Cartas de Junho (16)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

TIVE O QUE QUIS: PROFISSÃO, CASA, CARRO, BOM SALÁRIO, INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA E INTELECTUAL, MAS FIQUEI SÓ

Eu era jovem e impetuosa. Me achava a senhora da razão e não permitia que ninguém desse a última palavra. Idealista e revolucionária. Achava um absurdo a ideia de uma mulher ser capacho de homem. Detestava pensar que pudessem ser tratadas como inferiores, com autoritarismo e submissão. Eu via a forma como minha mãe era tratada no lar e não queria um marido como o meu pai. Foram inúmeras vezes, onde ele falava e todos abaixavam suas cabeças para não contrariá-lo. Foram tantas vezes, em que a vi chorando quietinha. Muitas ocasiões em que ele a empurrou e “sem querer” ela bateu a cabeça. Foram tantos hematomas inexplicáveis, tantos lamentos, soluços. Eu comecei a pegar bronca do meu pai e tentei enfrentá-lo. Ele envelheceu e eu me tornei mulher. Consegui estudar, confrontando, debatendo, expondo minhas necessidades intelectuais, meus desejos de liberdade e independência financeira. Claramente falei no lar que nunca desejaria ser tratada como minha mãe por homem nenhum e que poderia muito bem viver sozinha. Meu pai se calou e ficou pensativo, minha mãe também se esquivou e achou tudo muito estranho. Levei anos para ouvir dela o quanto ela desejou ter um lar e uma família.

Ela ficou muito triste com minha revolta porque ela se esforçou para ter paciência com ele para que o lar fosse preservado. Ela não queria que crescêssemos sem pai como ela cresceu. Eu respeitei a minha mãe e nunca mais falei o que pensava no lar. Eu me limitei a crer e a desenvolver o que acreditava na sociedade. Eu estava tão enfurecida com os homens que não desejava me aproximar deles. Meu objetivo era ser uma mulher independente e produtiva. Eu não aceitava que as mulheres tivessem que ser esposas e mães. Achava que isso era reduzi-las e transformá-las em servas numa casa. Seria como uma empregada que não é remunerada ou recompensada. Para mim, um absurdo.

Eu vivi assim por tanto tempo e perdi muitas oportunidades. Tive bons amigos, homens que me desejaram como mulher, como esposa. Homens que me respeitaram e, também, aos meus ideais e eu os mandei embora, assim que soube de suas intenções honestas. Eu me recusei a amar e a constituir família por pura afronta, por pura revolta. Lembro-me de alguns que poderiam ter suprido minhas necessidades femininas, poderiam ter me ensinado a amar verdadeiramente. Eles poderiam ter sido pais excelentes e me auxiliado a formar um lar tranquilo e feliz, mas eu rejeitei. Será que foi por medo?

Quando cheguei aqui eu só sentia solidão. A mesma que se apoderou de mim, após os quarenta anos. Eu havia me acostumado a ter um rosto endurecido, sério demais. Havia me acostumado a afastar as pessoas e a ser indelicada com elas. Quando tive a necessidade de conviver em sociedade, eu não era mais sociável. Incrível como conseguimos nos tornar o que desejamos ser. Com o passar do tempo, não dava mais para voltar atrás. Eu fiquei sozinha de verdade. Tive o que quis: profissão, casa, carro, bom salário, independência financeira e intelectual, mas fiquei só. Consegui afugentá-los. O que eu poderia ter alcançado se tivesse me casado? Eu vivi só e fui muito infeliz porque não tinha ninguém para comentar sobre um filme ou para expressar uma alegria. Eu não tinha ninguém para reclamar ou chorar, ninguém. Eu sofri a solidão e ela dói.

Estou me tratando para desbloquear emoções. Eu não sei sorrir ou chorar. É como se nada me comovesse, eu preferia sentir alguma coisa ruim. Preferia ter alguém para compartilhar uma sensação que fosse. Não segui o plano, foi como se tivesse perdido uma vida, uma chance. As pessoas deviam ter lucidez para compreender que os sentimentos nos fazem evoluir muitíssimo. O que importa é a intelectualidade, mas a moralidade sem a grandeza dos sentimentos, nos tornam pedras frias e gélidas. Não temam se envolver. Que todos possam se proporcionar momentos de amor com entes queridos. Formar família é benção, quem se priva disso deve ter alguma patologia.
ESTEFÂNIA
30/06/19

----------------------Paula Alves---------------

“AS MULHERES QUE AMAM SEUS MARIDOS DEVEM TRATÁ-LOS BEM PORQUE A MULHER PODE CONDUZIR O MARIDO PELO BOM CAMINHO E JUNTOS PODEM PROSPERAR E TER UMA FAMÍLIA UNIDA E FELIZ.”

Ele me irritava. Aquela pessoa acomodada que se conforma com tudo, ou melhor, com o pouco que a vida pode dar. Eu queria mais e me esforçava muito para ter o que desejava. Eu trabalhava em dois empregos para que pudéssemos ter uma vida melhor. Eu não queria morar de aluguel para sempre. Queria que Alice tivesse um lugar para chamar de seu. Minha filhinha teria uma vida melhor do que a vida que eu tive. Estava casada com Antônio há cinco anos. Ele era uma boa pessoa, mas era muito acomodado e isso me fazia discutir com ele constantemente. Eu passei a notar a preguiça dele depois que conheci Jussara. Ela trabalhava comigo na creche. Ela sempre elogiava o marido e estava feliz por ter comprado o apartamento. Era pequeno, mas era deles. Eu trabalhava na creche e como costureira. Quase não tinha tempo para o lazer ou para o descanso. Perdi tantos momentos importantes da vida da Alice e ele lá em casa. Na folga.

Meu marido trabalhava na fábrica e não se preocupava muito com as contas ou com o futuro. Eu que tinha que me virar para tentar juntar algum dinheiro para ver se conseguia comprar um terreninho. Foi tanto esforço e nada do homem perceber o meu sacrifício. Aí, eu cansei. Cheguei um dia em casa, cansada e nem tinha comida pronta, com fome e minha criança queimando de febre. O danado do homem dormindo, de boa. Não viu que a filha precisava de atenção. Cuidei da criança e quando cheguei do hospital, mandei ele embora. Não quis saber. Eu estava decidida, não ia lutar por um relacionamento que estava me sugando, me tirando a energia.

Ele lutou por nós, falou tudo o que sentia, que não tinha percebido. Disse que amava a família e não poderia desistir de nós, mas eu estava irredutível e fui embora, nunca gostei dali mesmo. Parti com Alice para a casa dos meus pais que foram contra minha decisão, mas me acolheram. O tempo passou. Eu nunca consegui minha casa própria. Sempre com inveja ou com orgulho. Eu compreendi. Minha mãe dizia: “Ruim com ele, pior sem ele filha”.

Eu não concordava, mas tive muitas fases da vida em que desejei estar com o Antônio. Após nossa separação, ele ficou muito mal, caiu na bebida, mas depois de alguns anos, ele encontrou uma nova esposa que o tratou diferente de mim. Antônio se reergueu, apareceu tão mudado, bonito, bem tratado. Eles conseguiram tudo o que eu quis e nunca tive. Ele comprou casa, carro e tinha uma vida tão boa que pagou todos os estudos da Alice. Eu me peguei a pensar se a ruim não era eu. Será que eu o maltratei? Hoje percebo que as pessoas são como plantas. Quando regamos e tratamos com bons sentimentos, boas energias, elas crescem e dão frutos, flores. Quando as pessoas são tratadas de qualquer jeito, elas minguam e até adoecem. Não tem como uma pessoa ser produtiva num ambiente hostil.

