Cartas de Fevereiro (5)

Foto cedida por Magno Herrera - Fotografias

Durante a elaboração do livro Sob a Luz recebemos alguns amigos espirituais interessados em “se fazer ouvir”. 

Aqui estão eles:

Humberto

Alegremo-nos por mais esta oportunidade de redenção que facilita o nosso convívio.Sejamos astutos em medir nossos esforços na esperança de sermos melhores a cada dia, pois, em cada novo dia, há uma nova chance de ascensão.

Eu agradeço a Deus e aos trabalhadores da seara do mestre pela expectativa de obter o júbilo do tão sonhado retorno à crosta num novo corpo físico. 

Está se aproximando cada vez mais o momento em que deverei partir novamente para mais uma jornada na carne.Estou entusiasmado e assustado, porém sempre almejando a vitória e orando para acertar e retornar com o alívio do dever cumprido.

São inúmeras as justificativas para o novo retorno. Desejo de reajuste, de quitar débitos e reencontrar afetos, de perdoar desafetos, de provar para mim mesmo o quanto melhorei, mas também o tão abençoado esquecimento que nos possibilita o sono dos justos.

Divina memória que armazena cada vão momento. Sempre chega o tempo do retorno das lembranças.Perguntas que não querem calar, despertando respostas tão claras quanto um dia de sol.E elas pulsam silenciosas, alertando que nada fica impune e, para todos, chega o momento supremo de pagar as dívidas até o último centavo.

 E lá vamos nós tentar mais uma vez...                                                                                       11/03/2012

Joaquim e Deyse

Exija de si mesma atenção.Não desvie do otimismo, cabeça erguida.Direcione seus passos para o que for positivo. Não admita menos do que o melhor para todos os que estiverem ao seu redor, nós merecemos tudo o que é bom.

Deus prepara para nós um mundo de coisas boas, porém, muitos desviam para o que é ilusório. Acreditam nos falsos profetas e nas falsas promessas de um mundo fácil, sem esforço algum. 

Não é bem assim que funciona! 

Tenho visto muitas casas de areia desmoronar frente à invasão da primeira onda.Não conseguem resistir a nada porque são casas frágeis, sem estrutura.

Quando o alicerce é Jesus a casa é fortaleza inabalável.Não pode ser lançada por terra, ela não treme, não vacila.Seus habitantes, apesar de todas as adversidades se fortalecem na prece e erguem-se a cada dia no júbilo de mais uma tentativa. Tentam, tentam novamente e contemplam no céu o brilho no horizonte que é a esperança, pois nada está perdido quando encontramos no Senhor nosso incentivo.

Sejamos fortes, pois a matéria na matéria ficará e o que for de Deus será sempre celestial.

Digo que para tudo há solução, então não se desespere, respire, crie novas projeções mentais e passe por esta fase tranquilamente já que nunca estamos sós.

                                     05/05/2012

Isabel

Estou aqui em agradecimento às decisões tomadas em prol do meu filho. Venho de uma família muito rígida que me impedia de unir com um modesto trabalhador da lavoura. Homem de pele negra, atencioso e cordial que transformou minha vida pacata em um romance proibido. 

Naturalmente, meu pai e os quatro irmãos mais velhos detestavam a possibilidade de união com pessoas que não fossem da nossa classe social. Mamãe sempre fora bondosa, mas nunca ousou desobedecer meu pai e, por isso, com ela não poderia contar.

Conheci Marcos num dia de verão saindo da escola.Ele entregava verduras, nunca me esqueci do seu olhar. Conseguíamos nos encontrar com a ajuda de amigas, mas eu engravidei e quando meu pai soube ficou transtornado, nunca o tinha visto daquele jeito. 

Soube que Marcos apanhou muito, eu fiquei trancada por quinze dias até um médico amigo de papai me visitar para deixar-me “pura” novamente. 

Alguma coisa deu errado e eu desencarnei assim como o filho amado que tinha comigo. Confesso que por longo período odiei minha família. Eu não merecia o que fizeram conosco. Nunca mais soube do Marcos, mas o bebê soube que poderemos nos aproximar novamente, desta vez seremos irmãos gêmeos.

Como é bela a providência divina de nos ligar mais uma vez.Eu aguardo ansiosa, quem sabe eu ainda não vejo o Marcos. Rezo sempre por ele e também pela família, aos quais hoje não desejo mal algum. 

