Cartas de Julho (16)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“MEU CONSOLO É SABER QUE OS QUE SE AMAM ESTÃO SEPARADOS POR UM BREVE INSTANTE”

No fundo acho que todos nós somos iguais. Todas as crianças ambicionam as mesmas coisas. Tudo tão simples e fantástico. Eu tinha dez anos e não podia me aproximar de divertimentos corriqueiros com aqueles que tinham a mesma idade. Vi um menino tomando um picolé e quase morri de vontade. Minha mãe percebeu pelo meu olhar. Ela ficou confusa, mas estava sempre muito amedrontada com o que poderia acontecer com minha frágil saúde. Eu internava facilmente, tudo era motivo para passar mal e ela sofria muitíssimo. A aflição dela, apesar de tentar demonstrar controle e calma, me dava a certeza do seu grande amor por mim. Eu sentia que ela se desesperava, tentava fazer tudo por mim. Nunca conheci ninguém como ela.

Eu me lembro que, antes de reencarnar, ela disse que faria tudo para que eu não sentisse a expiação como um tormento. Ela informou que era do seu desejo que eu pudesse resgatar todos os débitos e ela seria como uma tutora afetuosa a me fazer sorrir, apesar do sofrimento. Ela fez muito mais do que isso. Eu vi as lembranças dela, após ter feito meu tratamento perispiritual. Quando eu estava internado, por diversas vezes, ela pediu a Deus que, se fosse possível, transferisse à ela toda minha dor e padecimento. Nunca imaginei que alguém pudesse amar desta forma. Para mim, foi um valioso exemplo de abnegação e altruísmo, entrega total por outro ser. Sei que existem mães que não conseguem chegar neste ponto do amor, mas aquelas que se permitem amar inteiramente são capazes de dar a própria vida pelo filho sem nenhum pingo de arrependimento. Só sabe quem sente. Eu nunca vou me esquecer do afeto dela. Do chamego, da aproximação, nunca teve nojo, nunca pensou no seu cansaço ao me ver necessitar dela. Nem tenho palavras para agradecer a Deus.

Depois disso, eu compreendi como é grande o amor d’Ele por todos nós. Eu expiei por débitos contraídos. Necessidade de padecimento do corpo para abrandar o espírito, mas mesmo assim, Ele se mostrou Pai amoroso e me colocou um anjo que depositou todo amor. Ela me apoiou, me fez sorrir e nunca me deixou sentir solidão. Sem ela eu teria me revoltado com o que eu tinha de limitação, mas ela não permitia o menor pensamento de esmorecimento e falta de fé. Devo tudo a minha mãe Leonor. Tudo a você minha amada que permitiu minha redenção. Peço que seja possível o nosso reencontro porque a saudade é forte demais. Meu consolo é saber que os que se amam estão separados por um breve instante.
INÁCIO
28/07/19

-------------------------------------------Paula Alves----------------------------------------

“EU ESCOLHI MAL, USEI O LIVRE ARBÍTRIO INCORRETAMENTE, ACIONEI A LEI, SEI QUE COLHEREI”

Eu a amava e errei muito. Não tem como mensurar o tamanho do meu arrependimento. Comprometi tudo o que almejamos. Minha esposa traçou planos comigo e se responsabilizou em ter família. Falamos tanto que poderíamos avançar juntos. Estávamos inclinados a fazer o bem a tantos afetos. Decidimos nos ajustar com tantos desafetos. Ela se esforçou e aprendeu tanto, enquanto estávamos aqui. Ela se tornou uma boa pessoa e eu sabia que ela iria me ajudar para que eu não me aproximasse novamente do mal, mas eu me iludi. De novo o desejo e a ilusão. Eu a abandonei. Incrível como a matéria turva o nosso pensamento. Aqui tudo é mais facilmente esclarecido. Aqui conseguimos compreender nossas responsabilidades.

Eu deixei tudo para trás e não posso culpar o esquecimento temporário. Se eu tivesse me tornado um real homem de bem não teria cedido aos encantos do corpo escultural e das palavras doces. Minha esposa precisava de mim e eu a abandonei com duas crianças por causa de outra mulher. Beatriz deixou qualquer bocado de orgulho de lado para me procurar. Sabendo que eu estava envolvido com aquela que fora minha amante, ainda assim, pensou nos filhos e no nosso compromisso. Ela foi atrás de mim e eu ainda a humilhei, dizendo que ela não se interessava pela vida de casal como antes, que ela não se cuidava tanto quanto antes e, por isso, eu me interessei por uma mulher que me atraiu o interesse natural de homem. Eu tenho vergonha do que fiz minha esposa sentir. Vi as imagens novamente. Eu precisei vê-las para refletir melhor sobre meus erros. Para entender como é que nós ferimos sem querer. Somos cruéis com quem nos ama. Ela se sentiu velha, gorda e feia, rejeitada, infeliz, foi embora. Não respondeu nada, saiu chorando e voltou para casa. Viu nossos filhos pequenos e sofreu a dor da separação, assim como, o temor do futuro, temor da fome. Mas, ela ainda conseguiu se superar.

Eu escolhi mal, usei o livre arbítrio incorretamente, acionei a Lei, sei que colherei, mas Beatriz, usou meu deslize para se alavancar rumo ao desenvolvimento. Ela não se desesperou. Ela orou, teve fé. Usou a inteligência formidável e disciplinada para produzir arte em casa. Em meio às travessuras infantis, ela produziu arte que sustentou a família. Nunca se entregou às futilidades, às leviandades. Sempre pensando nos filhos que desabrocharam na maturidade de pessoas conscienciosas e justas. Ainda me assistiram na necessidade material e doaram o afeto que eu não merecia receber. Eu tenho vergonha de tudo isso. Me arrependo de tê-la abandonado e nem sei como poderei olhar nos olhos dela. Agora que recordamos tudo, eu penso que meu débito com ela é ainda maior. Não sei como poderei resgatar tudo o que um dia houve entre nós.
JOSÉ CARLOS
28/07/19

--------------------Paula Alves-----------------------

“SEM AJUDAR O PRÓXIMO A GENTE EMPACA NA EVOLUÇÃO”

Eu pensei que estava fazendo o meu melhor. Nunca imaginei que as pessoas esperavam tanto de mim. Enquanto estava encarnado, eu sempre fui trabalhador, sério e comprometido com minhas responsabilidades civis, mas como todos, chega um momento em que o corpo pede o repouso necessário. Além disso, eu achava natural ter um tempo para os amigos e para os divertimentos. Eu não poderia imaginar que seria uma obrigação doar tempo a todos aqueles que me solicitaram auxílio fora do meu horário de expediente.