Eu precisava passar por isso para aprender. Eu me arrependi, mas gostei de ver o quanto ele melhorou com sua nova esposa. As mulheres que amam seus maridos devem tratá-los bem porque a mulher pode conduzir o marido pelo bom caminho e juntos podem prosperar e ter uma família unida e feliz.
MABEL
30/06/19

-----------------Paula Alves--------------------

“ISSO PODE ACONTECER COM QUALQUER UM E DEVEMOS ESTAR DISPOSTOS AO PERDÃO E AO RECOMEÇO.”

Sempre fui insegura, estúpida. Permiti que as pessoas fizessem de mim o que desejaram. Casei e me sentia feliz com Antônio. Tinha sonhos juvenis que levavam a cuidar bem da casa e do marido, almejando ter filhos e ser feliz. Sempre percebi em minha sogra olhares que me desconcertavam, mas meu esposo justificava com mau estar, desconfortos, indisposições que nada tinham a ver comigo. O fato é que ela não gostou do meu casamento. Sempre me achou desajeitada e inferior socialmente. É terrível pensar o quanto as mães podem influenciar seus filhos para o mal.

Ela passou a apontar meus defeitos e Antônio estava um pouco distante de mim. Eu notei, mas não sabia o que fazer e ele passou a visitá-la sem mim. Me desesperei quando encontrei marcas de batom na camisa e meu esposo telefonando escondido. Fiz o que pude para conversar e ele se esquivando. Até que minha sogra armou um encontro para que pudéssemos nos separar. Eu fui à casa dela e vi quando meu esposo beijava uma mulher muito linda na sala de estar. Minha sogra sorria contente. Ninguém me viu. Eu saí de mansinho e quase enlouqueci em perceber que ele me traia. Foi muita dor, muita indignação. Eu não merecia ser tratada daquela maneira. Chorei e fiquei confusa sobre o que deveria fazer. Orei e pedi discernimento a Deus. Eu sabia que minha sogra queria minha separação, mas eu queria meu casamento íntegro. Eu amava Antônio e não queria me separar.

Então, eu precisava dissimular. Estava querendo esganá-lo, mas precisava jogar com tudo o que eu tinha. Eu era a esposa e eu o amava. Quem se envolve com homem casado é que está errada porque pretende destruir família que é estrutura social sagrada. Me peguei com Deus e quando ele entrou em casa, eu disfarcei. Havia preparado um delicioso jantar e me entreguei a ele com todo o meu amor. Não poderia ter me surpreendido tanto com o presente que recebi de Deus. Meu esposo dizia que não queria filhos naquele momento em que estava reestruturando a empresa, mas eu interrompi as pílulas e engravidei. Tudo mudou. Senti o elo naquele filho que eu já desejava. Conversei com Antônio e pedi para mudar de casa, meu intuito era me distanciar de minha sogra e deu certo. Sei que meu esposo fez as escolhas dele e não posso culpar minha sogra por tudo o que aconteceu porque aquele que trai é mais culpado que qualquer um porque ele tinha um compromisso comigo e elas não deviam satisfação à ninguém, mas a mulher tem sempre que pensar no quanto seu Lar é valioso para ela.

Eu pensava que meu marido era a primeira peça fundamental da minha casa. Eu e ele nos unimos por amor e eu não iria deixar ninguém penetrar nosso lar para destruí-lo. Isso pode acontecer com qualquer um e devemos estar dispostos ao perdão e ao recomeço. Eu agradeço a Deus porque desta união tive mais cinco filhos que me foram amorosos e leais. Se eu tivesse me separado o que teria acontecido? Devemos pensar no quanto nossos atos impulsivos podem modificar todos os nossos planos.
LENIZE
30/06/19

------------------Paula Alves-------------------

“EU NÃO SABIA O QUE SEI HOJE”

Eu faria tudo de novo se não compreendesse o que vocês me elucidaram. Quando se está encarnado, nem sempre temos a oportunidade de adquirir os conhecimentos sobre as verdades eternas. Verdades que nos trazem esclarecimentos sobre a vida e a morte. Sobre o bem o mal. Eu estudei muito. Me esmerei em me tornar um bom médico e tudo o que fiz sempre foi objetivando o bem estar dos meus pacientes. Eu sempre me questionei por que permitimos que as pessoas sofram de forma desnecessária, se o fim está próximo. Veja: eu não tinha religião.

Justificava dizendo que não tinha tempo para isso. Eu nunca pensei que não morremos. Na verdade, eu ria muito quando alguém levantava esta questão. Achava que tudo era explicado pelas ciências e, simplesmente, extinguíamos após a morte do corpo. Quem poderia me fazer crer que nossas consciências são eternas? Então, eu passei por uma situação dramática de ter uma tia em situação orgânica precária. Eu não queria vê-la sofrer. Ela estava em sentença de morte pela medicina e eu desliguei a ventilação artificial libertando-a daquela penitência, daquele suplício. Eu não sabia o que sei hoje. Este foi só o primeiro caso.

Daí vieram muitos outros, onde eu eliminei qualquer possibilidade de milagre ou cura vinda dos céus. Foram muitos casos, tantos que nem me lembro mais. O fato é que tudo o que fazemos dispara o alarme da Lei. Tudo o que fazemos, até os minúsculos atos trazem consequências que podem ser desastrosas para nós. Eu tive um acidente de carro e me vi impossibilitado de tudo, inclusive falar. Eu ouvia tudo o que diziam perto de mim. Parecia morto, mas estava vivo, consciente e desejava viver. Acreditava mesmo que meu corpo teria como ser salvo, mas eu não recebi os cuidados necessários. Eu sofri muito tempo em coma induzido, tentaram me ajudar, afinal, eu era médico e para todos um bom médico. Eu ouvia vozes, delírios, acreditava eu, mas eram meus pacientes, vários que me cobraram, chamando de assassino. Eu ainda não estava morto, estava colhendo ali mesmo o mal cometido porque eu me julguei Deus, eu me comparei a ele. Eu decidia o dia definitivo. Muitos deles, necessitavam passar aqueles momentos, dias ou meses em processo de destruição orgânica gradativa onde se faz o desprendimento progressivo.

Muitos necessitavam deste tempo para valorizar o corpo, expurgar o erro e se libertar da matéria, mas eu não permiti e eles ficaram revoltos. Eu padeci na carne e depois de dois anos, minha família autorizou o desligamento. Sofri mais um tempo até que minha tia me auxiliou. Eu ainda estou compreendendo muitas coisas e tenho consciência de que muito errei. Voltarei em breve e novamente tentarei curar as pessoas, mas pedi para voltar numa família espírita para ter esclarecimentos evangélicos e científicos que me façam respeitar o ser humano de forma integral. Agradeço por tudo.
EMÍLIO
30/06/19
        

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“MUITOS FAZEM MALDADE SEM PERCEBER, MALTRATAM SEM NOTAR E ESTÃO INDIFERENTES A DOR ALHEIA. ISSO É TERRÍVEL!”