Obrigada pela oportunidade.  

                                                   22/07/2012   

                                                          

Dinho

Eu ainda tenho desejos e viciações inerentes ao corpo carnal que perdi tempos atrás. Confesso que para mim tudo isso ainda parece fantasioso e ilusório, muito parecido com as alucinações causadas pelo ópio.

Fui um moleque de rua, abandonado pela mãe num abrigo, fugi devido aos maus tratos que sofria. Na rua, cometi pequenos furtos para ter alimentos até que conheci a droga e comecei a cometer infrações cada vez maiores para manter meu vício. Nunca matei ninguém, nem mesmo cometi alguma maldade para quem quer que fosse, apenas para mim mesmo. 

Envolvi-me com um bando de negociantes de drogas e passei a vendê-las para conseguir consumir mais. Às vezes, pensava que já estava morto mesmo, num mundo separado do mundo das outras pessoas, era uma viagem.

Eu queria uma casa com família, mas nunca tive, então vivia do jeito que dava.Via algumas crianças com as mães na rua passando por mim e sempre sentia inveja. Eu nem conheci minha mãe. Ela me rejeitou assim que me viu, assim como a sociedade, que fingia não me ver.

Eu vim para cá quando um traficante me pegou consumindo muito pó e eu não tinha o dinheiro dele. O cara ficou nervoso e me despachou para cá. Acabou com tudo do jeito dele.

Ninguém chorou. Também, eu nunca tive ninguém mesmo. Depois de tanto tempo sofrendo de um lado para o outro fui resgatado pela equipe do seu Afonso que olhou para mim como um ser humano. Eles não se importaram com meu cheiro e nem com a minha aparência. 

Um rapaz segurou minha mão e eu vi uma luz tão forte que senti meu coração disparar. Eu chorei sentido e o abracei. Ele me acolheu como se eu ainda fosse criança. Aí eu dormi tanto e quando acordei estava limpo, deitado numa cama tão limpinha, ainda parece sonho tudo isso. 

Eu sou muito bem tratado. Eles gostam de mim de graça e eu sinto que devo me comportar direito por causa de tudo isso.

        Agradeço muito à equipe do seu Afonso e a Deus que colocou gente tão boa para colocar juízo na cabeça dos outros como eu.

                                                    29/07/2012

Clarice

Apenas aqueles que amamos têm o poder de nos livrar da obscuridade. Se fosse possível definir toda essa grandeza, enquanto existe tempo para compartilhar todas as alegrias do mundo, seria maravilhoso.

Existem muitos como eu a se arrepender do que não vivenciou. Te digo, é triste perceber que a vida passou sem que se tenha tirado algum proveito disso. Eu apenas passei pela vida.Fui bela, vaidosa, tive recursos que me deram vantagens variadas. Pude gozar com plenitude dos bens materiais sem nunca me preocupar com eles.Era invejada pelo meu corpo escultural, beleza exótica, marido tão belo quanto eu, tão rico quanto eu. 

Sempre fomos lembrados pelas posses e nunca passamos despercebidos, porém não me recordo de conversa sincera a qual me tenha envolvido emocionalmente.

Aos poucos me cansei de tudo aquilo, daquela futilidade toda. Meu marido nunca sentiu por mim mais do que eu sentia por ele. Na real éramos iguais em comportamento, totalmente frívolos, não nos expressávamos, mas tudo passa e eu passei pela vida. Não senti nada.

O dinheiro não compra as emoções, engana-se quem pensa o contrário disso.    

Eu teria dado tudo o que fosse por uma sensação.

Hoje eu assisto a várias palestras e tento me inserir em alguns grupos. Existem pessoas muito bondosas por aqui que sempre me acolhem. Eu me sinto envergonhada, não costumo agradecer e não sei sorrir, mas eles parecem aceitar, demonstram carinho e paciência.

Existem dias que são mais difíceis. 

Eu choro e me sinto bem quando choro. Acho que começo a sentir algumas coisas. Não devíamos anular nossos sentimentos. Eu me esforço em ser sensível e tenho pensado em retornar, se fosse possível ser médium, talvez me ajudasse. Tenho questionado os instrutores e se me for possível eu tentarei.

                                                        05/08/2012