente, mas ainda gritava. Fiquei com ela até o resgate chegar e ela falou que nunca me suportou, falou que, se pudesse e ainda fosse época, tinha me colocado na forca. Eu fiquei horrorizada, achei que ela estava maluca. Depois ela falou que precisava passar por isso de receber socorro de mim para perceber que eu não era tão má. Ela me agradeceu e depois disso não voltou mais, morreu no hospital.

Eu senti alívio com a morte dela, parecia que eu estava me libertando de um calvário. Quando cheguei aqui fui recebida por ela que estava um pouco diferente e mais mansa, serena. Estranhei, quis saber o que ela queria comigo e ela falou que queria pedir perdão. Eu não tenho como perdoar nada porque tive que entender que nos perseguimos por muitas vidas. Eu também queria que ela sofresse e fiz mal a ela. Em determinada existência mandei mesmo que a colocassem na forca e ela desencarnou. Era um revide. Eu aguentei porque tive que aguentar. Deus colocou uma prova justa para mim, muito mais branda do que de fato eu merecia. Hoje eu entendo.
EULÁLIA
05/08/18

--------------------------------Paula Alves---------------------------------

“QUE TUDO TEM UM PROPÓSITO,
MAS PARA O BEM E NÃO PARA O MAL”

Foi uma penitência para mim conviver com aquela mulher. Eu era rapazote e ela já estava casada de nova. Linda! Não me esqueço de quando a mãe disse que era a irmã caçula que estava em lua de mel. Eu a amei quando a vi. Fiquei enfurecido com aquele marido que estava sempre por perto.

Ela percebeu meus olhares e a forma como eu a beijava no rosto com tanto ardor. Ela ruborizava e eu esperava um momento de vê-la sozinha para me aproximar. Era minha tia, mas não parecia. Dentro de mim havia um sentimento que eu não podia explicar. O tempo passou e ela foi embora. Eu não me esqueci dela e tentei visitá-la, arrumei um pretexto. Sei que não pensava que a vida seria tão ingrata comigo. Foi como se eu estivesse indo contra a trajetória normal. Eu fui nadar num rio que tinha perto da casa dela. Estava tão decidido. Iria me declarar quando retornasse. Eu iria beijá-la. Estava certo de que ela também gostava de mim. Fui nadar para tomar coragem e não percebi que a correnteza era muito violenta. Eu não aguentei dar as braçadas e tomei um rebote. Não consegui subir. Era como se uma força imperiosa mostrasse que não iria conseguir e pronto. Notei que fiquei atordoado, estranho. Mesmo assim, voltei para a casa dela e vi que ela estava chorando. Falou que tinha que avisar meus pais. O marido a consolava. Eu falava, mas ninguém me ouvia e eu entendi que algo estava errado quando consegui entrar no quarto dela. Eu achei bom porque consegui ver cenas intimas. É estranho quando nós somos levianos. Nós só nos interessamos pelo objeto de afeição.

Eu não pensei na minha situação, nos meus pais, em tudo o que estaria perdendo com a morte. Eu só pensei em me aproveitar. Fiquei muito tempo atrapalhando o casal. Minha tia sofreu tanto, quase se separou. Ela adoeceu e eu percebi que eles se amavam muito. Eu fiquei furioso e achei um absurdo quando o padre foi visitá-los. Fiquei debochando do sermão, mas senti algo diferente. Uma brisa suave, um conforto difícil de explicar. Só notei uma presença e vi minha avó, mãe dela. Ela se sentou ao meu lado e falou bastante comigo. Acho que, se fosse no tempo de carne, tinha levado horas. Ela me norteou, me avisou que eu colheria pelos erros que estava semeando. Disse que as pessoas devem ser úteis. Que tudo tem um propósito, mas para o bem e não para o mal. O correto é seguir no plano para o adiantamento e não ficar de bobagem, brincadeirinha. Se aproveitando de ninguém.

Eu desencarnei porque estava nos planos. Minha família tinha que sentir o golpe, tinham que superar juntos e eles se uniram, se amaram. Mas eu também devia aproveitar para eliminar débitos do passado e estava adquirindo outros. Eu ouvi, vi algumas cenas e decidi me afastar. Eu não sei explicar, mas eu sei que a amo. Não fiz por mal, foi por inveja mesmo. Eu queria estar com ela, queria tocá-la, ser ele. Já me informaram que em outra situação eu não respeitei o amor que ela sentiu por mim. Eu a abandonei e ela sofreu muito. Um romance que tinha tudo para dar certo, com plano de família e eu renunciei. NÃO ENTENDO COMO A GENTE PODE FAZER TANTA BOBAGEM. Desejo que ela seja feliz e que me perdoe.
VALMIR
05/08/18

---------------------------------------------------Paula Alves---------------------------------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“AS MÃES NUNCA DEVIAM COLOCAR OS FILHOS CONTRA OS PAIS”

Eu era apaixonado pela mãe do moleque. Não pensei que, em determinado momento de nossas vidas, tivesse que pensar em seguir sozinho. Eu vivia minha vida de sempre, trabalhava e vivia para eles. O Marcos tinha 7 anos quando, de repente, Irene me disse que não dava mais para continuar. Eu ouvi aquilo e pensei que estivesse enlouquecendo porque eu não percebi nada diferente. Achei que ela era minha esposa para sempre. Eu não havia percebido mudanças. Eu me enganei. Eu me iludi achando que era amor o que ela sentia por mim.