Fui enfermeiro. Eu poderia realmente, ter sido mais solícito com muitos que necessitavam de cuidados e que não podiam me pagar, mas o mundo me fazia acreditar que isso era injusto com todo o meu esforço acadêmico. Eu merecia receber pelo trabalho que eu me propunha fazer. Nunca imaginei que as pessoas têm obrigações umas com as outras, faz parte da Lei. Eu podia ter ajudado muitos, inúmeros e, ainda assim, ter descansado e ter me divertido, é verdade. Sempre me achei uma pessoa fora de série. Eu acreditei que fosse bondoso, ético, respeitável no meio de outros que convivem numa sociedade produzindo o mal. Mas, as imagens que eu vi, as imagens que estão presas à minha consciência são de um homem egoísta, controlador e calculista. Eu fazia meu trabalho, apenas pensando em quanto iria lucrar. Nunca foi um ato nobre e generoso porque eu sempre estive à frente de todos os pacientes. Só ajudava, se não me causasse pesar e me trouxesse ganho material.

Eu não poderia imaginar que os seres celestiais me viam desta forma e compreendo porque fui arremessado para um local de padecimento junto com materialistas.

Hoje, eu entendi. Não sei como seria possível reverter esta situação. Eu não sei amar o próximo, eu não sei servir ninguém. Tive acesso a tudo e me lembrei do meu sentimento, das minhas intenções. Eu também me lembrei das diversas oportunidades que caíram em minhas mãos. Oportunidades que teriam me elevado e eu recusei porque não teria retorno financeiro. Todos devem se preocupar com isso.

Será que você é realmente importante na vida de alguém?

Quantas pessoas você já beneficiou pelo simples fato de ser útil, sem interesse de qualquer natureza?

Sem ajudar o próximo a gente empaca na evolução.
TOBIAS
28/07/19

-----------------------------Paula Alves-------------------

“SE EU SOUBESSE O QUE SOFRE QUEM MALTRATA CRIANÇA...”

Era um cargo incrível. Achei que seria muito burra se recusasse, mas eu nunca gostei de crianças. Elas sempre me irritaram. Mas, eu não podia perder aquela oportunidade, então, aceitei o cargo me comprometendo em ter a maior paciência para que pudesse aproveitar aquela promoção na carreira. O problema é que minha aversão ia além dos limites intelectuais. Elas me tiravam o juízo e eu pensava coisas terríveis. No início, ficava apenas no pensamento, uma elaboração cruel do que poderia ter sido, eu ficava satisfeita em imaginar, mas notei que eu estava mais irritadiça e a paciência desapareceu.

Atrai seres espirituais que se compraziam com o mal. Comecei a beliscar e gritar sem que ninguém percebesse. Ainda não sei como conseguia ser tão dissimulada. Na frente das mães eu era um doce. Elas entregavam seus filhos para mim e não entediam porque choravam tanto em me ver.

Já faz muito tempo que estou convivendo com tudo isso. Se eu soubesse o que sofre quem maltrata criança... Atraí em vida uma sina terrível de atrair homens que me feriam. Nunca tiveram paciência comigo, me exploravam e me batiam. Parecia que tinha o dedo podre. Qualquer psicólogo poderia argumentar que eu judiava das crianças porque era agredida, mas era bem o inverso. Os homens eram como a aplicação da minha sentença. O mal só atrai o próprio mal. Todos nós podemos escolher o bem. A escolha te coloca no caminho da elevação ou da destruição. É escolha sua. Eu fazia maldade e colhia a maldade.

Nunca entendi, vivi na cegueira das minhas próprias ações. Fiquei tão cheia de mágoa e revolta. Logo perdi o emprego por justa causa porque uma mãe atenta e dedicada acabou comigo. Foi um escândalo! Elas queriam me linchar, mas eu fugi. Nunca tive paz. Aquilo ficou tão impregnado em mim que quando desencarnei, depois de uma vida de deslizes, erros e solidão, eu fui diretamente encaminhada por minha consciência, para o lado escuro do mundo espiritual. Corria dos justiceiros, fui torturada. Eu achei que não era para tanto. Eu sofri muito mais do que fiz sofrer, mas após anos de indignação, eu solicitei amparo e desejei a reforma. Eu entendi que errei. Me mostraram aqui o quanto a criança é ser protegido por Deus. Quando a Lei é acionada e um Espírito em corpo infantil passa por um tormento, aquele que o prejudicou atrai para si uma carga terrível. Ninguém deve mexer com criança. Ninguém! Nem em pensamento prejudicar uma criança porque é ser que é indefeso. Criança é imagem de anjo.

Só alguém perverso para fazer o mal. Eu já sei que acionei a Lei e atraí para minha futura existência um resgate lamentável como criança. Aí sim. Só sentindo na pele para entender o sofrimento da outra pessoa. Eu peço a Deus que possa receber o acolhimento de genitores que me acompanhem, mas nem disso, tenho certeza. Tudo pode acontecer. Por que eu produzi o mal?
RAFAELA
28/07/19
             ------------------Paula Alves----------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“OS PAIS DEVEM APROVEITAR SEUS FILHOS TODOS OS DIAS PORQUE CRIANÇA CRESCE”

De repente, me vi crescido. As pessoas me olhavam diferente como almejando que eu me comportasse diferente. Eu deveria me apresentar para o mundo e demonstrar que eu já sabia dos passos que deveria seguir. Eu deveria mostrar à eles que tinha ideais e objetivos bem determinados, porém, eu não tinha estas determinações. Ainda sentia muito sono que me impediam de pular cedo da cama. Eu gostava de jogar vídeo game, mas não era porque eu não queria fazer nada ou era um vagabundo. Eu só era um jovem que não sabia o que devia fazer da vida. Eu não tinha decisões, ao contrário, tinha inúmeras dúvidas que faziam meu pai bradar alto pela casa.

Será que ninguém nunca passou por isso?

Sempre pensei que os adultos deviam compreender os mais jovens, justamente porque já passaram por esta fase, mas parece que eles se esquecem do que viveram na juventude ou será que se envergonham? Sei lá. Acho que seria bem normal se eles se lembrassem de suas dúvidas e temores. Fazia tão pouco tempo minha mãe ainda me colocava para dormir com canções e, de uma hora para outra, eu deveria ser adulto, mas eu não me sentia como adulto. Acho mesmo que este negócio de envelhecer é muito difícil. Parece que ninguém está preparado para mudar de fase. Eu não queria ser adulto, mas sendo jovem estava bem difícil por tantas cobranças. Eu devia raciocinar rápido, decidir, argumentar, devia escolher meu futuro.

Quando poderia imaginar que já havia decidido tudo aqui, antes de reencarnar?