Foi como se eu estivesse num caminhão desgovernado. A vida serena, tranquila, passou a ser um tormento. Eu não suportava mais ouvir a voz das pessoas. Elas me irritavam tanto. O convívio social passou a ser uma coisa extremamente ofensiva para mim. Eu só via defeitos e não conseguia confiar em ninguém. Parece que, quanto mais você teme uma coisa, mais esta coisa se aproxima de você. As pessoas realmente me agrediam verbalmente e moralmente. Eu era jovem demais. Contava, apenas com vinte anos e era estudante de comércio exterior. Eu sempre achei que a solução para todos os problemas fosse o diálogo, mas me impressionei com o fato de que as pessoas não sabem e não querem dialogar. Mesmo no meu lar. Eu tinha três irmãos e meus pais estavam sempre conosco, mas cada um estava ocupado em uma coisa diferente e não tínhamos o hábito de conversarmos.

Vivíamos sob o mesmo teto, mas ninguém se conhecia de verdade porque não conversava. O diálogo é muito importante nas relações sociais e pode resolver qualquer coisa, mas para isso, as pessoas devem saber conversar. Um tem que ouvir o outro. A conversa não pode se tornar um monólogo e aquele que escuta tem que estar suscetível a ouvir o outro, ou seja, sem barreiras. Notei que as pessoas sempre desejavam ter a razão e dar a última palavra como um símbolo nítido do orgulho que sempre imperou na Humanidade. Então, eu me cansei. Parecia até que minha paciência estava se esgotando quando pretendia tomar um café e um rapaz passou na minha frente. Eu perdi a cabeça e comecei a gritar com ele. Ele apenas sorriu e disse que não havia me visto, foi pior ainda. Então, eu deixei pra lá, tomei meu café e analisei como é a pura realidade. Na maioria dos casos, as pessoas estão profundamente enraizadas no ego e, nem mesmo, notam as outras pessoas. Muitos fazem maldade sem perceber, maltratam sem notar e estão indiferentes a dor alheia. Isso é terrível!

Ele disse que não me viu e eu acreditei porque ele mudou radicalmente sua postura quando gritei, sorriu e depois de eu ter pensado em como eu estava sendo infantil com a sociedade, ele veio falar comigo. Dois anos depois, eu estava casada com ele, que me mostrou aspectos mais do que importantes da vida e da morte. Ele foi meu amigo e companheiro, dialogamos muitas horas sem nos cansarmos. Isso me trouxe a certeza do quanto devemos conversar com todos, com respeito. Falar e ouvir, mostrar os pontos de vista sem desacreditar o outro. Ser indulgente com as opiniões alheias e não desejar nunca se impor pela humilhação intelectual. Ao contrário, aproveitarmos o conhecimento de cada um para nos enriquecermos e propagarmos as sementes do bem.
PAMELA
23/06/19


-------------------------Paula Alves---------------------

“Incrível como a mãe amadurece, se torna responsável e é capaz de conduzir os filhos no bom caminho quando pensa neles com tanto amor”

Eles me ensinaram muito. Perante as duras provas da vida, meus filhos me ensinaram atos sublimes de abnegação e paz. Eu cometi muitos equívocos e passei por momentos em que questionei Deus sobre minha existência, mas o que mais me motivou a prosseguir foi tê-los comigo. Foram três filhos maravilhosos que sempre me mostravam o rumo certo. Algumas pessoas podem achar que eu exagero, mas hoje tenho a certeza que Deus os colocou em minha vida para que eu pudesse aprender com eles.

Desde pequenos, sempre me olhavam e, com o olhar angelical, me conduziam. Eu podia estar morrendo de cansaço, mas pensava no pão do dia seguinte e trabalhava mais um pouco. Filho ensina demais. Às vezes, queria gritar, largar tudo, tamanha dificuldade financeira que nos perseguia, eu não conseguia entender como podia trabalhar tanto e estar sempre endividada. É verdade que um marido teria feito toda a diferença, mas como podia convencê-lo de que ele deveria escolher a família?

Eu me culpei tanto. Achei que era a mulher que não segurava o marido em casa, mas não é nada disso. Ele foi embora sem dar muitas explicações e, nem mesmo, se lembrou que as crianças precisavam de um pai, precisavam dele. Os homens não se questionam se, as crianças que diziam amar, sentirão falta deles? Como podem se esquecer de todo tempo que se envolveram com aquele pequenino ser? Eu sabia que tudo aquilo iria mexer com a cabeça deles e temia que me culpassem no futuro. Eu fui atrás dele e pedi para voltar, eu não queria ficar sozinha com toda aquela responsabilidade, mas ouvi tantos absurdos que me deram a certeza de que eles eram só meus. Eu nunca falei para as crianças que ele havia nos abandonado. Preferia que eles ficassem com alguma boa lembrança do pai e fui percebendo que meus melhores atos os envolviam. Eu fazia de tudo para vê-los felizes.

Incrível como a mãe amadurece, se torna responsável e é capaz de conduzir os filhos no bom caminho quando pensa neles com tanto amor. Eu me tornei trabalhadora, respeitável e nunca faltou nada dentro de casa. Muitas vezes me perguntei se conseguiria abdicar de minha vida como mulher para criá-los. Até tive alguns pretendentes, mas colocar homem estranho dentro de casa e correr o risco de comprometer a integridade deles, para quê?

Vivi bem com meus amores e a vida passou rápido. Nem me dei conta quando ficaram adultos, tão carinhosos. Me trouxeram tudo de bom, tudo o que eu podia querer. Estiveram sempre comigo. Se casaram, formaram famílias lindas e nunca me criticaram. Parece até que se lembraram de tudo o que vivi. Criança quer atenção. Criança quer ser valorizada como gente que tem sentimentos, vontades e até sabedoria. Eu sou muito grata a Deus por ter me feito mãe porque, sem meus filhos para me mostrarem que eu tinha tanto potencial, com certeza, tudo teria sido bem diferente.
MARIA DO CARMO
23/06/19

------------------------Paula Alves-----------------------

“ATÉ A VERDADE DEVE SER DITA COM INDULGÊNCIA OU SER DEIXADA DE LADO PARA QUE POSSA NASCER A PAZ E A ESPERANÇA, AINDA MAIS QUANDO ESTA VERDADE PODE CAUSAR A DOR”

Eu me levantava super cedo e ia trabalhar no hotel. Fazia café para todos os funcionários e hóspedes. Nunca gostei da forma como meu chefe falava com todos os funcionários. Ele sempre me irritou por causa do tom de autoridade. Era ofensivo porque era arrogante. Ele conseguia insinuar as coisas com o tom de voz. Humilhações frequentes que me deixavam irritada por ter de ir trabalhar.

Quem trabalha merece um ambiente sadio para executar suas funções com dignidade. Eu sempre achei que a pessoa tem que receber orientações de como executar o seu serviço, assim que inicia a sua função e deve ser tratada com respeito, com cordialidade para que tudo transcorra bem. Um bom dia não custa nada, mas quem recebe sabe que foi visto e que está sendo tratado com bons modos. Aquele que cumprimenta não é indiferente ao outro. Ele nunca nos cumprimentava e chamava aos gritos, criticava em público e, se fosse para voltar atrás de uma ordem, era em particular para ninguém saber que ele pisou na bola. Não devia ser o inverso?
Eu achava muita estupidez. Tinha coisa que era irrepreensível. Mandar a moça mais bonita servir café na sala dele e fazer outras coisas que constrangia e fazia chorar. Tantas coisas ruins que as pessoas fazem quando estão em posição de autoridade, mas tudo é infração da Lei. Eu nem sabia disso, mas todo aquele que faz mal para seu semelhante aciona a Lei de Deus. Não importa se é um mal que fere fisicamente ou, se apenas, vai causar um pensamento ruim na outra pessoa. Às vezes, você faz mal para alguém e pensa: “não fiz por mal”, mas fez e ele sentiu de alguma forma o mal que você causou.