Naquele dia, ela jogou em mim fatos antigos e revelou que sentia desprezo pelo jeito simples, sem ambição que a incomodavam, ela queria mais. Já tinha em mente como poderíamos nos separar. Minhas malas já estavam feitas, eu devia partir. Eu chorei desconsolado. Meu garoto me abraçou e chorou comigo, ela gritou irritadiça, falando que eu estava fazendo chantagem, usando o garoto. Eu não compreendia como minha vida estava nas mãos dela. De uma hora para outra eu perdia tudo. Minha casa, minha família, minha estabilidade emocional e mental. Ela não percebeu.

Fui embora. Não quis ir para casa dos meus pais, pois tive vergonha. Eu tinha sido expulso de meu lar. Meses se passaram, eu tentava ver meu filho, tentava reatar com ela, mas ela me impediu e disse que já tinha compromisso com outro homem. Falou que eu não podia atrapalhar mais a vida deles. Resolvi viajar, mudar para outra cidade para esquecer, renovar minha vida. Eu quis ver meu filho, compreendi que ela não queria meu contato, mas o menino era diferente, ele era um pedaço de mim. Ele me desejava como pai. Retornei e fui vê-lo na escola, mas vi um homem importante buscando meu filho no meu lugar. Quando me aproximei ele me repudiou, o menino que tanto amei. Disse que não precisavam de mim e eu me senti humilhado.

Depois disso, fui embora dali e nunca mais voltei. Vivi muito, sempre inclinado a visitá-lo, sempre com imensa vontade de me aproximar e dizer o quanto eu o amava e ainda amo. Eu não queria que me expulsassem de novo. Sempre busquei um motivo para ter vivido longe da minha família. Estranhei de uma hora para outra minha vida se modificar tanto. Jamais desejei outra família e vivi distante do mundo, disposto a sobreviver no mundo louco. Trabalhando, comendo, pagando contas como quase todas as pessoas, mas solitário demais e triste. Desencarnei vítima de uma trombose que foi avançando sem o tratamento necessário, quase um suicídio, eu me abandonei. Fui socorrido e tão bem tratado. Reencontrei antigos afetos que tentaram me animar, mas acho que perdi a jornada, não fiz nada. Eu desanimei e sinto muito por isso. Me informaram que Irene encheu os ouvidos do meu filho. Ele também não foi feliz sem mim. Cresceu achando que foi abandonado pelo pai. Ele acreditou no que a mãe contou. Ele criou um sentimento ruim a meu respeito e isso me dói porque não foi verdade. Ela alimentou revolta e uma vontade grandiosa de me punir por erros do passado. Nós poderíamos ter feito tudo diferente desta vez, nós nos comprometemos e ela evitou, ela me rejeitou. Eu não desejo mal, mas não posso eliminar o elo que nos une.

As mães nunca deviam colocar os filhos contra os pais. Teremos que retornar novamente ligados até que brote um sentimento de amor para nos libertar. Só queria que meu filho soubesse que ele nunca saiu dos meus pensamentos e nem do meu coração.
OSVALDO QUEIRÓS
11/08/18

--------------------Paula Alves------------------
“QUE DEUS ABENÇOE MEU FILHO E TENHA PIEDADE DE MIM PORQUE NÃO SOUBE SER PAI”

Eu era muito jovem e não podia ofertar a ela o que ela necessitava. Eu estava em busca de divertimento, tinha tantos planos para o futuro. Eu queria ser médico e ela estava apaixonada. Por que algumas mulheres insistem em prender o homem pela barriga?

Nós nos conhecemos e começamos a namorar, mas eu nunca escondi os meus anseios. Eu não queria casamento, família. Não naquele momento. Ela tanto fez que conseguiu engravidar e me disse que era tudo o que ela queria. Falou que seria bom para nós, mas eu me desesperei. Eu disse que nunca desejei um filho e ela deveria tirar. Eu assumiria tudo, pagaria o que fosse, mas aquele filho não estava nos meus planos. Ela gritou e disse que nunca faria isso, bateu a porta e foi embora. Eu chorei, meus pais iriam acabar comigo.

Cheguei em casa e expliquei o ocorrido, mamãe brigou e disse que nunca permitiria que eu forçasse Manuela a tirar a criança. Não precisava casar, ela iria ajudar Manuela e eu que era irresponsável poderia viver minha vida. Assim foi feito. Eu nunca me interessei em procurá-la, nem me importei com o filho que nasceu. Meus pais se encantaram, mas eu fui estudar, viajei para longe e o tempo passou. Logo, Manuela se interessou por um bom rapaz e se casou. Meu filho Elton frequentou minha casa e foi bem tratado por toda família. Nós nunca tivemos relacionamento de pai e filho. Eu não o conheci e isso fez com que minha mãe me tratasse com repulsa por toda vida. Ela não compreendia e nem eu. Fiquei pensando por que eu não me envolvi com eles. Por que eu coloquei minha carreira em primeiro lugar?

Anos se passaram e eu adquiri uma doença que me fez fazer uma cirurgia. Eu fiquei estéril e nunca mais pude pensar em ser pai. Eu pensei em castigo, só podia ser punição. Muito tempo se passou, eu tive uma vida boa como médico. Casei e nunca me importei de não ter tido filhos porque eu nem mesmo gostava de crianças, mas minha mentalidade mudou no meu enterro.