Um plano que fazemos antes de nascer, pode? Nada ia me impedir de alcançar o plano, a não ser que eu desistisse. E foi o que aconteceu. Eu me cansei de pensar. Eu me deitei e não quis levantar mais. Parece que minha cabeça ia explodir com tantos questionamentos. Meu pai era médico e sempre me imaginou seguindo os seus passos, mas eu não sabia se era isso o que eu queria. Ele não quis conversar. Acho que eu o irritei. Queria que a vida fosse mais leve. Que eu pudesse passear um pouco ou arrumar uma namorada. Sei lá.

Os pais podiam tentar pensar como o filho que é jovem. Não é tudo sinal de irresponsabilidade, entende? Tudo tem o seu tempo. Se meu pai já alcançou tantas comprovações aos cinquenta anos, por que eu tinha que saber de tudo aos dezesseis? Seria um homem maduro aos dezesseis? Como?

Deviam lembrar de como era a vida deles com a mesma idade do filho. Acho que assim dá para alcançar a indulgência. Eu não tenho raiva do meu pai. Mas, sinto arrependimento pelo que fiz minha mãe passar. Ela sofreu demais. Eu desencarnei porque desisti. Eu me entreguei. A gente precisa ter vontade de viver para continuar vivo. Eu não fiz nada, não me suicidei. Eu só parei de tentar e comprometi meus rins. Foi tão rápido. Meu pai também sofreu. Ele percebeu que ser médico não impede a morte de um ente querido. Na hora da morte todos são iguais. Rico, pobre, homem ou mulher, negro ou branco. Não importa a classe social ou o credo. Eu voltei e deixei meu pai arrasado. Ele tinha planos para mim, mas eu não tive coragem de enfrentar. Aí, ouvi o pensamento dele naquela visita que me permitiram fazer ao antigo lar. Ele se perguntou se não era melhor ter o filho em casa, mesmo que ele não fosse o que o pai desejou. Meu pai me amava. Acho que ele ia aceitar qualquer coisa de mim. Mas, não deu tempo de me falar ou de demonstrar. A mensagem que eu deixo é que os pais devem aproveitar seus filhos todos os dias porque criança cresce. Filho é sempre filho, mas o tempo passa rápido e as pessoas vão sentir falta das traquinagens e gritaria que enche a casa. É bom ter família e entender que o filho é um ser individual que é independente do pai e da mãe.

Ninguém sabe de verdade qual é o plano que Deus traçou para o seu filho. Os pais devem se esforçar para que o filho fique no traçado do bem para chegar a Deus, mas sem ficar deprimindo o filho para ser o seu sucessor, o seu modelo. Cada um tem a sua vida que é única. Tem que soltar o filho para bater as asas. Acho que meu pai pensou em tudo isso depois que eu retornei para cá, mas não foi culpa dele.
ROGÉRIO
21/07/19

----------------------------------------------Paula Alves--------------------------------


“SE A GENTE TIVESSE NOÇÃO DE QUE TODAS AS NOSSAS DECISÕES SÃO FUNDAMENTAIS PARA O NOSSO PROGRESSO”

A gente brigava demais porque eles achavam que eu tinha quer ser igualzinha a minha irmã. A Olívia era muito linda e educada. Ela era a melhor em tudo, eu não podia passar minha vida toda competindo com ela. Eu não queria competir. Eu só queria buscar o meu espaço no mundo. Sabe, viver a sua vida, ser feliz? Era isso que eu queria. Já tinha percebido o quanto eu gostava de crianças e queria lecionar. Meu pai ficava me influenciando e botou defeito até no meu namorado que não tinha capacidade de me dar o que eu merecia. Ele não estava me pedindo em casamento. Era um namoro bom, tranquilo e eu gostava muito do rapaz, mas ele era humilde e isso irritava meu pai.

São tantas questões supérfluas que envolvem as pessoas. Perder tempo com bobagens sempre me irritou. Eu tentei viver em paz, mas minha família demonstrou imenso desprezo por Milton e isso fez com que eu me revoltasse. Se pudesse prever o que aconteceria, nunca teria cometido tantos erros. Saí de casa nervosa, fui para uma festa onde rolava de tudo. Eu fiz a pior afronta para provar que eu era dona da minha vida. Não culpo minha família por meus deslizes. Deus coloca afetos e desafetos no núcleo familiar para que surja o amor, para que as pessoas que têm pontos de vistas diferentes possam conviver em paz, se respeitando.

Eu me tornei uma usuária de drogas e naquela noite não voltei para casa. Eu não queria mais voltar. Eu me sentia tão diferente deles. No início, logo na primeira infância, quando percebi o quanto minha mãe me indignava, eu me culpei pelo sentimento em questão porque é feio nutrir mal sentimento pela própria mãe. Mas, a coisa só foi aumentando. Eu não tinha como ter uma explicação para o que eu estava sentindo, me mantive silenciosa e nunca falei para ninguém o quanto minha família me dava repulsa. Porém, naquele momento, cheia de droga, resolvi seguir minha vida. Larguei tudo, deixei para traz e entendo como uma decisão ruim pode transformar tudo. Se a gente tivesse noção de que todas as nossas decisões são fundamentais para o nosso progresso, pensaria melhor antes de decidir. As pessoas pensariam melhor antes de dar uma resposta, antes de sair correndo e arriscar todo o plano. O plano é só o que importa porque é muito sofrido chegar aqui e perceber que perdeu a chance. É muito triste saber que vai ter que planejar tudo de novo e até pedir para as mesmas pessoas tentarem com você. Eu não queria que tivesse dado errado. Saí de perto deles e minha vida desandou. Drogas, rock in roll e doença.
O que mais poderia acontecer?
LICA
21/07/19


---------------Paula Alves---------------------------

“EDUCAR IMPLICA EM TER RENÚNCIA E ABNEGAÇÃO”

Eu achei que dava para ser melhor. Eu não sabia o que fazer para agradar. Fui uma pessoa que dizia sim para tudo. Tudo para agradá-los. Demorei para perceber o quanto me exploravam. Meus pais, mas foram minha maior provação. Desde pequena, me deixavam para ir a bares e chegavam profundamente embriagados, eu chorava de fome ou de frio e me ameaçavam. Apanhei tanto. Diziam que era a melhor forma de disciplinar criança.

Criança que não apanha não tem cabresto - falavam. Eu não precisava de murros para respeitá-los. Eu queria carinho, atenção, comida quente e um banho, mas não tive, muitas vezes, dormi cheia de sujeira e fome. Cresci e a casa ruindo. Logo que compreendi a necessidade de ter dinheiro, saí para fazer pequenos serviços. Quando meus pais notaram minha inclinação para o trabalho começaram a pegar meus pequenos pagamentos para comprar bebidas ou para as noitadas. Ainda bem que eu não tive irmãos para não vê-los padecer.