A gente pensa tanto no próprio umbigo que não olha muito para os outros. Acho que era assim com ele. Ele estava acostumado a manter a pose e não percebia que a gente trabalhava sempre contrariado e se sentindo mal. As pessoas adoeciam com frequência. Era dor de cabeça, enjoo, vomito, problemas intestinais. Mas, o mais grave foi com a Ofélia. Ele disse que ela tinha que refazer todo o serviço de quarto porque uma hóspede não gostou do cheiro do produto de limpeza e ela caiu, machucou a coluna. Ela nem podia trabalhar, mas ele não quis saber. Nós vimos a Ofélia sofrer muito de dor. Alguns meses se passaram e foi ele quem caiu da escada e fraturou a perna. Foi bastante estranho vê-lo no chão. Ele nunca mais voltou ao trabalho e quem ficou no seu lugar foi um senhor maravilhoso que estava sempre sorrindo e cumprimentava todo mundo. Era muito bom trabalhar num ambiente calmo, onde todos se respeitavam. Até para dar bronca as pessoas podem ser respeitosas. Depende da forma como se fala.
Eu fui visitar o meu antigo gerente e não gostei de ver como ele estava. Eu quis dizer tudo o que estava entalado na minha garganta, mas preferi perguntar como ele estava se sentindo, desejar tudo de bom com sinceridade e ir embora, em paz. Até a verdade deve ser dita com indulgência ou ser deixada de lado para que possa nascer a paz e a esperança, ainda mais quando esta verdade pode causar a dor.
VIVALDINA
23/06/19

------------------------Paula Alves---------------------

“EU PRECISAVA DE ALGUMA COISA QUE MOTIVASSE MINHA EXISTÊNCIA”

Eu só queria ficar quieta no meu canto. Eu não queria ver ninguém. Me cansei da vida. Me cansei de tentar. Acho que todo mundo sente isso, pelo menos uma vez na vida, mas poucos confessam. É muito difícil viver. Tem muito percalço no caminho. Para quê levantar da cama, se é para fazer tanto sacrifício?

Do início do dia até o fim era trabalho que ninguém via, ninguém notava. E eu me espremendo para agradar a todos. Até o dia que eu não quis mais. Tinha que trabalhar na alfaiataria, tinha horário para bater o cartão, não fui. Tinha que preparar o jantar para meus filhos, para o meu esposo, não fiz. Não escovei os dentes, não tomei banho. Eu não fiz nada e fiquei ali, deitada. Eles se preocuparam, acharam que eu estava doente, deixaram que eu ficasse ali com minha doença por quatro dias. Aí se enfezaram porque não tinha mais roupa limpa, nem nada limpo na casa. Se preocuparam com meu salário e com minha aparência. Disseram que eu era melindrosa e egoísta.

As pessoas se chocam quando percebem que a gente está surtando. É como se estivessem perdendo o controle sobre você, mas a verdade é que não tem como saber quanto cada um aguenta. Eu pensei tanto, não queria pensar, mas pensei que isso pode acontecer com qualquer um. Desistir! Eu não tinha motivação nenhuma. Olhava a janela que deixaram aberta e me indignei porque não deixaram fechada. Eu levantei para fechar e vi minha vizinha colocar um vaso na rua. A planta ainda tentava viver, mas estava quase morta. Eu também parecia estar quase morta. Eu saí de casa como uma louca. De pijama, descabelada, observei a vizinhança e o céu. Queria um motivo e não encontrava, mas eu não era suicida, eu não queria morrer, eu queria sentir alguma coisa que me fizesse continuar. Sentei sob a árvore e senti um pingo de chuva. Eu a enfrentei inerte e compreendi que o mundo vai reagir independente de nós. Eu era só uma peça como tantas outras que deviam subsistir, deviam interagir. Eu não tinha um algo mais que pudesse me deixar com os pés no chão. Eu só tinha uma vida material que conduz ao nada quando se perde a razão porque não tem lógica, entende? Eu precisava deste algo mais e fui à igreja. Conversei com o padre, expliquei o que me aconteceu. Eu precisava de alguma coisa que motivasse minha existência. Eu precisava me sentir útil e ele me convidou para ir ao grupo de dependentes químicos. Eu ouvi tantas histórias ruins, chorei, percebi o quanto minha vida é maravilhosa e voltei para casa com vergonha do meu comportamento. Depois disso, fui voltando ao normal. Precisei de auxílio terapêutico, mas juntamente a isso, passei a ajudar no grupo de dependentes químicos. Isso fez toda a diferença para mim.

Hoje sei que tive depressão.
É uma tristeza profunda que, nem sempre, se sabe explicar a causa. Depressão é doença sim. Deve ser tratada como doença com a maior seriedade. O paciente deve ter apoio familiar adequado, assim como social. Eu agradeço a Deus que colocou pessoas que estavam devidamente capacitadas para me ajudarem.
ISAURA 
23/06/19 



-----------------------------Paula Alves----------------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“SÓ A EDUCAÇÃO PRODUZ HOMEM DE BEM”

Eu sei que muitos falavam mal de mim pelas costas. Convivi com muitos falsos. Na minha frente tinham sorrisos e boas maneiras mas bastava eu me afastar para que desferissem palavras cruéis.
Sempre fui muito trabalhadora, pontual, na verdade, perfeccionista. Adorava o meu trabalho e fazia com imenso prazer, mas eu não queria erros. Sempre almejei que fossem como eu, com ânimo e satisfação, dedicando-se ao trabalho para que ficasse bem feito com esmero.
Era comum, as pessoas chegarem com humildade pedindo emprego, conseguirem o emprego e se propor ser bom funcionário, ser eternamente grato pela oportunidade em questão. Ora, não passava nem do período de experiência por mais que a mesma pessoa começasse a reclamar do salário, da carga horária ou chefe.
Muitos desejam o salário e pouquíssimos a desempenhar uma tarefa útil.
A verdade é que comecei a ficar cansada de tantos insolentes, ingratos. Pessoas que faziam pouco de qualquer jeito. Aquele funcionário que tem que executar, apenas uma tarefa e ainda consegue fazer mal feito. Tão mal feito que outros terão que corrigir o erro dele. Aí quando você se aproxima e tenta explicar que não é assim que faz, ele vira bicho, o orgulho fere e ainda te ataca. Não dá.
Quantos desempregados que só querem a grana fácil. Estão a quase morrer de fome, mas se acham no direito de escolher o serviço: ”isso não faço,” ”isso não posso”.
Eu me questionei o quanto as pessoas merecem passar por privações para ver se saem do comodismo e da preguiça.
Adorava meu trabalho, mas ser gerente de trabalhadores folgados foi muito difícil. Por outro lado, chefes que agridem e humilham sei que também não é fácil de aguentar.
Sempre pedi e agradeci quando desempenharam bem as tarefas. Sempre fui a primeira a chegar e a última a se retirar e ainda me falaram que eu estava errada, mas isso me fez vir para cá. Hoje, posso ser serva, atuar na seara é bom demais.
Aprendi tanto trabalhando aqui. Sou muito agradecida.
Seria bom se as pessoas ensinassem os filhos desde pequenos a fazer pequenas tarefas. Fazer o que podem para ser úteis e acostumarem com a sensação prazerosa de produzir o bem. Só a educação produz homem de bem.