Quando o corpo adoeceu, já velho, desgastado, morreu. Todos estavam lá, amigos, minha esposa amada, Manuela idosa e meu filho, acompanhado dos seus filhos. Eu os vi e me aproximei deles podendo ouvir seus pensamentos. Eu nunca imaginei que ele me amasse. Eu nunca imaginei que orava por mim. Nunca pensei que ele sentiu minha ausência e tinha em seu peito um sentimento que jorrava do peito indo em minha direção. Eu nunca havia sentido isso, nunca. Eu desejei aquele abraço.

Eu desejei ter sentido mais vezes aquela emanação de carinho. Eu me arrependo doutor porque sempre estive errado. Eu tive família. Deus me deu a chance de ter um caminho florido e eu quis do meu jeito. Não posso reclamar porque ainda assim, tive muito, mas nunca aquele afeto. Se eu tivesse me aproximado do Elton como minha mãe sempre pediu, teria mudado o curso das coisas. Eu achei que pai nem era tão importante, mas ele orou por mim de forma sentida e desejou ser amado. Desejou ter um pai que nunca teve e me deu amor no momento em que eu mais precisei. Que Deus abençoe meu filho e tenha piedade de mim porque não soube ser pai.
ERIK
11/08/18

------------------------Paula Alves-------------------
“ELES NÃO ENTENDEM QUE PAI SÓ QUER VER O BEM, NUNCA O MAL”

Teve um momento em que eu achei que iria abandonar tudo e correr dali. Ser homem exige força e coragem. Ter postura firme todos os dias porque você sabe que as pessoas dependem de você. Minha esposa dependia de mim emocionalmente, meus outros filhos também. Eu tinha que me reerguer, ir trabalhar todos os dias e não transparecer no ambiente de trabalho todos os problemas do lar. Perceber que está sendo apontado na rua e erguer a cabeça porque você se lembra da pessoa que você é, dos seus propósitos e do seu caráter, mas não é fácil. Só quem tem um filho drogado dentro de casa entende. Parece que é erro dos pais. Tem gente que aponta. Acha que toda a família é marginal. Eu sempre fui honesto. Pobre decente e trabalhador.

Tive pouco estudo e sonhei que meus filhos teriam mais oportunidades. Achei que pudessem estudar e ter uma vida um pouco melhor. Foram cinco filhos com a mulher mais delicada que eu conheci. Lindalva me amou e eu sou muito grato. Ela me conhecia só de olhar. Era cúmplice e leal. De todos os meus filhos só o Ronaldo me deu dor de cabeça, mas foi tanto que valeu por todos.

Desde novo, nunca quis nada. Coloquei para trabalhar e ele tinha vergonha de levantar parede, falava que dava calos nas mãos, precisava ter estudo, o menino só me enrolava. Fugia do serviço e começou a ir para bailes e procurar gente torta. Comecei a ficar desesperado quando soube que ele estava usando drogas. Ele negou, mas foi ficando estranho, avoado e depois nervoso. Percebi que as coisas estavam sumindo de casa. A minha mulher tentava contornar a situação e apaziguar para não ter brigas.

Primeiro eu reagi com ameaça, falei que expulsava, arrumei serviço, vi que o dinheiro estava sumindo da carteira, briguei com minha mulher. Minha casa começou a virar um inferno. Muita provação filho viciado. Ele se entregou e eu como pai caí num marasmo. Ninguém sabe ajudar. É só Deus mesmo. A gente tem que ajoelhar, pedir discernimento e ter muita fé. Deus cura e só ele. A vida não foi fácil para a gente porque quando eu achei que pudesse melhorar o menino apareceu morto. A pior dor do mundo, você perceber que acabou para um filho. A gente sente revolta, tem frustração, desespero. Vontade de ter feito mudança, enquanto ainda dava tempo, mas não dá para voltar para o passado, enquanto ainda era criança e ficava de mão dada com você. Eu quis matar quem tinha matado meu filho, eu quis enlouquecer. Não sabia como consolar minha esposa. Quando acabou, eu percebi que ser pai é calvário porque a gente tem que aguentar as escolhas dos filhos, independente do que a gente acha que é bom ou ruim. Continua amando e implora para seguir o bom caminho.

Eles não entendem que pai só quer ver o bem, nunca o mal. Eu passei me arrastando até vir para cá. Nunca me esqueci dele. Os outros achavam que ele era o preferido, mas ele era o que mais precisava de mim e eu me senti fracassado. Me desculpem por não ter demonstrado o quanto eu queria. O pai ama todos e estou empenhado em melhorar para procurar o Ronaldo.

Sei que em breve estarei bem e eu vou trazer o Ronaldo comigo. Deus que é Pai vai me dar esta força. Eu creio.
JOSIVAL
11/08/18

-----------------Paula Alves------------------

“FUI UM PAI FELIZ QUE RECEBEU AMOR DE ESPOSA E FILHA DURANTE TODOS OS DIAS”

Eu falei para ela que não podia ser pai. Eu nunca escondi. Eu quis uma família completa, mas nem sabia se teria paciência com criança. Deus sabe de todas as coisas e dá para cada um a vida que deve ter para evoluir.