Fui vivendo, até que me tornei jovenzinha e arrumei trabalho numa casa de família com uma patroa que tive muita afinidade, como uma mãe me acolheu e tratou super bem. Deus sempre coloca pessoas boas em nosso caminho para ajudar na travessia difícil. Então, passei a sustentá-los. Foi uma vida estranha, sempre sofrendo por meus genitores. Pais que pareciam meus filhos. Eu não senti vontade de constituir família, já tinha meus pais para tomar conta. O incrível é que eles não notaram minhas dificuldades. Pareciam no mundo da lua. Nunca fizeram um cálculo do quanto minha vida foi insuportável por causa da forma como me negligenciaram. Os pais deviam olhar mais para os filhos que não são bichinhos que necessitam, apenas de água e comida. É muito mais que isso. Educar implica em ter renúncia e abnegação.

Eu ouvi muita gente falando que eu era uma filha maravilhosa. Eu cuidei dos meus pais até o fim e nunca os privei de nada. Chegaram a dizer que foi por causa das surras que me fizeram entender quem manda dentro de casa. Não foi nada disso. As surras me deixaram marcas profundas de abandono, indignação e humilhação enquanto criança. Eu pedia que Deus me ajudasse a passar por aquilo. Eu, com meus pensamentos infantis, me perguntava por que aqueles dois que deviam me amar, mais do que qualquer pessoa no mundo inteiro, estavam judiando de mim porque eu apanhava sem ter feito nada.

Eu queria alguém para me defender, mas quem? Eu achava que eles eram covardes porque, mesmo que eu quisesse, nunca conseguiria me defender deles. Ainda diziam que um tapinha só serve para educar, mas eles não tinham como dosar o peso do tapa que me deixou com marcas pelo corpo e arruinada do coração. Aí, quando eu cuidava deles no leito, porque adoeceram muito, eu os tratava da melhor forma possível. Não porque tivesse medo deles, mas porque nunca seria capaz de fazer alguém sofrer do jeito que eles me maltrataram. Ainda fico pensando se fizeram isso por pura maldade ou porque acreditavam que é assim que se educa um filho.
LAÍS
21/07/19

----------------------------------Paula Alves-----------------------------------
“NÓS NUNCA DEVEMOS PERMITIR QUE AS PESSOAS NOS INCENTIVEM NO MAL, MESMO QUE SEJAM NOSSOS GENITORES”
                      
Eu engravidei na adolescência e foi aí que meu inferno começou. Logo, o rapaz que eu tinha por príncipe, me abandonou. Não antes de me humilhar, me perguntando se o filho era mesmo dele. Eu era moça de tudo quando me relacionei com ele por amor. Me entreguei e fiquei grávida. Sozinha, precisei buscar apoio com meus pais e tive outro choque. Levei um tapa na cara que minha mãe desferiu, enquanto me xingava de todas as formas. Meu pai só pensava nos vizinhos e, no auge da discussão, foi ela quem falou em aborto. Minha mãe falou que suas irmãs nunca poderiam saber que eu tinha perdido a virgindade, senão diriam que ela foi uma mãe muito leviana. Naquele momento, eu apenas pensei, que ela estava sendo mais leviana dizendo que eu teria que tirar o bebê.

Eu não acreditei no que estava acontecendo. Me mandaram para o quarto e começaram a discutir como providenciariam o aborto. Meu pai estava também decidido e, por isso, eu pensei que seria melhor ir embora de casa. Peguei algumas peças de roupa e lembrei de uma tia bondosa que morava no interior. Peguei dinheiro do meu pai e sai. Minha tia sempre foi mal falada pela família por ser mãe solteira. Eu pensei que, talvez, ela pudesse me entender. Ela tinha um coração enorme e sempre me tratou tão bem. Quando me viu chegar chorando, apenas me abraçou. Me recebeu em sua casa humilde, preparou uma caminha quente e disse que eu poderia descansar em paz que depois conversaríamos. No outro dia, ela falou que havia sonhado comigo carregando um bebê nos braços. Érika disse que eu podia ficar como se estivesse em minha própria casa. Eu chorei e a abracei. Nós conversamos e demorou um pouco para os meus pais me procurarem na casa dela. Eles estavam tão preocupados com o que os outros iam dizer. Estavam tão envergonhados e eu só precisava de um apoio. Eu sabia que estava errada, mas nunca podia imaginar que tinha que passar por tudo isso como a minha provação. Cuidar de um filho sem pai. O rapaz podia ter escolhido ficar comigo, mas Deus conhece muito bem cada um de seus filhos. Quando nós fazemos planos de reajuste, Ele aproxima as criaturas certinhas para que tudo se concretize.

Meus pais também tiveram uma prova e não conseguiram ter amor o suficiente para me ajudarem. No entanto, minha tia, esta evoluiu muito. Eu fiquei com ela, depois que meus pais saíram de lá dizendo que para eles eu estava morta e enterrada. Depois que o bebê nasceu e os parentes foram nos visitar, cobraram dos meus pais uma atitude mais amorosa para comigo. Eles voltaram prontos a nos levar para casa e eu não quis. Conversei com tia Érika e ela me apoiou. A vida nunca foi fácil, mas meu filho foi a luz dos meus dias. Criança linda, um grande afeto de vidas passadas que novamente se unia a mim. Foi um presente de Deus. Nós nunca devemos permitir que as pessoas nos incentivem no mal, mesmo que sejam nossos genitores. As pessoas deviam evoluir e ir amadurecendo com o passar do tempo, com a avançar da idade. Mas, existem pessoas que se negam a caminhar para frente. Pessoas que se comportam tal como crianças mandonas, mimadas. Pessoas que, para suprir suas necessidades de ego, fazem qualquer coisa, prejudicam qualquer um sem raciocinarem o que podem causar.

Pais devem se esforçar para serem os exemplos dos filhos com seriedade e amor. Não é porque é pai que alcançou a superioridade de inteligência. Ser pai não implica em ter sempre a razão. Tem filho que pensa melhor que pai. É questão de evolução espiritual mesmo e Deus, sabendo das nossas limitações, coloca um junto do outro para trocar experiências. Coloca pessoas diferentes na mesma casa para que todos possam aproveitar e evoluir.
SUZANA
21/07/19

 ---------------------------Paula Alves-------------------------- 

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“EU DESEJO QUE VOCÊS POSSAM SE LIBERTAR”

A todos que sofrem eu só queria dizer que nos torturamos à toa, enquanto poderíamos nos envolver no bem em prol de nós mesmos.
Será que é por falta de consciência?
Será que é por excesso de vaidade ou um egoísmo fora do comum que nos cega e faz distorcer o que é de suma importância?