ZELITA
16/06/19

---------------------------------------Paula Alves--------------------------------

“JULGUEI PELO PAR DE SAPATOS”
      
Sempre fiquei reparando nos pés. Sapato diz muita coisa da gente. Tem sapato fino, sapato mixuruca, sapato de homem e de mulher. Sapatos de pobre, esfolado e sujo, sapato furado também tem. Eu via até sapato de criança que perde fácil porque ainda nem anda e a mãe coloca para ficar mais apresentável.
       Tem sapato de todo jeito e todo sapato fala muito sobre a pessoa. Eu ficava sentado o dia todo engraxando e pensando que eu também queria ter dinheiro para comprar sapato para todo mundo lá em casa, mas os pés das crianças crescem muito rápido, então, tinha que ser chinelo, mas chinelo não esquenta e também não protege da chuva.
       Eu fiquei engraxando por tanto tempo, dependendo de onde você trabalha, tem mais cliente porque bom mesmo é engraxar sapato de quem usa terno. Aí sim, sapato chique, lustroso.
       Eu nem precisava levantar a cabeça, sabia bem como era o dono do sapato, mas teve um dia que uma mulher sentou com um sapato bem velho e eu pensei: “O que ela quer aqui? Deve ser viúva, pobre coitada. Se não puder pagar o que eu cobro tudo bem. Posso até fazer cortesia para ela.”
       Engraxei o sapato e quando ela se levantou, tirou da bolsa uma nota gorda e me deu, falou que era para ficar com o troco.
       Eu estranhei e olhei para ela, eu estava errado. Era uma moça muito linda que falou.
-Adoro esses sapatos. Foram da minha mãe. Obrigado por cuidar deles. Excelente trabalho o seu!
       Ela sorriu e se foi. Eu fiquei chateado pensando que eu julguei muita gente por causa do sapato. Nunca conversei, nem tentei descobrir se estava pensando certo delas. Acho que no mundo, muitos são como eu. Tem gente que julga pela cor, credo, raça, partido politico, até pelo cabelo. Tudo é motivo para pessoa julgar. Isso é muito errado porque a gente sempre se engana.
       Não dá para saber o que passa na cabeça do outro, ao menos, que ele se expresse, por isso, é tão importante o diálogo e a paciência com o semelhante.
             Eu sinto muito porque sempre estive errado. Julguei pelo par de sapatos.
ANTÔNIO ARANTES
16/06/19

----------------Paula Alves-------------

“GRATIDÃO TÁ FALTANDO HOJE EM DIA, MAS AINDA DA TEMPO DO POVO PERCEBER QUANTA COISA BOA ACONTECE E A GENTE NÃO DÁ MUITA IMPORTÂNCIA”

O Pior era a chuva. As pessoas escorraçavam como cachorros. Claro que a gente se constrange.
       Eu queria estar em casa, deitada no sofá, quentinha. Lembrava quando a mãe fazia chá para todo mundo e contava histórias, a gente dormia embrulhadinho ouvindo o barulho da chuva.
       Mas, o tempo passou, eu me casei e vim para São Paulo. No início foi bom, arrumamos serviço, tinha um quarto alugado e a esperança de ter uma vida com conforto.
       Só que a gente encerrou contrato e não arrumou mais serviço, teve que sair do quarto e ir para a rua.
       Que vida! Ninguém queria parar na rua. Tristeza que não acaba. Tem que agradecer a Deus todo dia pelo trabalho, por mais duro que seja, nunca jogar comida no lixo. A mãe dizia que é pecado e é mesmo. Esbanjar também é infração da lei e é tolice para quem nem tem tanto assim.
       Fomos para a rua, roupa acaba, comida acaba e vai se abrigar do frio como? Se abrigar da chuva como?
       O Bastião tomou tanta chuva que adoeceu. Eu não sabia o que fazer e pedi para umas lojistas. A maioria me colocou para correr, mas Dona Marina se compadeceu. Ela foi ver Bastião embaixo do viaduto, com febre o pobre.
       Ela comprou remédio e cedeu um quartinho. Sei que não deve ter sido fácil para ela. Tem gente que até quer ajudar, mas tem medo.
       A gente não consegue confiar, não sabe o que as pessoas podem fazer, podem se aproveitar da ajuda e fazer maldade. Mas, graças a Deus, ela confiou e ajudou a gente.
       Meu Deus! Bastião curou e eu achei que ela ia mandar a gente embora, mas ela deu serviço.
       Bastião foi trabalhar de vigia e eu na limpeza. Eu servi Dona Marina por 30 anos, servi com a maior gratidão. Tentava fazer, além do que ela me pediu. Sempre tinha um chazinho ou um bolo fresquinho esperando por ela. Sempre tinha uma rosa bem linda no criado mudo e o sorriso no meu rosto estampado até no dia do velório dela de tanta gratidão por ela ter salvo meu marido e tirado a gente da rua.
       Gratidão tá faltando hoje em dia, mas ainda da tempo do povo perceber quanta coisa boa acontece e a gente não dá muita importância.
       Acho que da gratidão, nasce muita coisa boa como generosidade, lealdade e amizade para a vida toda que nem a minha com a dona Marina. Amizade para além da vida porque aqui a gente é mais amiga ainda.
ANA TEREZA
16/06/19

--------------Paula Alves-------------------


“ATÉ ONDE VAI NOSSO PRECONCEITO?”

       Sempre tive uma saúde frágil, mas fui moça formosa. Bem cuidada, criada para ser esposa de coronel. Minha mãe deu todas as sugestões do que fazer em qualquer situação para ter um bom casamento, uma boa família.
       Casei-me nova e fui desposada por Euclides que era bem mais velho que eu. Não questionei meus pais porque podia ser muito pior, me conformei e fui resignada.
       Logo engravidei, pedi a Deus para me dar um varão. Sofri muito para parir, achei que morreria no parto, mas fui auxiliada por uma escrava que foi a luz para mim.
       Cleonice me tratou com carinho e paciência e, quando achei que tudo estava perdido, ela me deu um chá que me deixou confusa, mas consegui, Henrique estava nos meus braços.
       Meu filho trouxe alegria para meu lar, meu esposo estava radiante. Depois disso, me colocou nas nuvens. Foi como se eu tivesse me elevado aos seus olhos, porém meu leite era ralo, pouco, eu era melindrosa e tinha dificuldade para amamentar. Então, meu esposo ordenou que Cleonice amamentasse Henrique porque ela tinha um bebê de um ano.
       Ela era muito diferente de mim. O leite de Cleonice jorrava, as tetas fartas que podiam alimentar em bando, mas eu me senti muito mal. Parecia que eu não era mãe por completo. Será que eu não podia alimentar meu filho?
       Resolvi conversar com ela e questionei por que ela tinha leite, afinal ela trabalhava tanto via tanta crueldade e injustiça. O leite dela não secava por trabalho pesado ou crise de nervoso. Pedi dicas, eu não podia aceitar não alimentar meu filho porque eu tinha uma vida maravilhosa. Eu não trabalhava, podia me dedicar a ele.
       Cleonice sorriu, disse que não se importava em ser ama de leite, mas falou que eu estava certa e me ensinou. Falou que o segredo era água e o menino na teta. Ela falou que quanto mais ele puxava, mais o corpo ia produzir leite.
       Foi mesmo, eu fiz o que ela falou e tive muito leite. Nos tornamos amigas, aprendi muito com ela. Aprendi que a gente tem que querer nutrir o filho, tem que querer alimentar a criança, tudo depende da mente.
       Escrava que se alimentava mal, quase não dormia, trabalhava duro o tempo todo e tinha que ter leite para amamentar seus filhos e os filhos das sinhás. Neste caso, ninguém tinha preconceito, o leite da negra servia muito bem.
       Até onde vai nosso preconceito?
AMÁLIA
16/06/19
      