Eu vi muitos amigos reclamando. Dizendo que tudo muda quando os filhos chegam. Falavam de noites mal dormidas e falta de amor no seio doméstico. As mulheres mudam muito quando se tornam mães. Eu pensei que comigo isso jamais aconteceria porque eu não podia ter filhos. Ela me amava tanto que não se importou. Nós nos casamos e vivemos uma vida maravilhosa nos quatro primeiros anos, mas depois ela também mudou e eu pensei que fosse hormonal porque não podia ser gravidez. Ela queria filhos e começou a me culpar por não tê-los. Já pensou ter de abdicar de nossas viagens e encontros com os amigos por causa de criança pequena?

Criança doente que chora de madrugada, chora para tomar vacina, chora de manha porque quer colo... Eu não via vantagem nenhuma em ter filhos. Eu não era religioso e achava uma bobagem ter alguém que pode ser pior do que eu. Pensei que Deus tinha facilitado as minhas escolhas porque eu estava isento de ter filhos terríveis que me colocariam no asilo ou iriam me desprezar. Eu só via vantagens em não tê-los, mas a Verônica não.

Percebi que a cabeça de homem é quilômetros de distância oposta à da mulher. Nós somos mais práticos. Ela não podia ver bebês e grávidas. Se comovia com filmes e  me chantageava por causa disso. Eu pensei que ela não devia agir assim porque eu fui sincero com ela, mas eu a amava e fiquei apiedado. Meses depois, percebi que ela estava com medo, acuada e parecia estar engordando. Pensei que estivesse sofrendo de distúrbio emocional e me surpreendi com uma notícia. Ela estava grávida e me pedia para perdoá-la e assumir o filho dela. Como assim?

Eu fui traído duplamente porque eu nem queria ser pai de um filho meu, quem dirá de uma traição. Ela me traiu e eu ainda tinha que escolher ter o filho ao lado dela? Mas, surpreendentemente foi isso o que fiz. Eu engoli meu orgulho e todos os meus medos para assumir a família que tinha ao meu alcance. Observei meus amigos com filhos e notei o quanto estavam felizes com suas olheiras. Eles recebiam tanto dos seus pequenos e suas esposas eram gratas e meigas. Todos com dificuldades variadas, mas sorrindo, se amando. Eu não iria abrir mão disso para ser sozinho. Eu não teria outra chance e não importa o que disseram naquela ocasião e nem o que dirão agora. Eu a abracei e me envolvi naquele presente que Deus enviava para nós.

Nossa filha nasceu no dia 15/01/74. Eu não poderia esquecer o dia mais importante da minha vida. Silvia veio ao mundo para iluminar meus dias e eu sou muito grato por tudo o que vivi com ela. Sei que Deus nos uniu mais uma vez por caminhos tortuosos. Fui um pai feliz que recebeu amor de esposa e filha durante todos os dias. Foi incrível e eu só tenho que dizer que ser pai vale a pena por tudo o que sentimos, por tudo o que temos que dizer, tudo o que temos que motivar. Ser amigo, bom ouvinte, incentivador, irmão e depois se tornar um filho. É maravilhoso. Ela cuidou de mim quando tive Parkinson e nunca me deixou faltar nada.

Nem pão, nem prece. Me ensinou a respeitar o Evangelho e me apresentou um Jesus majestoso. Ó minha querida. Que Jesus lhe cubra de felicidade. Eu sempre a amei e serei grato a Deus por ter te aproximado de mim. Sinto por não ter expressado isso nos últimos dias, mas você sabe que é a luz do papai. Abençoada seja.
IOLANDO
11/08/18

-----------------------------Paula Alves-----------------------


Foto cedida por Magno Herrera fotografias


“SE A GENTE FALASSE ENQUANTO ESTÁ NA CARNE”

Eu estava bastante atormentado com esta necessidade de mandar notícias. A gente fica confuso aqui e demora para entender o que aconteceu. Acho mesmo que ninguém vai acreditar que eu não morri. Tinha gente doida para me ver morto, mas tinha quem gostava de mim e eu sinto que ainda me amam.

A verdade é que a gente perde muito tempo na vida, nem pensa que passa tão rápido e que nem vai dar tempo de fazer tudo o que queria. Eu morri e para mim foi, de repente, um acidente de carro que destruiu meus planos. Eu tinha vontade de falar muita coisa e surpreender as pessoas com minhas atitudes. Eu queria provar para eles que eu podia mudar. Parece até que Deus pensou que, se eu não me mexia, era melhor acabar com tudo mesmo. Eu tive tempo sim, vivi até os sessenta e oito anos, como não tive tempo?

Mas, fiquei acomodado e não falei nada. Eu queria pedir desculpas para minha filha Laura, eu queria falar que tudo o que fiz foi para o bem dela. Queria dizer que foi melhor assim, mas parece que não porque ela não é feliz. Filha ainda dá tempo. Você pode falar com ele e dizer o que sente. Ele também te ama, agora eu sei. É muito melhor ter uma vida com tudo contado e ser feliz ao lado de quem se ama, você estava certa, eu não.

Sabe doutor, eu estava agoniado para chegar a minha vez e me falaram que eu tinha que esperar até que estivesse com a cabeça no lugar porque a médium sente tudo, mas e este pessoal que quer cortar fila?
Ninguém vê isso não?
Tem gente que vai direto nela e a coitada fica passando mal. A moça que cuida de mim falou que tudo está nos planos e que a médium só libera as cartas que o senhor passa para ela, mas é tanta gente querendo mandar notícias. Eu nem sei como pode tanta gente querendo se comunicar... Fiquei pensando que isso tudo é culpa nossa, só nossa porque se a gente falasse enquanto está na carne, não precisava ficar agoniado para falar agora né?