A cruz de Jesus ninguém aguentaria carregar, mas existem cruzes que as pessoas envergam por tolices. Culpam o Pai de coisas, pelas quais, são responsáveis. Muitos sofrem por se destruírem. Ferem o corpo, ferem a alma e Deus nunca colocaria no caminho do filho um tormento tão grande. Eu já vi gente que fere o corpo com comida. Gente que fere o corpo com bebida ou cigarro, droga injetável, remédio, tudo toxina, tudo veneno que o corpo não aguenta ingerir. Chega uma hora que o coitado se destrói tanto e a pessoa não percebe o que fez por trinta anos, atrai doença e ainda reclama.

Tem gente que fere o corpo por vaidade: faz cirurgia para tirar, cirurgia para pôr, mutilam o corpo e nunca estão satisfeitos com o que têm. Ferem para desenhar, justificando que é para ter identidade, nem percebem que todos têm suas belezas distintas e variáveis. Tem gente gorda que é bonita demais, gente magrinha que é bonita demais e tem defeitinho que vira o sinal da pessoa, o charme, a distinção. Pessoas que mudam com o passar dos anos, vão envelhecendo e adquirem rugas, expressões que, juntamente com suas nuances e entonações pessoais, as tornam encantadoras. Não importa ser igual, não tem ninguém igual a ninguém e assumir padrões é ridículo. Todo mundo que devia respeitar as diferenças físicas e tenta se sobressair ridicularizando o outro, cheio de preconceito e discriminação, cheio de maldade.

Tem gente que fere o organismo de tantas formas e fere os sentimentos, se martirizando, se culpando, assim também destrói o corpo porque também atrai doenças. Gente que se magoa, não consegue entender que devemos andar para frente, superar situação onde errou e tentar acertar da próxima vez. Fazer o possível para reparar um erro e ser melhor a cada dia, virar a página. Outros, se consomem por algum motivo e se enclausuram na dor, geram depressões, tentam se curar com medicamentos que entorpecem cada vez mais.

Ainda tem aquelas pessoas que acham que podem aguentar ser feridas por outras pessoas. Mulheres que são espancadas até a morte, homens que são humilhados. Todos que acham que podem mudar o outro, mas ninguém muda ninguém, nós podemos nos modificar se tivermos fé em Deus que nos criou com possibilidade de ascensão e nós mesmos que temos a centelha divina, podemos despertar para as verdades e para o progresso. Existem pessoas que se anulam por outras e isso destrói, aniquila. Todos podem acordar a qualquer momento. Todos podem perceber que sempre é tempo de se amarem e progredirem.

Uma forma de avançar é olhar para o lado. Enxergar semelhantes por toda parte. Trabalhar a favor do outro.

O que você ganha com isso? Num primeiro momento, você não ganha nada. Ninguém vai te agradecer porque estas pessoas estão tão adormecidas quanto você estava. Depois, você começa a ganhar uma sensação estranha e prazerosa de quem fez o bem por fazer. Pode nascer a esperança, o bem-estar. Aí, você vai perceber que todo dia quer sentir, de novo, as poderosas sensações de quem ajuda por ajudar. Você não quer dinheiro, agradecimento, nada disso, você só quer ser útil. Assim, nos distanciamos, aos poucos, de nós mesmos para sermos o todo. É quando você entende a espiritualidade. Você compreende Deus e sabe que todos os prazeres da matéria eram, de fato, ilusões. Tudo que pode se perder estava ligado aos seus tormentos porque aquilo que é bom e impalpável, isso é o que fica para sempre. É o que te preenche e te faz sentir uma alegria que eleva e faz você ser diferente de verdade porque você irradia paz e luz. Eu desejo que vocês possam se libertar. Eu agradeço por ter me livrado de minhas amarras.
LEÔNIDAS
13/07/19

----------------------------Paula Alves---------------------
“VOCÊ PODE NÃO ESCOLHER COMO SERÁ O MUNDO FORA DE CASA, MAS DENTRO DO LAR VOCÊ PODE TER TUDO O QUE QUISER”

Todos aqueles que amam veem esta necessidade de propagar o bem. Quando olhei para ela foi como se o mundo não a merecesse. Eu senti um golpe no meu coração como se antes eu nem soubesse que tenho sentimentos. A partir daquele momento, tudo mudou. Saí do berçário e fui para casa. Eu precisava pegar roupas para Mariana. Minha esposa estava linda na maternidade. Parecia uma ninfa, linda. Caminhei pelas ruas de São Paulo e vi tanto caos, tanta dor. Pensei no que seria daquela linda bebê que havia nascido. O que seria de minha filha? Eu queria um mundo melhor para ela. Queria que ela tivesse boas oportunidades e que fosse envolvida por pessoas do bem.

Nasceu um pai em mim quando olhei aquela menina. Um pai que tinha que mostrar o seu valor e fazer com que tudo desse certo para ela. Eu não sabia que dentro de mim existia tanto questionamento. Eu me deparei com um ser analítico, investigativo e filosófico. Eu precisava ser exemplo e analisei a sociedade como um lugar difícil de se viver. O que poderia ser feito? Escondê-la de tudo? Moldar minha família em padrões únicos? Mas, quantas razões eu teria para nunca ter tido filhos, se o motivo fosse evitar que ela sofresse? Muitos afirmam isso, mas a verdade é que aquele que ama planta sementes. São visionários, altruístas e abnegados. Seres que imaginam que o politicamente correto pode ser observado e seguido.

Numa corrente proveitosa de boas ações pode-se despertar o mundo e dar início a uma geração de benfeitores. Por que não? Eu precisava sonhar para que tudo desse certo. Para que eu pudesse encaminhá-la sem escondê-la, sem temor. Eu confiei e segui meus instintos. Os anos que se passaram foram cheios de modificações e perdas. Eu me transformei para Manuela. Minha garotinha merecia um pai sóbrio, sereno e consciente. Eu não tinha posses, mas tinha amor de sobra. Me afastei das leviandades e perdi muitos que me acompanhavam em festas e bebericos. Eu me tornei um chato, um esquisitão em benefício da minha família.