 --------------------Paula Alves--------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“AS PESSOAS QUE TIVEREM ACESSO AO MEU RELATO, POSSAM SE CONTROLAR ANTES DE EXPOR ALGUÉM OU HUMILHÁ-LA”

Ânsia que era incontrolável. Não precisava me lembrar de nada. Naquele estágio, bastava um suspiro e colocava tudo para fora. Eu sabia que era resultado de tudo o que havia engolido por todo tempo que sufoquei meus sentimentos em prol de uma vida familiar calma e pacata.
Meu marido sempre me humilhou. Nunca teve a menor delicadeza de me tratar com respeito perante as outras pessoas. Estava sempre me criticando e gritava comigo até na frente das crianças. Isso foi me aniquilando. Eu fui uma mosca morta. Mulher quieta que sempre ouviu tudo calada para não piorar a situação, mas não era simples para mim. Eu me calava para que ele pudesse se calar também, mas por dentro eu nutria uma vontade enorme de gritar e avançar nele. Sempre imaginei como seria quando eu me irritasse de verdade e falasse tudo o que estava preso dentro de mim. Era como se eu estivesse alimentando uma fera, como se eu estivesse enjaulando um ser e, a qualquer momento, ele pudesse mostrar suas garras.
Eu vivi assim por mais de trinta anos. Meus filhos cresceram e nunca ouviram um grito ou mesmo um tom mais alto. Engordei tanto, fiquei feia e meu marido nunca perdeu a mania de me maltratar. Até que um dia, ele me fez mal no casamento de nossa primogênita. Ele me humilhou e fez com que rissem de mim. Eu aguentei, mas fui chorar no banheiro e cheguei em casa me sentindo muito mal. Eu já estava sofrendo a separação com Camila. É muito difícil quando um filho casa, ainda mais sendo a menina. Eu estava insegura com a forma que ela viveria seu casamento. Eu não desejava para ela um marido como o meu. Eu sofri tanto, mas não quis demonstrar, me fiz de forte e adoeci. Eu engoli muita coisa e não aguentei mais segurar. O vômito vinha com muita intensidade. Precisei ser internada e fui informada que tinha úlcera. Logo que fui para casa, meus filhos faziam de tudo para me agradar, mas ele não. Reclamava da casa que estava suja, as roupas também, não tinha um almoço decente porque a dona da casa resolveu abandonar o serviço para adoecer – dizia ele. Eu me enchi e falei tudo o que estava guardado dentro de mim. A fera estava solta. Uma mulher que estava atenta e sabia o que era ser maltratada. Eu senti muita dor, mas não me calei. Falei que eu estava nutrindo ódio por ele, pai dos meus filhos, pessoa que amei por muito tempo. Eu sempre respeitei seus deslizes porque compreendi que as pessoas têm defeitos, mas não era possível aliviar para ele, enquanto eu estava sendo ofendida e magoada dentro do meu lar. O pior de tudo é quando você tem medo de falar, você tem medo de se mexer porque não sabe se isso vai incomodar a outra pessoa, a ponto desta pessoa, chamar a atenção de todos te constrangendo.
Você, aos poucos, perde a sua identidade e isso é covardia. Acredito mesmo que isso é um golpe cruel. Não sei até que ponto meu esposo tinha convicção de tudo o que eu sentia. Não sei se ele tinha discernimento e compreendia o quanto me prejudicou, mas talvez, as pessoas que tiverem acesso ao meu relato, possam se controlar antes de expor alguém ou humilhá-la.
Para aquele que se encontra numa posição semelhante à minha, eu preciso dizer, se ame meu irmão. Não permita que as pessoas te reduzam ao nada. Nunca permita que alguém, por mais que você ame esta pessoa, faça você perder seu eu, suas vontades, seus desejos, seus objetivos. Nós devemos nos preocupar com os outros, devemos ajudá-los e estar sempre para eles, mas primeiros nós, sem egoísmo, cada um de nós tem um caminho único e deve objetivar seu progresso moral, intelectual e espiritual. Reconhecer quem somos e não perder de vista nosso caminho é fundamental para o bom relacionamento dentro e fora de casa.
Ah! O que aconteceu comigo? Eu me sentei, conversei com ele e expliquei que não dava mais para suportar aquela relação doente. Eu me separei, fui morar numa casinha super simples onde tinha um cão, livros e muitas flores. Meus filhos sempre vinham me visitar e, aos poucos, fui melhorando do problema de saúde que adquiri com o mau comportamento que tive, comportamento de submissão verbal e moral. Eu necessitei fazer terapia medicamentosa e psicológica para me reencontrar e aqui ainda estou em processo de tratamento para me reencontrar porque logo deverei reencarnar. A perda da identidade atrasa tudo porque a gente não sabe mais caminhar sem a direção do outro. Eu sou agradecida a todos aqueles que fizeram parte do reencontro que tive comigo mesma.
ADEIDE
09/06/19
 ------------------Paula Alves---------------

“A GENTE NUNCA PODE AFIRMAR QUE A PESSOA NÃO TEM COMPETÊNCIA PARA SE SUPERAR”
Eu encontrei muita coisa boa no lixo. É estranho chegar neste ponto de falar que vai recolher. Eu tive bons empregos, mas não tive boa escolaridade e quando a crise chegou, eu tive que me virar com o lixo mesmo. Pegava o carrinho e saia, ainda de madrugada, fazendo o recolhe. Tinha gente que já me conhecia e separava tudo para mim. Era estranho porque davam de tudo, roupas, calçados e até comida. Aí foi ficando mais fácil. Tinha coisa muito boa que ia parar no lixo e eu pensei que tem gente que nem sabe do que precisa e compra o que não precisa, aí se cansa e joga fora. Estranho!
Percebi que não faltava nada para minha família, eu era forte e trabalhava duro, também a Marilda era trabalhadora e estava sempre lavando roupa para fora, fazendo faxina. Daí fomos reformando a casinha que fora dos meus pais e a gente tinha uma vida simples, mas ninguém passou fome. Só que eu vi alguns vizinhos passando por necessidade. Eles até vieram na minha casa pedir algumas coisas. A Marilda foi doando o que a gente não usava e eu percebi uma coisa muito interessante. Era incrível como me davam exatamente o que a gente precisava para ajudar os vizinhos. Quando eu ganhava sapatos, os pés iam até minha casa. Quando eu ganhava leite, aparecia uma mulher com uma criança faminta. Se eu ganhava cobertor, aparecia alguém com frio. Nem sempre o que eu ganhava era para mim ou para minha família. Muitas vezes, era para alguém que ia buscar em minha casa. Foi aí que a Marilda teve uma ideia: colocar a Regina, nossa mais velha que era mocinha, para receber as pessoas e ver o que estavam precisando, aí quando eu ia passando nos lugares, nas casas ou nas fábricas, eu já pedia o que era necessário. Tinha gente que duvidava e a gente teve que arrumar um jeito de mostrar que em casa a gente entregava para o carente, mas não tinha como fazer isso. Me reuni com os vizinhos e a gente montou uma sociedade de bairro e ficou mais fácil. Com o passar dos anos, os jovens ajudaram muito. Iniciativa que começou da necessidade de uns e outros. Com o lixo as mulheres começaram a fazer artesanato e venderam para ter renda, comprar comida. Foi tanta coisa que a gente fez. Tanta iniciativa de uns e outros que rendeu trabalho, curso e dignidade. A gente nunca pode dizer que é pobre e é marginal. A gente nunca pode afirmar que a pessoa não tem competência para se superar, fazer por ele e por alguém que precisa. Eu tive uma vida linda, inspirei alguns com meu trabalho digno.
Lixo que deu esperança, encheu a barriga e levou estudo. Sempre tem que ter fé, ser trabalhador porque isso enobrece, incentiva e abre portas. Agora estou aqui ansioso porque mais uma etapa se iniciará em minha vida eterna. Desta vez, serei professor, letrado veja só. Estou precisando mudar um pouco minha consciência, saber que vou ser capaz. Terei que guiar os jovens mais uma vez, mas, desta vez, com estudo. Estou feliz e um pouco amedrontado. Agradeço a atenção que estou recebendo. Com certeza vou me esforçar para dar certo.
CLEMÊNCIO
09/06/19   
 --------------------Paula Alves---------------------