Eu pensei mesmo que é bom a gente mandar recado, mas melhor ainda é falar pessoalmente, poder abraçar e mostrar no semblante o que está sentindo com a maior sinceridade. Eu me arrependo de não ter falado muito. Tinha muita coisa que eu queria que eles soubessem. Mandar um recado para seu Agenor do bar. A gente só pensa em ganhar dinheiro na vida e não pensa que desse jeito a gente pode prejudicar as outras pessoas. Fique mais atento quanto a isso. Eu também queria que minha esposa soubesse que em toda minha vida só existiu ela, não precisa ficar preocupada com nada porque ela sempre estará no meu coração.

Todos nós cometemos erros e quem ama sempre vai perdoar. Nem se eu quisesse conseguiria apagar o meu sentimento por ela. Eu entendo o que aconteceu no momento de carência. Eu já tinha vindo para cá e ela tem o direito de reconstruir sua vida afetiva. É assim doutor tanta coisa para dizer que a gente fica até bobo. Eu só agradeço. Valeu a espera porque eu estou mesmo mais aliviado. Nem sei se eles vão receber a carta. Nem sei se vão me reconhecer. Mas, valeu. Obrigado vocês por tudo.
AMAURI
19/08/18

---------------Paula Alves____________

“O DESTINO SE CONSTRÓI”

Vida sofrida de sol a sol. Na lavoura, com o gado, o suor escorrendo no rosto e a enxada na mão, a foice, eu me lembro de muita coisa desta existência. Me lembro do tronco e dela. Eu nasci sabendo que a vida toda seria difícil. Fiquei bem assustado quando me falaram que seria bom passar como escravo. Eu sempre tive pelo nas ventas e sabia que sofreria um bocado. Foi mesmo e quando olhei nos olhos dela parecia que o mundo tinha mudado de cor. Não era só preto e branco, tinha todas as cores. Chegava a ser imoral, naquela época, um negro pensar em se aproximar de mulher branca. Eu olhava com medo de olhar, mas ela percebeu. Sabe como é: ninguém separa quem se ama. A gente se atrai.

Quando vi fazia tudo pensando nela. Nós nunca estivemos juntos. Eu sempre me controlei, eu a respeitei e tratei de viver a vida que tinha para viver. Quantas vezes não deu vontade de sumir dali, quantas vezes eu não quis matar com as próprias mãos com justificativas convincentes, mas não foi para isso que eu nasci negro. A gente sente a discriminação, a falta de oportunidade e tem que viver assim mesmo. Foi muita injustiça. Foi difícil chegar até aqui. Passaram centenas de anos. Muitas jornadas, como negro e como branco.  Eu e ela nos esbarrando sem oportunidade de viver um amor sincero e nobre. Eu aceitei tudo porque sabia que, um dia, tudo seria diferente. A verdade é que a gente tem que ter paciência. Agora as coisas estão mudadas e todo mundo pode ter oportunidade de elevação. Acho que as pessoas ainda não perceberam que hoje em dia podem mudar o mundo por suas palavras, por seus gestos nobres, por seu idealismo. O destino se constrói.

A ESPIRITUALIDADE DÁ OPORTUNIDADE PARA QUEM MOSTRA SERVIÇO. Eu percebi que os planos se renovam e isso é fantástico. Aquele que preenche lacunas, aquele que segue com fervor fazendo a coisa certa, amparando, iluminando, este recebe o auxílio de todos os lados e é como se recebesse um bônus para produzir ainda mais. Eu já estou pronto para voltar. Recebi a notificação e sei que ela estará ao meu lado como cônjuge, estou muito feliz e agradecido. Algum tempo será necessário para que eu me reestruture novamente, até que chegue a fase adulta, mas desta vez, recebo a chance de ingressar na política. É uma missão delicadíssima para mim, mas tenho fé.

As pessoas devem pensar, analisar e não perder a esperança porque como eu existem muitos interessados em fazer a diferença, em fazer o bem. Pensar que iniciativas sérias de tempos em tempos aparecem. A união faz a força, acima de tudo, a paz e a confiança na espiritualidade.
JOLEU
19/08/18

----------------------------Paula Alves---------------------------

“TODOS NÓS SOMOS ÚNICOS E INDISPENSÁVEIS PARA DEUS”

Você acha que já melhorei? Eu não sei. Acho que ainda não estou bem para pensar em retornar. Me questionaram se me sinto melhor e eu não sei analisar se tudo isso faz sentido. Quando estava encarnada eu pensava tanto, eu observava tanto e isso tudo me cansava, a vida toda e as pessoas, a forma de viver achando que tinha que ter rendimento, tinha que ser alguém. Mas como assim, não bastava ser eu?
Por que eu sempre tinha que estar competindo e tinha que ter títulos?
Tive alguns problemas de saúde e percebi que minha mente não permitia nem que eu dormisse. Foi terrível! Então, conheci uma mulher que me falou que eu precisava de remédios para me acalmar. Eu fui ao médico que me encaminhou ao psiquiatra e comecei a tomar medicação para me acalmar, para aquietar meus pensamentos porque só assim eu poderia dormir. Eu me senti bem na primeira semana, mas depois precisei de doses maiores e maiores. Foi chegando num ponto em que eu estava praticamente dopada. Mas, assim minha mente me dava um pouco de sossego. As pessoas começaram a perceber a mudança e a minha mãe começou a questionar se isso estava correto, mas tudo era motivo para eu me descontrolar e chorar, eu me deprimia facilmente. Sempre foi assim.