 As perdas não fizeram falta porque eu as tinha comigo e depois de alguns anos ganhei um novo presente, Renato. Eu fui muito feliz. Meus filhos me fizeram ser uma pessoa melhor. Compromisso com a verdade, tentei levar a moral para o meu lar e como recompensa fui muito bem tratado. Tudo o que fiz, recebi. Você pode não escolher como será o mundo fora de casa, mas dentro do Lar você pode ter tudo o que quiser. Eu escolhi um ambiente de paz e amor. Só houve esperança e afeto. Após cinquenta anos de jornada, recebi outros presentes: meus netos amados que vieram para me lembrar das brincadeiras e gargalhadas. Existem pessoas que falam que a vida é um viver sem graça. Muitos, não encontram o sentido da vida. Eu digo que viver é sentir. Quem não sente amor não tem como entender nada. Não tem ideia do porquê fazemos esforços pelo bem da família. Tem que se envolver! Sou grato.
VENÂNCIO
13/07/19

------------------------Paula Alves----------------------

“EU ACEITEI, MAS NÃO FOI DO FUNDO DO CORAÇÃO”

Claro que eu olhava para ele e não lembrava de nada. Eu sentia uma raiva que me fazia suar. Desde pequeno, não conseguia ficar perto dele. Eu até tremia quando ele me chamava. Minha mãe não entendia porque ele era calmo e controlado, nunca me deu um tapa e, mesmo assim, eu nem queria chegar perto dele. Só era assim, com meu pai. Eu era cordial para minha mãe e com a Bete, eu me dava bem. Sempre fui educado e tranquilo, mas meu pai me irritava até quieto. Eu vivi mais de quarenta anos tentando entender por que a gente nunca se deu bem. Cheguei a ficar com pena quando percebia que ele tentava se aproximar de mim. Buscava puxar conversa, fazia tudo o que ele sabia que era do meu gosto. Me deu o carro dele e eu rejeitei. No momento da morte dele, veio o sofrimento. Ele estava se enchendo de feridas, tinha dor para todo lado e eu fiquei com dó. Eu não sentia carinho, mas também não queria que ele sofresse, era meu pai.

Desejei que ele fosse socorrido, que ele não sentisse mais a dor. Eu me aproximei dele e pedi desculpas. Meu pai estava fraco, debilitado, sofreu com cirrose, mas nunca ficou no bar bebendo, a gente nem entendia. Eu me aproximei e meu pai falou que ele que tinha que me perdir perdão. Falou cansado que eu podia perdoar porque ele me amava. Eu me arrependi por não ter sentido o que ele queria, mas cada um só dá o que tem. Eu nunca tive amor para dar para o meu pai. No fundo era como se ele fosse um estranho. Eu preferia que ele não estivesse na minha casa. Muitas vezes, desejei que minha mãe fosse embora e abandonasse ele, mas ela não tinha motivos, ele era bom. Eu sempre me perguntei o porquê. Sempre me achei ruim por causa disso e vim descobrir tudo aqui.

Se eu tivesse algum entendimento de que isso tudo era possível, talvez, fosse mais fácil me entender e entender o meu pai. Quem sabe tivéssemos vivido melhor, se soubéssemos como as coisas funcionam deste lado. Eu nunca imaginei que a gente não morre, que a gente vive muitas vidas para poder progredir. Eu não tinha como saber que em outra vida ele tinha sido meu pai e tinha me maltratado tanto. Como eu ia saber que, como meu pai em outra vida, ele bebia o tempo todo e espancava a família inteira?

Como eu ia saber que ele me humilhava por todo lado e me castigava à toa? Eu criei uma revolta dentro de mim que persistia, além da morte do corpo. Na espiritualidade, meu pai entendeu o quanto errou. Ele se esforçou para se reformar e me pediu para tentar de novo. Eu aceitei, mas não foi do fundo do coração. A revolta ainda ardia dentro de mim e eu tentei castigá-lo com a indiferença que judia. Foi um revide e eu me arrependo por isso. Ele se converteu de verdade, conseguiu expurgar com a doença, com as mazelas físicas e meu pouco caso. Eu preciso me tratar. Preciso me elevar para que possa mostrar a ele que podemos ser amigos. Já tratamos do novo plano. Seremos irmãos. Nossos pais padecerão e ele, como o mais velho, me encaminhará. Eu confio. Ele já mostrou lealdade. Vou me esforçar para ser grato e companheiro. Tenho fé. Me ajuda a harmonizar os sentimentos. 
WILSON
13/07/19


---------------------------Paula Alves------------------------

“O QUE NOS MOVE DEVE SER A VERDADE”

Eu não sabia ler. Trabalhava na casa de uma família rica e tirava o pó de exemplares lindos. Capas de todos os tipos. Alguns ilustrados, outros com letras douradas. Eu ficava me perguntando o que continham. Ficava curiosa para decifrar as letrinhas, mas como? Sempre via que a menina Amélia lia e sorria. Ela era garota e sonhava acordada. Eu ficava imaginando que pudesse se tratar de histórias de amor. Ficava deslumbrada imaginando o que ela estava lendo e passei a inventar. Em minha mente exista história para tudo. Romance, mistério e passei a contá-las para as crianças. Os irmãos de Amélia riam com meus contos travessos. Até que Amélia percebeu em mim algo de bom e ofereceu-se como minha professorinha. Eu aceitei, fiquei tão feliz. Não pensei que aprenderia tão depressa, de fato, estava tudo em mim.

As letras corriam saltitantes em minha memória e, em poucos meses, eu estava lendo. Foi aí que despertou a vontade de escrever. Quanto fascínio! Eram histórias simples sem a menor pretensão de despertar qualquer coisa em quem quer que fosse. Eu escrevia para mim, mas Amélia adorou e mostrou para um amigo de seu pai que resolveu publicar. Como podia uma semianalfabeta como eu virar escritora? Deus nos conduz por caminhos que desconhecemos. Minha vida se transformou e foi muito divertida, muito maravilhosa e sempre inacreditável. De doméstica a escritora. Fui muito feliz. O que nos move deve ser a verdade. A nossa verdade.

Em cada um a sua essência, a sua luz. Quando a luz que estava escondida irradia não tem como saber até onde pode resplandecer. Podemos achar, com a maior simplicidade, que aquilo que fazemos só interessa a nós mesmos, mas somos seres comuns. O que nos interessa, sempre interessa mais alguém. O que serve para autoajuda, também pode ajudar outras pessoas. E é isso que Deus faz. Ele usa uns para beneficiar e atingir outros porque fazemos parte da Humanidade. Todos podem resplandecer. As pessoas, de forma geral, se viciam com o que não presta, o que tolhe as emoções e estimulam os prazeres e a insanidade, mas todos querem ouvir sobre coisas boas. Todos desejam ver o bem. Todos necessitam ser amados e quando leem mensagens que impulsionam, divulgam.

É proposital a divulgação. Serão estimulados por todos os lados. Para que o bem se propague. Eles têm que saber que podem ser inteiramente bondosos. Eles devem saber que só o bem pode triunfar e somos criatura divinas. As pessoas têm jeito. O mundo tem salvação. Todos juntos podem avançar muito mais rápido, se tiverem fé nos homens. Eu creio!
LURDES
13/07/19
-------------------------------------------Paula Alves------------------------------

 
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“QUEM NÃO SENTE NA PELE NÃO TEM COMO SE COMPADECER”

     Eu ficava no estacionamento e pedia por moedas. Às vezes, tinha quem desse notas e eu ficava bem feliz porque sabia que poderia levar mais coisas para casa: pão, leite. Mas, aí veio o frio. Eu não podia deixar de ir pra lá porque sempre levava alguma coisa pra casa e isso ajudava minha mãe. Ela nunca me pediu pra ir pedir esmolas, eu que queria ajudar de algum jeito.