Minha mãe mandava ir à feira para catar o que sobrava. Eu detestava dia de feira. Levava meus irmãos menores e eles pediam mesmo, não tinham vergonha, mas eu não gostava nenhum pouco de passar pelo constrangimento de pedir. Eu odiava quando a minha mãe dava a sacola. “É para catar tudo o que estiver em bom estado, até as folhas das verduras, dá para fazer sopa” – dizia ela. Eu pegava porque estava sempre com fome. Meus irmãos iam até a barraca do pastel e eram bonitinhos, sempre tinha alguém que dava pastel para eles e eu não ganhava porque não gostava de pedir. Mãe falava que eu não podia ter orgulho porque no dia da feira a gente conseguia comida para passar a semana. Eu chorava de vontade de comer um pastel inteiro. A mãe fazia sempre alguém dividir comigo.
O tempo passou, a mãe na costura. Eu aprendi muita coisa com ela, de repente, já estava remendando e arrumando roupas para os vizinhos. Mas, eu sabia que podia ser mais do que consertar. Então, fui observando como as roupas eram costuradas e fui copiando. Eu desmanchava e fazia de novo. Então, quando ganhei um dinheirinho, sem mãe saber, eu comprei um tecido e fiz um vestido. Ficou tão bonito que mostrei para ela. Mãe ralhou comigo porque o dinheiro dava para comprar um leite, um pão. Mas, eu não liguei, sabia que podia fazer mais. Mostrei para a cliente que tinha filha moça e ela amou o vestido, comprou de mim e encomendou mais dois. A mãe nem acreditou, sorriu e me ajudou a comprar o tecido. Fiz os vestidos e com o dinheiro comprei mais tecido, a cliente encomendou blusas, fiz. Foi assim, que comecei a ser costureira. Trabalhei muito, muito mesmo. Nunca fiz curso, quis fazer, mas não consegui. Progredi financeiramente e consegui comprar uma casa para nós. Minha mãe estava feliz. Nunca vou esquecer o dia em que fomos à feira comer pastel, que delícia! Mãe comeu e olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas, agradecendo. Uma coisa tão boba né! Um pastel e a gente nem podia pensar nisso.
Eu aprendi muito nesta vida. Era arrogante mesmo. Trouxe de outra vida um ar de superioridade. Eu não queria me humilhar e, pedir, para mim era se humilhar, mas mãe ensinou muito. Ensinou o que era ser trabalhadora, ser humilde, paciente e honesta. Mãe ensinou que não era feio pedir ou recolher o que era desnecessário para alguém. Feio era ser preguiçoso, inútil ou mesquinho. Eu aprendi tanto, gostei do que aprendi e vivi uma vida linda depois de tudo isso. Sempre fiz questão de falar para os meus filhos a história da feira e como eu havia me tornado costureira. Eu sou muito grata.
BIANCA
09/06/19

------------------------------Paula Alves--------------------------
“ COMO SERÁ SE NINGUÉM FALAR PARA ELES?”

Eu comecei o tratamento completamente confuso. Parecia que várias personagens se apossavam de mim. Quando me preguntaram quem eu era, eu não soube responder. Via homens e mulheres que se expressavam de diversas formas e eu nem sabia qual deles eu era. Aí percebi que estava numa metamorfose tão grande que não tinha como saber quem eu era. Eu me perdi de mim. Me deixei levar pela sedução de poder ser qualquer coisa. Foi tanto deslumbramento de conhecer pessoas exuberantes e fazer parte da vida delas, mesmo que momentaneamente, fiquei fascinado.
Eu me lembro das festas, das bebidas, tudo belo demais. Eu cheguei em São Paulo na intenção de estudar jornalismo. Eu era do interior, precisei arrumar um emprego que custeasse minha moradia e logo conheci Carlos. Ele me apresentou um mundo diferente, sedutor. Eu fui trabalhar preparando drinks nas festas e conheci pessoas deslumbrantes, famosas, lindíssimas. Me apresentaram a bebida e algumas drogas que me fizeram vivenciar situações que eu nunca imaginei fosse capaz de presenciar. Testei meus limites físicos e psicológicos, me envolvi com pessoas que me pagaram por um momento de satisfação sexual. Meu interesse pelos estudos passou e eu me perdi.
Nem sabia mais se eu gostava de homens ou de mulheres, não parei para pensar que é tão bom ter alguém para dialogar sobre coisas banais da vida. Eu me perdi.
Fiz o que me pediram. Fui para uns mulher, para outros, homem. Me travesti e gostei da sensação. Mas, teve dias em que minha mente ficou bem confusa.
Hoje, eu não sei mais. Não me lembro de alguém em especial. Já não tenho ideia do certo ou do errado. Eu olho para mim e compreendo que está tudo muito bagunçado. O meu aspecto atual está relacionado com a distorção mental. Nem eu sei o que sou ou o que fui. Acho que precisa de um longo tempo para que possa me situar. Eu fui um rapaz, um homem. Não tive firmeza de caráter, nem respeitei princípios básicos de socialização. Banalizei o sexo e comercializei meus sentimentos. Não poderia ter sobrado nada de bom, mesmo assim, pude vir para cá e sou muito agradecido por isso. Cansei de sofrer, de ser usado em um local trevoso.
Preciso me reestruturar, senão como será o meu futuro? Nascer como hermafrodita? As pessoas deviam respeitar mais os corpos, deviam ter ideia do que pode acontecer com todos aqueles que desrespeitam e usam apenas para sentir prazer. Todos que infringem a Lei, encontram um caminho espinhoso para reparar seus deslizes. Como será se ninguém falar para eles?