Uma vontade de dormir o tempo todo e não fazer nada. Uma vontade de não ver ninguém e eu achava que com minha morte isso iria acabar, mas ainda assim ficou pior. Como pode?
Eu cheguei aqui e tenho os mesmos sintomas? Me informaram que esta depressão esta comigo há muitas vidas. Como assim?
Aí o senhor fala que é estado de espírito? Sério? Então, estou sem saída porque não tem nada que me faz sentir melhor. Eu compreendi que o tratamento é para isso e eu não quero retornar novamente com depressão. Viver por viver, não fazer nada de útil, só me afundar em medicamentos que me permitem bloquear meus pensamentos. Eu quero ser livre para viver novas experiências, eu quero amar, fazer coisas legais. Tem muita gente que é como eu e não percebe que é imprescindível um bom relacionamento consigo mesmo porque você estará sempre com a sua consciência, pela eternidade, então, é melhor cuidar bem dela.

Alimentar sua mente com coisas edificantes, com boas leituras, com bons pensamentos, trabalhar de forma a sentir bem estar, viver um grande amor que te inspire. Olhar para paisagens que te alivie do mundo tão estressante de hoje em dia. Mas, nós damos valor para tudo o que não tem significado nenhum. Será que eu vou melhorar? Eu ainda sinto falta dos meus medicamentos. Ainda me sinto impotente e fracassada. Mas, estou tentando me lembrar do que o senhor disse no primeiro dia: TODOS NÓS SOMOS ÚNICOS E INDISPENSÁVEIS PARA DEUS.
Obrigada.
ESTER
19/08/18


-------------------------------Paula Alves----------------------

“A GENTE QUER SER CEGO NESTAS HORAS”

É muita gente que nem sabe onde está. Pensam que estão vivos, convivendo com os vivos, sugando sem perceber. Eles criam um mundo no fundo da mente. Um mundo paralelo onde nada mudou. Eu vivi assim por cinquenta anos. Estranho porque quando eu acordei a fábrica nem existia mais. Eu ia trabalhar todo dia. Eu chegava em casa e via minha esposa fazendo o jantar sempre do mesmo jeitinho. Era a imagem dela que eu também criava.

E quando acordei daquele torpor, percebi que os tempos mudaram, tinha muitas coisas estranhas, gente estranha na minha casa que já tinha sido decorada e nem tinha sinal da minha esposa. Por que tinha que ser assim? É verdade que eu não falava muito com ela. Eu era metódico, fazia sempre tudo igual, preciso e rotineiro. Era como uma máquina, eu me acostumei.

Eu despertei e fiquei desesperado, nem sabia o que tinha acontecido na fábrica. Daí um homem se aproximou de mim e tentou conversar, mas eu não queria ouvir. A gente quer ser cego nestas horas. Acho que ele sempre esteve ao meu lado, ele falou que é, por isso, que ainda está aqui comigo. Falou, tentou me mostrar um filme e eu estava com medo de ver. Aí ele falou que era melhor adormecer e quando acordei estava aqui. É difícil. Acho que no fundo nós somos todos muito ingratos porque quem está aqui não quer voltar, quem está lá não quer voltar.
Todo mundo insatisfeito? Ninguém aceita nada.
Sei que o senhor já explicou que isso acontece aqui que é um lugar de tratamento, mas as pessoas são todas iguais. Ninguém está satisfeito com o que tem. Eu tentei ter uma vida simples e desapegada e o que aconteceu? Até minha esposa começou a zombar de mim. Ela falava que precisava de carro e roupas. Mas o tempo todo?

Eu nem dava conta de pagar tudo o que precisava ter em casa. E na rua então? Se você não tem o que os outros têm, você é mal tratado. As pessoas começam a te excluir. Aí o homem que me ajudou falou que isso não é amigo porque quem ama a gente, ama de qualquer jeito e aceita quem somos. Ele falou que os amigos leais estão sempre perto da gente quando a gente precisa deles. É mesmo? Então, eu não tive nenhum amigo. Isso é muito triste. Eu me acostumei com a vida de trabalho e compra, trabalha e paga e nem vi quando tudo mudou.

Quando ouvi a explosão na fábrica e eu fiquei lá nos escombros. Falta muita coisa para limpar esta mente doutor. Eu não tenho ânimo para viver. Acho que é pecado falar assim, mas estou sendo sincero. ATAÍDE
19/08/18



---------------------------Paula Alves------------------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“JÁ VIU QUANTAS PESSOAS RECLAMAM USANDO UM CORPO SAUDÁVEL?”

Eu não soube o que era andar. Tive problemas na infância e precisei da cadeira de rodas para me locomover. Sempre ouvi risinhos, brincadeiras bobas. Na escola sempre falavam deboches que me faziam chorar, mas as pessoas não tentavam mudar a situação. Acho que eu mereci passar por tudo mesmo. Eu fui crescendo e envelhecendo, descobri que o mundo dos deficientes é muito injusto.