Com o frio senti que a nossa vida era extremamente difícil porque o frio dói. Sei que também doía pra minha mãe porque ela lavava roupa e a água no frio parecia congelar a gente. Coitada da mãe. De saia e chinela, lavando roupas pra fora. Nunca reclamou! Eu fui para o estacionamento e vi algumas coisas que me fizeram pensar que as pessoas não tem obrigação de saber o que a gente sente e como a gente vive. Tem gente que adora o frio, isso deve ser porque eles sabem aproveitar o frio né? Acho que quem adora o frio não passa frio de jeito nenhum. Umas mulheres com botas e blusas fofinhas. Homens bem vestidos com casacos de couro não têm frio. Sei que vão para regiões onde o frio impera e lá são felizes, vão atrás do frio e seus divertimentos. Eu aprendi com a mãe a não reclamar, não é isso.

Eu ia para o frio ver se arrumava um dinheiro para comprar comida, mas eu sentia o frio me castigar. Não tinha um sapato, nem meia, nem blusa para me gasalhar. Vi uma senhora apontando para mim e ela chegou pertinho e perguntou se eu aceitava um agasalho, eu nem acreditei. Quando coloquei aquela blusa foi bem estranho. Ela era tão quente que meu corpo relaxou dentro dela, nem sei explicar, mas foi muito bom. Então, eu compreendi que ela olhou para mim e conseguiu perceber o que seria melhor para mim naquele momento, ela tentou me ajudar e me deixar bem, mas a maioria das pessoas que estavam por ali nem mesmo me viam, elas estavam preocupadas com outras coisas, ninguém nem via que eu estava passando frio, sofrendo.

Tinha gente que dizia que eu era um moleque de rua e que os seguranças deviam me tirar dali porque causava má impressão no local. Tinha quem ficava com medo de mim, diziam que eu era marginal. A maioria era indiferente mesmo. Quem não sente na pele não tem como se compadecer. É por isso que a maioria não ajuda ninguém porque não vê o outro. Eu fiquei muito mal com o frio, a blusa que ela me deu ajudou bastante, mas logo veio a pneumonia e a dor era terrível. Eu fiquei com muita pena da minha mãe porque ela se culpou. Ela nem conseguiu pensar que eu tinha dia para voltar pra cá. Eu e todos.

Todo mundo só volta no dia certo mesmo. Eu voltei e ainda penso muito nela, no sofrimento da vida de pobre. Eu fico pensando que as outras pessoas não têm nada a ver com nossa vida difícil, mas se quisessem fazer o bem e tornar tudo um pouco mais fácil poderiam ajudar. Se quisessem poderiam fazer o bem. Eu ouvi uma moça bonita dizendo que, as pessoas que se esquivam de fazer o bem, têm responsabilidade com a Lei. Ela me explicou que não é ruim, apenas aquele que faz o mal, mas quem poderia fazer o bem e não faz, também erra e muito. Queria que as pessoas pudessem abrir os olhos e enxergar as verdades da vida.
RODRIGO­
06/07/19

--------------------------Paula Alves-------------------------

“AS PESSOAS DEVIAM SE ESFORÇAR MAIS PARA NUTRIR SENTIMENTOS ELEVADOS”

Eu escolhi produzir o mal no meu lar. Não vou culpar minha esposa, ela teve seus motivos. Eu me casei com Vilma em sua mocidade, ela tinha muitos sonhos e entusiasmos. Conforme o tempo passou, fui me mostrando na íntegra e ela se decepcionou. Eu nunca fui romântico, acho até que era grosseiro, rústico. Não sei se um dia vou conseguir demonstrar meus sentimentos. Eu nunca falei de amor, nem agradeci todas as coisas que minha família fez por mim. Ela queria carinhos e palavras doces, e eu só queria aliviar meu desejo de homem. Sem carícias ou delicadezas, apenas o momento do prazer.

Ninguém nunca me falou que eu deveria tratar as mulheres de outra forma. Achei que fosse só um ato como tantos outros e, com isso, pudéssemos aumentar nossa família. Ela chorava e eu não sabia o que fazer. Eu a amava do meu jeito, não soube como expressar toda minha gratidão pela mulher especial que sempre foi. Aos poucos, ela foi me rejeitando e eu não saberia o que dizer. Senti que ela não queria mais que eu encostasse nela e não queria ser deixado de lado, também não quis ouvir suas franquezas, por isso, nunca propus uma conversa.

Para satisfazer meus instintos, eu simplesmente me envolvi com outra mulher, mas eu nunca a amei. Tivemos momentos agradáveis e só, mas minha esposa nunca poderia entender e eu a entendo. Na época, nem pensávamos como seria se a esposa arrumasse outra pessoa, mas se isso fosse possível, eu não suportaria. O fato é que o mundo era muito machista. Nós como homens podíamos tudo e elas eram submissas e toleravam nossos impulsos de autoritarismo. Vilma descobriu minhas traições, ela me olhou com ira. Nunca mais falou comigo de forma amistosa, ela me evitava. Isso criou um abismo no meu lar. Se eu soubesse disso, nunca teria cometido este erro. Depois de anos, eu já estava velho e doente, precisei de cuidados para tudo e ela nunca me abandonou, mas jamais me olhou com o amor de antes. Eu era um peso para ela que me alimentava e banhava, mas por obrigação e com imenso pesar. Compreendo que eu acabei com aquele amor e o sentimento terno que ela nutriu por mim. Tive a oportunidade de ouvir seus pensamentos no meu velório e me entristeci muito porque tive a certeza de meus erros com ela. Eu me arrependi doutor. Se pudesse voltar atrás, eu tentaria fazer diferente. As pessoas deviam se esforçar mais para nutrir sentimentos elevados. Reprimir as paixões também quer dizer controlar as necessidades sexuais.

Os desejos não podem se sobrepor ao respeito, à integridade física e moral e às necessidades do próximo, mesmo  que sejam afetivas. Eu errei, fui egoísta, só pensei em mim e nos meus instintos. Mas, se nós dizemos que já evoluímos um pouco, por que nós não controlamos estes instintos animais?

O primeiro passo para a verdadeira evolução é controlar os instintos e adquirir melhores sentimentos. Estou pedindo à Deus e aos instrutores que me deem uma nova chance com a Vilma para que eu possa provar para nós dois o quanto melhorei e me proponho estudar até lá para não falhar.
SEVERINO
06/07/19

------------------------Paula Alves-------------------------


“A HUMANIDADE É UMA GRANDE FAMÍLIA DO SENHOR”

Eu não queria ficar. De todos os lados eu tinha informações que me certificavam o quanto eu não fazia parte daquele lugar. Aquelas pessoas não tinham nada a ver comigo. Desde cedo, minha mãe mostrava claramente o quanto me detestava. Ela me contrariava em tudo. Nós não conseguíamos conversar e eu queria paz, mas ela nunca existiu. Eu tinha mais três irmãos que eram queridos e valorizados. Parecia que eles sabiam fazer tudo certinho e meus pais os elogiavam, mas eu era toda errada. Nós divergíamos em todas as circunstâncias. Parecia que eu estava lá por insatisfação e eles me criavam por obrigação. Achei que fosse adotada, mas eu era a cara da minha mãe. O tipo sanguíneo batia, enfim, eu era mesmo filha deles.