WESLEY
09/06/19

------------------------Paula Alves-----------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

          “AQUELE QUE DESEJA SER VIRTUOSO SEMPRE USA O PLANO DE DEUS PARA SE ELEVAR E PARA ISSO A GENTE PODE AJUDAR UNS AOS OUTROS”

Eu estava sem saber o que fazer quando a vizinha apareceu carregando umas sacolas. Ela veio toda sem graça perguntar se eu aceitava roupas de frio e cobertores. Estava sem jeito porque eram usados e ela não sabia se eu ficaria constrangida porque a gente nem tinha amizade, mas era sempre educada a Dona Filomena que me cumprimentava com bons modos e um Largo sorriso.
       Imagina, mal sabia ela que eu estava tão precisada daquela doação. Eu agradeci feliz e dei um abraço tão forte que ela mal conseguia respirar.
       Fiquei pensando que é importante saber dar e também saber receber, por isso, que horas voltamos como ricos, cheios de tudo e, horas voltamos como pobres e necessitados. Estamos sempre aprendendo a valorizar o que tem e o que não possuímos.
            Naquele dia, eu prestei bastante atenção que Dona Filomena foi bastante respeitosa, entrou em casa querendo ajudar e nem por um minuto me humilhou com seu ato. Eu soube receber, fui sincera na necessidade e agradeci o que ganhei.
            Tem gente que doa o que é de pior, da o que deveria ir para o lixo e ainda humilha o necessitado, se aproveita disso para se sentir melhor que os outros, por outro lado, tem pobre que precisa de um pouco e se aproveita da situação para explorar aquele que tem bom coração.
             Daí a gente vê que, aquele que deseja ser virtuoso sempre usa o plano de Deus para se elevar e para isso a gente pode ajudar uns aos outros. Seguir fazendo amigos, aprendendo o que é correto.

MADALENA
01/06/19

-----------------------------Paula Alves-----------------


“AS PESSOAS NOS TRATAM DA FORMA COMO NOS TRATAMOS”

Me envolvi com aquele homem enquanto era jovem, inexperiente, sonhadora.
       Logo, engravidei. Ele se modificou, pensei, me tratava com muito ciúme e estava sempre fazendo insinuações descabidas.
       Quando tentou me espancar percebi o quanto era violento, o quanto pensava bobagens e temi por mim e pelo meu filho. Eu chorei muito, enquanto ele esmurrava a porta do banheiro.
       Eu esperei ele cansar e sair. Pensei no que poderia fazer porque eu o amava, mas era evidente que ele não confiava em mim e poderia me machucar. Eu o amava muito, mas me lembrei de minha mãe que apanhou tanto do companheiro dela. Lembrei que ela falava que tem mulher que é boba, coloca o amor pelo homem acima dela mesma, acima da integridade dela. Mulher que ama o homem e se permite ser humilhada e judiada. Ela falava que depois do primeiro tapa vem as surras e a desvalorização.
       Eu não queria ficar como minha mãe. Eu queria ter um homem que me amasse e fosse companheiro de verdade com amor, parceria e cumplicidade.
       Eu achava que merecia ser bem tratada. Daí eu arrumei minhas coisas e saí na intenção de ir para casa da minha prima, depois ia pensar melhor no que fazer, mas o danado do homem chegou e me pegou pelos cabelos, falou que ia tirar o Claudio de mim. Virei um bicho e peguei a faca. Nem pensei que era capaz de enfrentar um homem daquele tamanho.
       Ele viu como eu me transformei e me deixou sair jurando vingança.
       Graças a Deus eu consegui esquecer. A mulher não precisa ser espancada para sentir do que tem a alma.
       Acho que o homem tem que tratar a esposa com toda cortesia sabendo que merecemos amor, respeito, consideração e a mulher também deve se tratar da mesma forma. Pensar o que desejam dos relacionamentos. As pessoas nos tratam da forma como nos tratamos. Nós colocamos limites nos relacionamentos.
             Amem-se!

EMANUELA
01/06/19

----------------------Paula Alves-----------------

“EXISTEM COISAS QUE DEVEM SER ESQUECIDAS” “A ENFERMIDADE TAMBÉM É BÊNÇÃO”


Estava tão cansado. Dava para notar que a energia em mim, estava reduzindo de forma progressiva, como lâmpada que se apaga.
       Eu vivi muito. Foram tantos instantes que, de repente, eu me esqueci de coisas importantes.
       Terrível quando alguém chega perto de você, sorri e pergunta: Lembra de mim?
       E eu não lembrava. Nem tinha como, rosto estranho, voz estranha. Eu puxava pela memória e nada. De início, fazia cara de conhecido, demonstrava saudade, esperava a pessoa falar alguma coisa que desse um sinal de lembrança, mas depois cansei. Chato! Não lembrava mesmo e as pessoas começaram a se perturbar. Hoje sei que assustei minhas filhas e minha esposa. Tive sorte porque elas sempre foram muito amorosas.
       Choravam e me levaram ao médico. Alzheimer. Doencinha triste. Eu fui me perdendo de mim. Aquele Salomão esperto foi se tornando um bobo. Não lembrava de coisas simples e precisei de tudo, raciocínio qual um tolo, necessidades variadas como um bebê. Terrível! Deprimente.
       Lâmpada apagando. Então, naquele dia eu estava deitado olhando para o teto, inerte, ninguém mais aparecia para conversar. Nos últimos anos, elas cuidaram de mim, silenciosas. Eu fiquei triste porque me sinto só, como um nada que apenas necessita de banho e comida. Eu procurava nem pensar, era nada.
Enquanto estava olhando o teto, eu senti como se estivesse flutuando e me soltei. Vi quando algumas pessoas radiantes entraram no meu quarto e sorriram.
-Simples assim?
-Bem simples. Não tinha nada a lhe prender na matéria.
       Verdade. Foi fácil me soltar porque eu não tinha intenções, mas eu nem pensava em nada, por isso, levou bastante tempo para eu me tratar e chegar a conjecturar frases simples.
       Hoje estou bem. Compreendi a necessidade deste plano.  Existem coisas que devem ser esquecidas. A enfermidade também é bênção.
       As famílias não devem se entristecer em demasia, pelo contrário, devem aproveitar a expiação dos entes queridos para se elevarem através do trabalho de doação, o trabalho edificante no Lar.

SALOMÃO
01/07/19

---------------------------Paula Alves-------------------------  



“TODOS NÓS PODEMOS NOS REERGUER E NESSA NOVA ETAPA MODIFICAR TUDO, FAZER UMA LIMPEZA NA VIDA FICANDO SÓ COM O QUE INTERESSA”

Viver de aparência ninguém aguenta. Não por muito tempo. Eu estava acostumada com vida Boa. Vim de família rica, estudei mas nunca precisei trabalhar. É impossível manter a pose quando se entra em falência financeira. E a palavra é esta mesma falência, morte. Eu perdi todo o dinheiro que bancava minha pose, mas achei que as pessoas não precisavam saber, pelo menos por algum tempo.
       Eu aproveitei minhas amizades e comecei a olhar para as pessoas de outra forma. Foi estranho como, de uma hora pra outra, o véu saiu dos meus olhos.
     Ouvi coisas que pareciam novas, me irritei com comportamentos antigos e vi que estava ficando diferente.
     O sinismo, a vaidade, a soberba, a discriminação me causavam ânsia. Sai daquele lugar que me proporcionou bons momentos, deixei aquelas pessoas que comemoravam sempre comigo e fui viver de forma diferente.
     Arrumei um emprego, um bom emprego porque eu tinha diploma e conhecia muita gente, fui franca e me dediquei com entusiasmo.
     Vendi minha bela casa, paguei minhas dívidas, comprei um apartamento e vivi de forma modesta. Gostei de mim, de minhas novas perspectivas, de um novo começo.
     Agradeci tudo de bom que eu possuía, fiz novas amizades. Amigos sinceros, bem humorados de bom papo. Então, encontrei o Marcelo que foi um homem simples, de beleza discreta e um amor enorme.
     Eu vivi com ele momentos maravilhosos!
     Acho que todo mundo pode se reinventar. Todos nós podemos nos reerguer e nessa nova etapa modificar tudo, fazer uma limpeza na vida ficando só com o que interessa.
     Ao invés de se desesperar, ver as novas possibilidades e trabalhar ativamente. Grata.

LILIANE
01/06/19



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