Todo mundo fala que é acessível, mas não é. Existe muita desigualdade. Já pensou procurar emprego naquela época? Nem faz tanto tempo assim e já era uma tortura subir no ônibus. Tentei arrumar emprego e nada. Super difícil alguém olhar para você imaginando que dá conta das funções.  O jeito foi pedir. Isso foi ainda pior.
Acha que é bom pedir?
Que é simples engolir o orgulho e a dignidade?

Eu pedia na vizinhança e ouvi muito insulto. Ia de porta em porta pedindo comida e as pessoas me diziam desaforos. Que eu era jovem e forte. Viam minhas pernas totalmente atrofiadas e falavam que eu tinha todo o resto e não podia reclamar da vida. Já viu quantas pessoas reclamam usando um corpo saudável?

E eu que não conseguia nem me locomover estava reclamando de barriga cheia. Cada uma...
É estranho como as pessoas procuram motivar e dar esperança. Eu tentei com meus parentes e nem meus irmãos quiseram me ajudar. Depois que nossos pais morreram, eles fizeram questão de me tirar da casa onde morávamos. Eu nem acreditei.

Eles alegaram que precisavam de dinheiro e a casa era a única herança que tínhamos. Eu fui para a casa de um amigo e depois fui parar num albergue. Eu me revolto sim doutor. Me revolto com as pessoas. Acho que nenhum de nós é de confiança.

AS PESSOAS SÃO BOAZINHAS ATÉ ONDE LHES CONVÉM.
Acho que só te ajudam porque têm a intenção de cobrar favores. Quem não tem nada a oferecer morrerá sozinho. Eu não tive ninguém que me desse a mão e me encorajasse. Passei no mundo como um pobre coitado que deve se arrepender de alguma coisa que fez, mas eu nunca fiz mal pra ninguém. Já nasci com defeito. Recentemente ouvi aqui que isso está relacionado com outra vida. Uma vida distante onde eu falhei e adquiri esta deficiência para me depurar. Falaram que minha pena deve ter sido abrandada. Como pode ser?

Meu instrutor já me pediu para lembrar, mas eu não quero. Acho desnecessário ficar averiguando o passado. Os planos são estudados e apresentados para nós. De qualquer forma, eu terei de passar pelo que for e não faz diferença sofrer assim com o que se foi. O senhor diz que o conhecimento nos impulsiona e que, se temos informações, progredimos com conhecimento de causa, mas será que eu vou compreender ou apenas sofrerei ainda mais?É melhor deixar no passado.
CLÓVIS
25/08/18

-----------------------------Paula Alves----------------------

“QUEM SE ACOMODA NA PREGUIÇA É PORQUE AINDA NÃO PERCEBEU O SENTIMENTO QUE TEMOS COM O TRABALHO”
                                                         
Eu andava tanto procurando emprego e minhas pernas doíam. Era tanta porta na cara. As pessoas dizendo que eu tinha que ter experiência e eu precisava levar algum dinheiro para casa. Minha mãe doente, meu pai tão cansado e três irmãos mais jovens para alimentar. Família é tudo igual, fica juntinho em dia de festa, mas quando aperta a situação financeira ninguém tem condições de ajudar.

Eu precisava trabalhar e pensei em aceitar o convite de uma amiga para me colocar como acompanhante, mas eu nunca me sujeitaria a isso. Eu não tinha como fazer programa. Esperei e quando estava quase desesperando me lembrei das pregações que ouvi na igreja. Eu me lembrei que devemos ter fé. Todos recebem ajuda no tempo certo. Continuei minha caminhada e estava quase indo para casa quando vi um galpão. Entrei e vi um caminhoneiro. Falei com ele e resolvi deixar um curriculum. Achei estranho porque parecia que eu conhecia aquele homem de algum lugar. Senti simpatia por ele e muita vontade de conversar, saber da vida dele. Mais estranho ainda porque percebi que era recíproco.

Dias depois me chamaram para trabalhar naquele local. Fiquei feliz, pulei, corri na casa e contei para os meus pais que também ficaram mais tranquilos com nossa situação. Existem pessoas que só precisam de uma chance para melhorar de vida. ELAS NÃO BUSCAM FACILIDADES, ELAS QUEREM EMPREGO. Eu ergui minha cabeça e fui trabalhar. Encontrei o homem e me sentia tranquila sabendo que ele estava por perto. Quando ele viajava, eu sentia saudades e percebi que tinha afeto por ele. Não demorou muito, começamos a namorar e me casei com ele. Depois de três anos, perdemos a mamãe, mas Deus foi bondoso comigo e me mandou uma criança linda de nome Raiane.
Eu sempre trabalhei e sei que o trabalho é uma importante condição para progredirmos. Hoje estou aqui, me acostumando com a nova situação. Sinto falta de tudo, da minha casa, da minha família. Deixei muitos que amo e encontrei meus pais, tios que tinham falecido. É boa esta oportunidade de reencontrar aqueles que amamos. Isso nos fortalece. Quem se acomoda na preguiça é porque ainda não percebeu o sentimento que temos com o trabalho. Eu agradeço por tudo e estou ansiosa com as possibilidades de trabalho que posso ter deste lado. Obrigada pela atenção.
DORINHA
25/08/18

---------------------Paula Alves-----------------

“POR UM ACASO, ALGUM DELES FEZ ORAÇÕES PARA MIM?”