Eu fazia parte daquela família de forma biológica, mas não tinha nada a ver com eles e seus padrões estranhos de viver. Eles queriam ser vistos, queriam mostrar o quanto eram bondosos e especiais. Eu só queria viver minha vida e achar meu caminho no mundo, mas, aos poucos, a casa e vida deles passou a me sufocar. Eu encontrei nas drogas uma fuga temporária para viver meu martírio. Minha mãe percebeu uma mudança súbita no meu comportamento, mas eu tentava fugir dela. Me trancava no quarto e ouvia rock até que todos estivessem bem longe dali. Hoje compreendo o quanto fui imprudente. Eu fumei muito, bebi demais e injetei substâncias que me fizeram alucinar, mas não mudaram minha vida. Saí de casa, me uni a pessoas que me deixaram uma carcaça humana e depois que desencarnei ainda fui peregrinar no umbral. Terra de sofrimento onde me vi cercada de delinquentes e suicidas. Todos como eu, entorpecidos, malvados. Até que eu me cansei de correr e gritar. Eu me sentei no meio da lama, chorei cansada e vi uma luz. Aí eu dormi e acordei neste hospital. Eu me lembrei de uma fase onde todos eram meus serviçais. Toda minha família me servindo num lindo palácio e eu os maltratava tanto.

Eu compreendi que me uni a eles pelos laços da humilhação e do desespero. Eles me receberam na família, mas não puderam me aceitar como um dos seus. Disseram que me receberiam, mas não puderam perdoar de forma sincera, por isso, eu me senti rejeitada, eu fui mesmo. Isso não justifica o mal que fiz para mim, aniquilei meu organismo e desencarnei vítima de suicídio indireto. Tenho consciência disso tudo agora e me arrependo demais, mas pergunto onde estão os meus?

Eu tenho alguém que se preocupa comigo?
Eu tenho um grupo de afins?
Eu sinto falta de afeto sincero. A moça bonita me respondeu que ninguém está sozinho. A Humanidade é uma grande família do Senhor. Ora somos pais, ora filhos, uns vão e outros vem para que possamos formar núcleos novos e fazer nascer o amor em todos os corações, mas existem os afins. Eu iria encontrar um afim, mas antecipei meu retorno e agora vou ter que aguardar até que todos desencarnem para formarmos novos planos reencarnatórios e possamos prosseguir. Eu sinto muito.
SOLANGE
06/07/19

--------------------Paula Alves---------------------

“QUERIA QUE TODO MUNDO SOUBESSE COMO TEM QUE VIVER DE FORMA SIMPLES E PENSAR NA MORTE PRA VIVER MELHOR A VIDA”

Eu estava iluminando para ele cavar e só pensava na hora de terminar o serviço para ir para casa. Eu queria tomar um banho e encontrar a Maria. Ela era tão linda e tínhamos planos de casar. Eu estava falando para o Estevão o quanto eu seria feliz com ela e ele ria. O Estevão já tinha família formada, uma esposa e dois filhinhos. Ele era um bom homem, trabalhador, justo, fiel, era um ótimo pai.

Quando eu percebi já estava todo sufocado com aquela terra. Quando a gente vai para um trabalho destes nunca fica pensando que tudo vai desabar. Tem gente que pergunta se a gente não sabe que é perigoso, mas não é como nas cidades grandes, a gente pega o serviço que aparece e isso era tudo o que dava para fazer. Eu sonhava com a minha casa junto com a Maria, mas sabia que era o fim no meio de toda aquela terra. Eu chamei o Estevão e não ouvi nenhum gemido, soube que ele estava morto e eu preferi estar morto do que estar desesperado no meio do barranco. Eu nunca quis morrer, a vida não era boa, mas morrer?

Quem quer?

Eu pedia a Deus para mandar alguém para me tirar dali e não saberia dizer quantos dias fiquei ali daquele jeito até que ouvi umas vozes. Eu nem enxergava mais nada. Senti quando puxaram meu corpo e ouvi quando falaram: “Ele está morto!” Lembrei do Estevão. Coitado! Ele não merecia morrer daquele jeito, mas e eu que estava jogado no chão e eles não viam se eu tinha quebrado algum osso, nada. Aí fui levado, ninguém falava comigo. Eu estava muito mal, não conseguia levantar, falava e ninguém ouvia. Foi muito ruim. Eu nem sei quanto tempo fiquei daquele jeito achando que ainda estava vivo e já tinha morrido. É que fiquei dentro do corpo porque não entendia nada de mundo espiritual. A verdade é que depois fui resgatado e pude vir para cá. Eu pensei muito que deve ser bom saber destas coisas quando ainda está vivo porque a morte é uma coisa natural, afinal todo mundo morre e devia estar preparado para passar por isso. Por que tanto desespero?

E, se não quer morrer, por que não se cuida?
Por que a gente se expõe a tantos perigos?
Por que a gente se descuida da saúde?
Por que a gente come mal, dorme mal, se vicia?
Por que a gente faz mal para quem a gente ama e fere os seus sentimentos?
A gente se arrepende, mas não quer dar o braço a torcer. Aí morre de repente.
De repente? Será?

Deixa um monte de palavra por dizer, um monte de coisa inacabada e morre com sentimento de angústia e pesar. Não devia ser assim. Viver cada dia como se fosse o único. Se fizer uma coisa ruim, que prejudicou o outro, tem que correr para corrigir. Se tiver que pedir desculpa, não deixar para amanhã. Se tiver que falar que ama, falar naquele minuto porque pode não ter o outro dia para dizer. Eu encontrei um senhor aqui. Um senhor bem legal que conversou tudo isso comigo e ele disse que sente falta da família, mas não deixou nada por dizer e veio pra cá em paz. Eu queria ter dito pra Maria que ela foi o amor da minha vida para sempre, mas não deu tempo porque eu não voltei para casa. É uma pena porque a gente fica aqui frustrado do que não fez. Não ter orgulho de dizer o que sente e o que pensa quando é coisa boa, é bom demais. Pena que eu não sabia disso, enquanto estava lá com a Maria. Queria que todo mundo soubesse como tem que viver de forma simples e pensar na morte pra viver melhor a vida.
JOSÉIAS
06/07/19


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