Eu vim para cá porque já estava cansado de permanecer naquela casa. Vendo tudo o que faziam, ouvindo os menores pensamentos. Eu pensei tanta coisa e agi de forma inadequada, enquanto estava vivo.

Enquanto poderia mudar, fazê-los mudar e não fiz nada. Aí morri vítima de um enfarte. Passei para o outro lado sem ter pensado muito nisso, foi tão de repente. Me deparei com uma situação onde eu era o fantasma do meu próprio lar.

Vagava pelos cômodos e ouvia tudo o que pensavam de mim. Eu – o pai, sendo apontado por todos.

“Por que ele não guardou dinheiro?
Por que não pagou as dívidas?
Ele sempre foi severo, nós nunca passeamos. Eu acho que foi melhor ele ter morrido mesmo.”

Eu não pensava que pudessem ser tão cruéis. Todos cometem erros. Eu não vivia pensando na morte, por isso, não me preparei mais. Não queria que tivessem que assumir dívidas, não queria que minha mulher tivesse que trabalhar para sustentar a casa. Eu não sabia que podia acontecer. Eu ficava nervoso de ouvir tudo aquilo e acho que as pessoas devem fazer isso o tempo todo, ficar apontado o morto. Pra quê? Por um acaso, algum deles fez orações para mim? Eu ouvi dizer que isso poderia ter me ajudado.

Um belo dia chegou em minha casa uma senhora que via gente morta, aqui vocês falam Espíritos. Ela ficou chocada quando me viu. Eu percebi que ela estava me olhando com pavor e eu devia estar bem feio, mas não era minha vontade ficar daquele jeito. Ela rezava e eu no mesmo canto da sala. Ela falou com minha esposa e pediu para rezar missa. Eles rezaram e eu me senti bem melhor. Parecia que a raiva tinha diminuído. Mas, mesmo assim depois de um tempo ficou tudo igual.

Até que elas foram num centro espírita para entender por que eu não fazia a passagem e eu senti um puxão bem forte que me levou até lá. Eu fiz parte da reunião e pude me expressar. Fiquei bem pertinho de uma moça que falava o que eu queria falar, achei super interessante. Por causa disso, fiquei com muitas dúvidas e curiosidades que ainda estão me explicando aqui. Eu falei coisas que minha esposa sabia que era eu dizendo, ela sentiu. Eles me ofereceram ajuda e disseram que eu seria conduzido para um local onde seria auxiliado e vim para cá. Estou muito melhor. Bem mesmo.

EU AINDA QUERO DESCOBRIR MUITAS COISAS E SOU AGRADECIDO POR TEREM ME TRAZIDO PORQUE AQUI TODOS NÓS SOMOS IGUAIS.
LUIZ ANTONIO
25/08/18


-----------------------Paula Alves-------------------

“EU TIVE DINHEIRO A VIDA TODA, MAS QUANDO DESCOBRI JESUS AS PORTAS SE ABRIRAM”
Eu fui rico sim, mas sempre tive na mente o que poderia fazer com aquelas facilidades materiais, com todo aquele dinheiro. Eu estava atento, sempre vi a fome, a miséria, a sujeira. Eu queria levar comida, mas também queria fazer com que pudessem produzir coisas boas. Queria que as pessoas sentissem vontade de ser independentes. Queria que soubessem que podem ser auto suficientes e que a vida permite que todos possam progredir. Eu tive isso vivo dentro de mim durante todo o tempo em que estive encarnado e tive a sorte de ter muitas pessoas bondosas cruzando o meu caminho. Acredito que, quando estamos preparados, Deus coloca cada coisa em seu lugar e temos alinhamentos.

É como se um estendesse a mão para o outro no dia oportuno. Encontrei Olívia e me apaixonei assim que a vi. Ela foi base fundamental para o meu trabalho. Mulher fervorosa que me apresentou um Jesus iluminado. Eu nunca pensei que com a fé fosse mais fácil.

Eu tive dinheiro a vida toda, mas quando descobri Jesus as portas se abriram. Nós levamos a palavra, Olívia falava com amor e tocava as pessoas com as obras do Mestre. Eu arregacei as mangas, não precisava trabalhar para mim, mas fazia isso por outras pessoas. Eu buscava oportunidade de emprego e consegui muitas parcerias com pessoas maravilhosas. Nós pensamos que o mundo está perdido, que o mal se instalou de vez, mas não é verdade. Existem muitos promovendo o bem. MUITOS DESEJOSOS DE VER A PAZ E O TRIUNFO DO SENHOR NESTE PLANETA. Nós trabalhamos tanto e conseguimos ajudar inúmeras famílias. Houve percalços, é verdade. Muitos desacreditavam de nosso empenho e tentavam ser empecilhos para nossas boas ações, mas nós tínhamos no Evangelho nossa alavanca.

Quanto mais equipes do mal tentavam nos distrair e fazer-nos vacilar, mais observávamos aqueles que estavam carentes material e moralmente. Isso nos movia. Eu só tenho a agradecer. Sei que fui bem sucedido materialmente e pude ajudar desta forma, mas todos podem ajudar.

Quem acha que não tem nada, se engana. Nós temos uma palavra amiga para oferecer, incentivo, atenção, afeto. Somos todos irmãos. Cada um na sua trajetória e todos devem se amparar para crescer mutuamente. Deus os proteja.
ESTEVÃO
25/08/18

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